sexta-feira, 31 de dezembro de 2004

Kitanda

No Kitanda, a frase de entrada é enigmática mas tão bonita... e há mais do apenas esta. Vale a pena ver. "Das poucas lembranças que trago da vida, África é a saudade que mais gosto de ter"


Histórias que passam por África

O promotor do LZEC relata a história do evento por partes/capítulos. A 1ª parte, a 2ª parte e a 3ª parte já estão disponíveis. Referências a Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe claro, com fotografias. Aguarda-se o desenrolar da história com a publicação dos novos capítulos e quem sabe de mais fotografias.
Outras histórias e outros autores podem ser lidos em O Mosquitto, todas relacionadas com TT e muitas passando por África.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2004

Desejos e palavras

Palavras, leva-as o vento - pensou - deve ser por isso que guardamos os desejos no fundo de nós mesmos. Assim, como não os expressamos em palavras, o vento não os pode levar e nem sequer a tempestade mais forte. E se não os conseguirmos realizar da forma que planeámos, podemos atribuir as causas a muitas coisas, mas nunca à materialização em palavras. Desta vez vou guardar bem, muito bem mesmo, os meus desejos para que ninguém os adivinhe e para que as tempestades não se atrevam a roubá-los. Fazem-me falta...

FELIZ 2005





Mais um ano termina e mais um se avizinha: a esperança que renasce, na expectativa de alterarmos o que não gostamos nas nossas vidas e de melhorarmos o que somos. Período de reflexão positiva, por excelência...
Um FELIZ 2005 PARA TODOS!!!


Comemorações: 4/11/2004

Comemorações da abertura da fronteira entre Moçambique e a Swazilândia


Fonte: Panapress
Posted by Hello

quarta-feira, 29 de dezembro de 2004

Panapress, Agência Panafricana de Notícias

Vale a pena navegar pela PANAPRESS que, além de ter notícias actualizadas do magnífico continente, tem uma excelente base de dados temática e por país.

E ainda...

um outro blog sobre África que é imperdível, pelo conteúdo que ns faz reflectir e pelas fotografias.
O Bazonga da kilumba foi-me recomendado e com razão.

África em poemas

Se o Fazendo Caminho já nos permitia sonhar um pouco, o Fazendo Caminho II faz-nos rever paisagens através da poesia e reviver sentimentos nos versos. Simplesmente lindo!!!

terça-feira, 28 de dezembro de 2004

Confissões de curta vida africana

E no meio da conversa, ela optou pelo monólogo. Tinha de falar, de contar - não tudo, apenas uma pequena parte do que foi e viveu. Ele não ia ficar a saber nada, pelo menos dos factos mais importantes, para o bem e para o mal. Mas precisava de partilhar alguma coisa do que já vivera. E com um desconhecido, as palavras fluíam melhor. Ele escutava-a com atenção redobrada, tentando encontrar pontos de ligação, apesar de não o conseguir. Talvez um dia, quando a conhecesse melhor e partilhasse algo mais do que apenas um café e duas horas da sua companhia. Se o destino o quisesse e assim o entendesse, teriam oportunidade de falar, de partilhar o passado, o presente e de construir um futuro. Se não pudesse ser, já ficava contente, afinal ela confiara-lhe algo que tinha dificuldade em relatar aos mais próximos. Por isso, escutava-a:
"A que Áfricas vou? Para já às que falam português - não sei se é bem dizê-lo desta forma, mas é a verdade. Olhe, hoje apetece-me conversar. E já que me perguntou, vou explicar um pouco o que me fez ir até África, contra tudo e contra quase todos os que fazem parte da minha vida.
Fui à Guiné, em tempos, e a Moçambique. Ultimamente tenho ido a S. Tomé, sem Príncipe porque inacreditavelmente... em 5 anos de idas e vindas nunca fui ao Príncipe, fui sempre adiando. Passei por Annobon, Guiné Equatorial, mas foi apenas uma passagem e não uma estadia. Quem sabe se poderei passar a outras Áfricas que não falem português. Penso voltar aos 3 "eleitos" e associar mais alguns no próximo ano e por mais uma temporada.
O que fiz por lá? Coisas diferentes em todos eles e, em STP, muitas. Na Guiné colaborei com uma ONG local, financiada, claro está, por instituições internacionais, na avaliação de micro-projectos de desenvolvimento local, comunitário e participativo. Foi a minha primeira incursão por África, não conhecia ninguém e resultou, na altura, numa vivência fortíssima, marcada por um sentimento de isolamento muito grande, onde senti inúmeras dificuldades pelas características sociopolíticas e económicas. Era a época do Nino Vieira e aquilo não era fácil. Apesar de ter sido muito bem acolhida e de todos terem sido muito afáveis comigo, estive todo o tempo desejosa de regressar à base e à minha normalidade, rotineira, segura e muito programada, com horários encadeados, relações pouco fortes mas seguras, uma vidinha pouco emocionante mas confortável qb. Hoje gostava de lá regressar e espero consegui-lo nos próximos anos. Penso muito naquele país, nas tradições e nas formas de vida, nas coisas que me fizeram confusão mas que hoje entendo muito melhor.
A verdade é que, se a experiência foi dura na altura em que lá estive, o "bichinho" por África ficou e a minha vontade de conhecer mais sítios, confrontar culturas e ter novas vivências foi aumentando à medida que a rotina se instalava. A vida que tinha aqui podia ser confortável, mas no fundo... era uma chatice! Sempre igual e repleta de obrigações. Profissionalmente estava bem, com uma posição também confortável, cada vez com mais responsabilidades e mais estatuto, mas... havia qualquer coisa que me deixava insatisfeita. E assim... aparece Moçambique, onde estive de passagem, em viagens de curta duração, nada de muito importante, mas tenho de reconhecer que foi um país que me marcou, principalmente a nível pessoal e do qual gostei tanto que espero também voltar.
Como já tinha o "embate" da Guiné, não me senti tão estranhamente confrontada com a cultura africana, com os modos de vida e com as posturas dos africanos. Mas, mais uma vez, não regressei igual ao que fui. Muitas coisas mudaram em mim naquelas curtíssimas estadias e creio que cresci, talvez não da melhor forma, uma vez mais. Mas amadureci, com certeza. Tal como na Guiné, mas por motivos diferentes, senti solidão, ausência, angústia e sentimentos pouco claros com os quais não estava habituada a lidar. E de novo regressei à minha rotina, com horários, estabilidade, pouca emoção mas era o que se arranjava.
De repente, meio caído do céu, aparece-me uma hipótese de começar a colaborar, pontualmente no tempo com STP. E fui. Era um país novo, que me apetecia conhecer, pequeno, muito seguro já que é conhecido como o país com menos criminalidade do mundo, com pessoas novas, que poderia conhecer e num trabalho aliciante. Destes trabalhos surgiram outras propostas e passei assim 3 anos, a ir e a vir, o que culminou com a minha mudança para lá, onde vivi durante 1 ano. Fiz investigação, colaborei com organismos públicos, fiz conferências e comecei a colaborar com uma revista local.
A partida foi muito dura, bem como o regresso porque, misturado com o facto de me ter apaixonado pelo país e pelas pessoas logo na primeira ida, deixei-me apaixonar por lá, pela pessoa errada. O regresso foi necessário, por muitasrazões. Mas não deixei de lá ir, de tempos a tempos. E espero um dia regressar, quem sabe para ficar uma longa temporada, ou quem sabe uns dias apenas. O futuro o dirá e não faz bem tentar adivinhar o futuro.
Esta é a minha história africana, resumida ao possível. Se me perguntar se gosto de África... Do que conheço, sim! Gosto muito. Da disponibilidade, da facilidade dos contactos que se estabelecem, de forma natural, das paisagens, dos sorrisos, da comida, do clima, da forma como se sente por lá. De... de... de... são tantas as razões que é difícil explicar. E posso dizer-lhe que nunca tive estadias fáceis."

Conversa, Viagens e África

- Viagens é um tema tão interessante, independentemente do destino - disse ela com ar sonhador - Os destinos das nossas viagens dizem algo a nosso respeito, não acha? Eu, ultimamente, tenho viajado mais para África, por necessidade e por gosto, por trabalho e por paixão.
- Eu também viajei por África durante muito tempo - respondeu ele com gravidade - A minha África tem vários tempos, vários destinos e várias razões... Mas hoje os meus destinos são mais "tradicionais" - respondeu com uma expressão séria - Acabei por criar raízes e espero não voltar a África. Já não consigo viver num local onde, salvo raras excepções, amanhã será certamente pior do que hoje e melhor do que depois de amanhã.
- Os destinos tradicionais são muito agradáveis, depende do momento que se vive, não é? - respondeu ela - E sabe uma coisa? Faz bem em ter criado raízes. Algum dia isso acaba por acontecer a todos.

The Polar Express

Muito recomendável para Todos os que:
1. NÃO acreditam que o Pai Natal existe;
2. Acreditam na magia do Natal;
3. São crianças;
4. São adultos (com ou sem crianças).
Vão ver The Polar Express - de preferência na versão original. É fantástico em tudo: imaginação, interpretação, efeitos, música, imagem/fotografia e... o final é fabuloso!

segunda-feira, 27 de dezembro de 2004

domingo, 26 de dezembro de 2004

Pensamentos sobre a Vida

"Não lamentes nem sintas pesar pelo que jamais pode acontecer... Em vez disso, celebra o que virá"
" (dirigia a sua vida) Com um estilo nascido do puro instinto, transmitia claramente a sua satisfação pessoal. Era uma mulher de negócios competente, que gostava de lucros e de levar a melhor. Sempre. Porém, dentro dos seus próprios termos. O que a aborrecia, ela ignorava. O que a intrigava, porém, ela perseguia, buscando respostas."
Nora Roberts, "A Ilhas das Três Irmãs"

Viver o Natal

Ao contrário da maioria dos adultos que conheço, para quem o Natal é uma obrigação apenas minimizada pelas prendas, para mim, é uma época fantástica, em que sinto que a mistura da fase infantil com o estado adulto é possível. É delicioso sentir a magia do Natal e sonhar uma, e outra, e outra vez ainda.
Gosto das luzes e de ver as iluminações nas ruas da baixa lisboeta, do cheiro, do frio e do bolo rei, de preparar os doces, o perú e o recheio, de me certificar se a mesa ficou pronta, com a vela acesa, à espera do Pai Natal, que está muito velhinho e cansado, porque vem do Pólo Norte e faz uma viagem longa só para nos fazer felizes.
Há muito que não vivia o Natal de forma tão intensa como neste ano porque tenho chegado a casa nas vésperas, vinda do calor africano onde a imagem e a vivência natalícias são bem diferentes, com a cabeça confusa de tanta mudança e sem tempo para me preparar interiormente. Mas este ano foi diferente e soube-me como a vida. Bem, muito bem mesmo!
Tive tempo para tudo o que há tanto tempo planeava - fazer a lista de Natal e pedir as dos outros, falar com o Pai Natal e acertar os presentes, comprar o perú e todos os ingredientes necessários, a abóbora e os ovos para os doces, fazer a árvore de Natal e o presépio, com a alegria da companhia dos mais novos, ouvir músicas de Natal e cantá-las baixinho porque alto não pode ser, fazer os doces no dia 24 de manhã, amassando os ingredientes numa massa que se vai transformando ao longo da manhã, ter o privilégio de provar o primeiro exemplar de cada doce, temperar o perú na véspera como manda a tradição, preparar o recheio de castanhas e assá-lo devagar, ao longo da tarde...
E no final de tudo isto e mais algumas coisas, senti-me feliz!

terça-feira, 21 de dezembro de 2004

Triste História - Em Moçambique 2

Lai recorda-se da curta estadia em Zongoene como se tivesse acabado de viver aqueles momentos. Tudo foi novo para ela, sobretudo as atenções e os cuidados que Mi revelava com ela, por tudo e por nada. Viveram-se momentos intensos num clima tranquilo, entre colegas e um desconhecido, de quem ela desconfiara tanto, mas que se ia revelando, minuto após minuto, um homem interessante. Falava com à vontade e conhecimento de qualquer tema e demonstrava estar bem informado sobre a ciência no geral, as questões sociais em particular, a literatura e a filosofia, o ambiente, a economia e a política. Conhecia todos por lá e todos o tratavam com cordialidade, o que não era estranho dado ser este o seu trabalho, mas era absolutamente reconfortante porque fazia dele uma pessoa confiável. Numa palavra era um cavalheiro.
Durante aqueles dias, Zen e Los não largaram Lai com piadas e sorrisos que a iam deixando desconfotável e sem graça, corando e revelando, de forma inconsciente, que ele não lhe era indiferente. À conta de tanto o repetirem, Lai começou a perceber algum interesse manifesto de Mi, mais do que seria habitual, e sabia-lhe bem tanta procura e atenção, sobretudo porque acreditava que esta era uma situação passageira, sem outras consequências além do conforto para o ego. A ideia de se envolver afectivamente com Mi estava longe da cabeça de Lai para quem os afectos não surgiam de forma repentina.
A generosidade dele confundia-a e por isso procurou abordar a questão em conversa privada com a amiga, com quem partilhava o quarto, como preocupação – era bom mas estranho. Ela estava habituada a viajar pelo Mundo inteiro, desde que se conhecia como gente, e nunca tinha assistido a tamanha oferta por parte do dono de uma agência de viagens. Afinal este era o seu trabalho, como poderia oferecer sem parar? Mas para Zen tudo era demasiado simples. Mi queria envolver-se com Lai e era uma forma de se aproximar dela, insinuando-se e com demonstrações de afecto. Mas Lai não queria acreditar nesta hipótese porque tudo lhe parecia demasiado básico e linear, ela nunca tinha vivido uma história assim e não seria esta a primeira, argumentava cheia de certezas.
Quando a hora da despedida surgiu, ficaram as promessas de Mi de uma visita e de um reencontro com todos, passado pouco tempo, para um prometido bacalhau à brás, que fazia as suas delícias, segundo dizia.
A viagem Maputo-Lisboa foi feita sob o efeito anestésico de uma série de evidências que Lai se recusava a reconhecer, sobretudo para os dois colegas, mas que a deixavam nas nuvens. Mi não era bonito, era um homem com um físico banal, dotado de uma proeminência estomacal que revelava alguma tendência para a bebida, aliás confirmada com a estadia em Zongoene. Mas era muito simpático, atencioso e cativante para trocar dois dedos de conversa.
O regresso ao trabalho foi penoso depois daquela temporada passada nos trópicos e o tema de conversa rolava à volta das fotografias e de lembranças alegres, descontraídas e promissoras. A troca de mails iniciou-se de imediato, tornando-se mais do que diária, quase horária e daí às conversas em tempo real através do messenger foi um passo. A ansiedade do reencontro cresceu e Lai respondia aos mails de Mi, que não escrevia a mais nenhum dos colegas, com gosto de dedicação, esperando nova mensagem, ou melhor novo texto, extenso, longo, traduzindo vontades que ficaram por satisfazer.
E o final de Setembro daquele ano, já lá vão 6, chegou e Mi aterrou em Lisboa com vontade de ver e rever Lai. Ligou-lhe numa manhã de domingo e combinaram um almoço, em casa de uns amigos dele, de sempre. Foi estranho aquele dia e auspiciou a melhor e a pior sucessão de acontecimentos que ela viveu até hoje.
Depois de um arroz de pato na casa do casal amigo, que olhava para ela com desconfiança, onde existiam duas adolescentes e uma criança, duas iguanas enormes num aquário gigante na cozinha e um hiper cão preto no pátio exterior, Lai e Mi sairam e foram passear até Sintra. Falaram durante horas, que passaram num ápice enquanto tomavam um café prolongado no Moinho, de tudo e de nada, do passado e do presente e quando chegaram às Azenhas do Mar, como se de cena de filme se tratasse, Mi agarrou-a e beijou-a, lenta e ternamente com as ondas a rebentarem mesmo atrás deles.
E lá começou mais uma história que poderia ter tido muitos finais diferentes, mas aquele que estava destinado foi infeliz, marcado por desencontros, ausências e incompreensões.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2004

Imaturo desagrado

Há um tempo atrás ter-te-ia perguntado, com o ar ofendido que só as crianças sabem expressar quando as fazem desacreditar por fim que as estrelas não são estrelas, porque me continuas a chamar imatura. Hoje percebi que devo ter crescido de repente porque não consegui traduzir-te numa expressão o meu desencantamento e também não tive vontade de fazer a pergunta. Mas desiludiste-me... sobretudo porque não percebi a razão!

domingo, 19 de dezembro de 2004

Triste História: Em Moçambique I

Numa das Áfricas por onde passou, e numa das viagens de curta duração, Lai conheceu um homem misterioso, para quem a vida era um fardo, as acções e os comportamentos dos outros um enfado. Era um homem estranho e que, pela diferente forma de ser e de estar, lhe foi despertando curiosidade.
Conheceram-se, sem que ela o procurasse ou desse, de imediato, com a sua presença. Na verdade, nem sequer simpatizara com ele de início, pela forma directa e incisiva com que a abordou, opinando sobre as melhores opções que ela deveria tomar para ocupar os tempos livres, sem que ela lhe tivesse pedido qualquer indicação.
Lai recorda-se com exactidão desse dia. Estava com uma colega, que, com o tempo, se tornou amiga, e trocavam impressões acerca de uns dias livres que tinham e que queriam aproveitar. Zen queria ir para Bazaruto, um arquipélago lá para o norte, que se revelou incomportável, pelo preço e pela distância, mas o desejo era praia, pelo que qualquer outro local, que fosse dotado de extensos e desertos areais e de um mar a perder de vista, era o ideal. Lai, por sua vez, tinha o fascínio dos animais e ver elefantes e outras espécies em habitat natural era o seu sonho. Conversavam animadamente com uma loura que as atendia, de quem Zen tinha conseguido o contacto através de uma das inúmeras primas que tinha. A loura estava impávida e quase serena a escutar os argumentos de Lai, que vestia uns calções tipo macaco, brancos, encarnados e azuis, justos que realçavam o corpo, então torneado.
De repente, aparece um homem, alto, forte e alourado que, com a propriedade do conhecedor, propõe uma alternativa que poderia servir às duas - uns dias num lodge junto à foz do rio Limpopo onde a praia seria a tónica dominante mas com possibilidade de observar espécies. Lai olhou-o de relance e pensou quem seria este a opinar sem que lhe fosse pedido. Desconfiou de imediato e não sentiu empatia. Zen gostou dele, como quase sempre acontecia, por ser uma mulher crédula, apesar de mais velha e supostamente mais experiente.
Aceitaram a proposta e acertaram os pormenores e no dia combinado, para espanto das duas e de Los, o único colega do sexo masculino que as acompanhava, quem apareceu para os levar foi o patrão, nada mais do que Mi. Lai procurou dormitar os cerca de 300 km que efectuaram até ao destino, porque não se sentia confortável com a presença de Mi, que se tornava permanente, e enquanto os outros conversavam alegramente acerca de tudo o que iam encontrando.
A chegada foi fantástica e a imagem que Lai teve foi de se sentir num paraíso onde reinava a tranquilidade e a beleza da paisagem. Os quartos eram cabanas com telhado de colmo, enquadradas por vegetação pouco densa e um rio, o Limpopo, grande, extenso, pouco límpido. Mi foi-se aproximando de Lai, criando oportunidades de maior contacto e procurando o conhecimento. A estadia foi passada em conjunto e as actividades realizadas a quatro - Lai, Zen, Los e Mi. Foi divertido e tiveram momentos inesquecíveis que, apesar de tudo o que veio depois, Lai não apagará da memória, pelo encantamento reencontrado.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2004

Natal em África

Há algum tempo que não vivia a época natalícia de forma intensa. Nos últimos anos tenho estado em África, no caso em São Tomé, chegando a Lisboa nas vésperas de Natal. As compras estão sempre feitas, o que não me obriga a recorrer aos centros comerciais apinhados de gente à procura da compra ideal no dia 24. A verdade é que tenho chegado e a sensação é estranhíssima: ver as ruas iluminadas, as pessoas num movimento imparável, o cheiro a castanhas assadas por quase todos os sítios por onde se passa, o trânsito pior do que é hábito.
Tenho-me poupado a algum stress mas tenho também perdido a parte boa: programar as festas, pedir as listas de desejos, para "falar com o Pai Natal", ver os ajudantes de Pai Natal nas ruas e relembrar a infância, quando o mistério nos fazia ficar acordados só para o ouvirmos, sem termos autorização de ir até à lareira. A verdade é que nem sequer tenho tido coragem de fazer os doces, pelo que os tenho comprado feitos e nas reuniões familiares sinto-me alheada das conversas e dos risos. E a sensação que tenho tido é muito estranha, de desenquadramento e de necessidade de ter mais tempo, sem ter o direito do pedir, para me adaptar à "movida" natalícia.
Em África, o Natal é vivido de forma muito diferente: não há frio e as folhas não caem das árvores; não há homens a vender castanhas e as ruas estão pouco iluminadas; não há pinheiros para enfeitar, nem musgo para o presépio; a "loucura" das compras não se coloca porque há pouco para comprar. É, para mim, a época mais difícil de viver em África, sobretudo por não ter a minha família por perto.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2004

Dia de Sol

Gosto: dos dias de sol, sempre que as nuvens e a chuva vão de férias para outro qualquer local e o vento está de greve; de sentir a energia dos raios solares que progressivamente me aquecem a alma e os sentidos; de me esperguiçar em frente ao mar, azul, denso e calmo; dos pores do sol em céu límpido, quando as tonalidades fortes, rosadas, amareladas e azuladas me inundam a visão. Sinto-me feliz quando, mesmo no inverno, olho o céu e sinto que os Deuses se lembraram de me transmitir paz e tranquilidade. E, se tenho esta agradável sensação quando estou sózinha, mais feliz fico quando posso partilhar a alegria do bem estar com pessoas de quem gosto, amigos de sempre e outros mais recentes, que conheci pelas mais diferentes paragens, sobretudo por essas Áfricas, tão densas e ricas em emoções e formas de sentir, onde reaprendi a apreciar uma paisagem e um pôr do sol.

terça-feira, 14 de dezembro de 2004

Avaliações

A pior tarefa da actividade docente é, em minha opinião, a correcção de testes/trabalhos/exames, seguida da obrigatória avaliação quantitativa. É terrível atribuir uma nota, entre 0 e 20, à prestação de alguém e, além de tudo o mais, é uma tarefa muito cansativa, por vezes exasperante...

domingo, 12 de dezembro de 2004

Saudades de África

De tempos a tempos sinto saudades de África, pela ausência de um conjunto de coisas que se vivem lá e que cá não se têm, sobretudo quando o frio me enregela os movimentos e me esfria os sentidos.
Tenho saudades do calor intenso salpicado por uma densa humidade, do cheiro misturado a terra molhada com frutas frescas, da sensação que por lá o tempo pára, permitindo-nos vivências redobradas, da ilusória receptiva disponibilidade que se procura ter entre todos, sem na verdade se ter.
Tenho saudades das praias de águas tépidas e transparentes habitadas por uma infinidade de espécies, das areias finas e dos coqueiros que, de vez em quando, libertam de forma natural um fruto, emitindo um som inigualável.
Tenho saudades da vegetação e dos animais, da vida ao ar livre e em contacto com a natureza, onde se aprende por observação directa, escutando as explicações de quem nos parece ter nascido ensinado, com dons e conhecimentos próprios, só possíveis naquelas terras, que vão sendo transmitidos de pais para filhos, sem paragens.
Tenho saudades de rir sem parar, de me sentir criativa quando procuro conchas ou cocos para decorar interiores, depois de os tratar e envernizar, de ouvir músicas ternas e envolventes, de inventar receitas para partilhar com um alguém que sinto como especial.
Tenho saudades dos mercados e das palaiês, das frutas e de tudo quanto se pode fazer com elas, dos peixes com nomes estranhos e do marisco com os mesmo nomes e aparências diferentes.
Tenho saudades de sentir saudades da civilização e do desenvolvimento, do cinema e do frio, dos livros e de vinhos caros, do conforto e de um centro comercial onde se possa gastar dinheiro a comprar coisas que nunca nos farão falta.
Tenho saudades até um dia voltar.

sábado, 11 de dezembro de 2004

Guardar o Encantamento

(Para o BLU)
Há momentos na nossa vida - dias, semanas, meses e anos - que, por terem sido tão felizes, queremos guardar para sempre, com a ternura das primeiras impressões, o entusiasmo dos primeiros olhares, os sorrisos abertos permitidos pelas primeiras trocas de palavras, as primeiras gargalhadas francas, seguidas de todas as outras, e o arrepiar dos sentidos com os toques iniciais. Quando pensamos no que veio depois questionamo-nos com frequência se terá valido a pena tanta entrega e desejo alimentado. E o balanço é: SIM!!!! - pela certeza de termos vivido momentos únicos de encantamento que nunca nos poderão ser retirados, por mais ou menos que venhamos a viver com um outro alguém.
O que é verdadeiramente maravilhoso numa relação amorosa é sentirmo-nos encantados com o Mundo que o Outro nos ensina a descobrir, as coisas que sempre estiveram à nossa frente e que antes não víamos, pela simples razão que Ele não estava connosco. É fantástica a possibilidade consciente de partilharmos ideias, pensamentos, visões, situações que jamais se repetirão porque cada momento só se vive uma vez. É magnífica a perspectiva de nos entregarmos e de alguém se entregar a nós, num sentimento recíproco e vivido na mesma altura, com intensidade e dedicação, com uma vontade espontânea e natural.
E tudo isto, continuo a querer acreditar que, vivi contigo, por isso quero guardar comigo o encantamento do primeiro entusiasmo, que sei que não se poderá repetir, o desejo criado com o primeiro toque, a descoberta partilhada de um Mundo que se nos apresentava como novo, apesar de não o ser. O balanço foi positivo. A ternura com que te olhei uma, e outra e tantas vezes, a compreensão com que escutei as tuas palavras, das mais meigas e doces às mais duras, o desejo que despertaste em mim, até sentir por ti um sentimento que até hoje ninguém me despertara, tudo isto e tanto mais procuro guardar dentro de mim, para sempre. Terna e docemente, com encanto.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2004

Quadrante, CCB

Não me canso do CCB. Confesso que, no início, a aquitectura me chocou um pouco, mas com o tempo, por assistir a espectáculos e visitar exposições temáticas, de quando em vez, fui-me habituando ao espaço e hoje considero-o mesmo muito agradável. Principalmente porque o "Quadrante" permite longas conversas sem estarmos, a toda a hora, a ser confrontados com novos consumos. A filosofia é viver o espaço, tomar um café ou uma água, ler um livro, trabalhar descontraidamente ou conversar, sem a sensação dos vizinhos das mesas próximas estarem a sorver as nossas palavras. E a possibilidade de nos sentarmos na esplanada, virados para o rio, tendo como cenário o fantástico Padrão dos Descobrimentos, permite-nos viver sensações inigualáveis, porque maravilhosas. O "jardim das oliveiras", que não sei se é denominado mesmo assim ou se tem outro nome, é um espaço de referência, pela beleza e pela harmonia das formas, pela tranquilidade da fonte e pela presença dos pardais. Deslumbrante!

Pintura

Hoje o céu foi pintado por mãos sábias e inspiradas, criando um cenário digno dos eleitos. Permiti-me usufruir de um deslumbrante pôr-do-sol, de um céu pintalgado de tonalidades, intercalando o amarelado com o rosado num fundo azul claro, marcado por ligeiras nuvens brancas, colocadas em faixas paralelas e quase simétricas. Sózinha contemplei aquela imagem e senti-me invadida por uma inexplicável e irrelatável tranquilidade, um sentimento reconfortante de segurança e protecção celestial. Foi estranho mas muito agradável. E esta imagem só pode ter sido possibilitada por um pintor divino.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2004

África...

um magnífico continente de contrastes que se observam e que se vivem...



Posted by Hello

Revista "piá" (São Tomé e Príncipe) de parabéns

A revista "piá" (São Tomé e Príncipe) faz dois anos este mês. De parabéns estão os dinamizadores da iniciativa que têm trabalhado de forma incansável, com persistência e determinação (em particular a Mena e o Nilton Dória), os colaboradores fixos ou pontuais, através das investigações e conhecimentos partilhados nos textos cedidos e publicados, e todos os leitores que têm permitido que este jovem projecto de comunicação social/informação santomense siga em frente.

terça-feira, 7 de dezembro de 2004

Ylang Ylang

O Ylang Ylang é uma planta muito conhecida e apreciada pelas propriedades que lhe são atribuídas e pela diversidade de utilizações possíveis: a cosmética, a aromoterapia e a medicina alternativa. É denominada por Cananga Odorata Genuína e dita "flor das flores", "flor das pétalas douradas", "rainha das flores", "árvore do perfume". É linda e o aroma que emana é fantástico e inesquecível. As primeiras que vi foram em São Tomé e Príncipe, um pouco espalhadas por todo o arquipélago. Mas a imagem mais fenomenal é a da varanda da Casa Azul na Roça Agostinho Neto, com chuva torrencial - o som forte da chuva e o aroma intenso e envolvente do ylang ylang ficarão para sempre retidos na minha memória. É esta flor que os fabricantes de perfume tanto procuram. Fantástica porque olhando para ela não é mais do que uma florzinha igual a 100.000 florzinhas. Mas quando nos habituamos, passa a ser a nossa florzinha...



Posted by Hello

Triste Lucidez

Percebera por fim, ou talvez desde sempre, que ele não chegara a amá-la. Nem a ela nem a nenhuma das mulheres que passaram pela vida dele. Amava-se principalmente a si próprio e, por tanto se amar, necessitava de ser amado por muitas mulheres, tantas quantas conhecesse, e o que o fazia viver era a perspectiva de haver um mundo por descobrir, um universo feminino infinito e cheio de potencialidades. Todas eram tão parecidas e, na verdade, tão diferentes. Essa ideia, apenas essa, seduzia-lhe os sentidos, fazendo com que se rendesse a um encanto, a outro e outro ainda. E ela tornou-se na mulher mais consciente que algum dia conhecera, triste mas consciente.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2004

Real Café

Magnífico, brilhante, a repetir e a recomendar!
Fui convidada para jantar num restaurante chamado Real Café, por cima da Real Fábrica, na Rua da Escola Politécnica, em Lisboa (213870648). Nem queria acreditar porque eu conhecia bem aquela casa - viveu lá uma amiga minha de infância/adolescência e muitas vezes, quando ia ou vinha do Britânico, subi aquelas escadas para conversar um pouco.
Subimos as escadas e, para meu maior espanto e surpresa, se era possível..., dou de caras com um dos gerentes, o Sr. Rogério do Luar da Boavista, da Hatari e da Confeitaria do Marquês. Era verdade, muitas vezes almocei e jantei no Luar da Boavista com colegas, quando estava na UAL. A festa foi recíproca já que era cliente habitual antes de ir para S. Tomé viver, e sempre fui muito bem tratada. Desde o meu regresso e porque estou um pouco "longe" da Boavista, não os visitara, pelo que este reencontro foi marcado por grande contentamento.
A comida é excelente, bem confeccionada e com gosto, com uma boa selecção de vinhos, o atendimento magnífico e o espaço simples mas de requinte agradável.

Anomalias

Por falar e pensar tanto em África, fui ter, vá-se lá saber como, ao Anomalias. Simplesmente magnífico nas fotos que apresenta, nas informações disponibilizadas e nas pistas de reflexão. Faz pensar...

domingo, 5 de dezembro de 2004

Guiné, uma vez mais

Um amigo parte amanhã para a Guiné, um amigo que conheci em São Tomé, já nem sei há quanto tempo. Homem da agricultura, do café e das plantações, das longas caminhadas pela floresta, dos jardins e das flores, das explicações detalhadas e das conversas respeitadoras. Um homem como há poucos, sempre com uma palavra amiga e um olhar mais do que compreensivo, sem segundas intenções.
Hoje escrevi-lhe para lhe desejar boa sorte nesta nova fase africana - ele não conhece a Guiné - porque tudo vai ser novo para ele. A Guiné é uma África bem diferente de S. Tomé, é mesmo África, pela dureza das vivências, pela densidade da paisagem, pela complexidade das culturas, pela diversidade étnica. E quando lhe escrevi lembrei-me do que por lá vivi. Foi de tal forma marcante que ainda hoje, passados quase 10 anos, penso naqueles sorrisos e naqueles olhares, que se me pedissem para descrever numa palavra, diria que o sorriso é terno, o olhar intenso e as faces meigas.
Espero que ele se dê bem, que tenha cuidado com as aventuras em meio natural - as cobras, os jacarés nos rios e as formigas, são os principais riscos. Além do paludismo, mas esse ele já conhece.
E espero que coma muitas mangas, das que abrem, das fibrosas, das verdes, das vermelhas, das amarelas e das laranja, de todas porque são sumarentas e magníficas; ostras; camarão; ananás; banana; coco; mancarra (o amendoim); caju, fresco e seco; e tudo e tudo. E que não olhe muito para o céu para não se confrontar a toda a hora com os jagudis (abutres) que pairam sem parar. Que aproveite e se divirta, com cuidado e cautelas, que dance muito e passeie mais.

Olhar

"Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação"

Mário Quintana

Conversa profunda...

- Casas comigo? - perguntou a jovem rapariga apaixonada
- Agora não tenho tempo - respondeu o namorado enquanto a abraçava e beijava, procurando dar andamento aos afectos
Ela afastou-se e com tom aborrecido respondeu:
- Não percebo. Afinal, porque é que os homens se dão ao trabalho de andar a correr atrás das mulheres durante tanto tempo, com dedicação e promessas infinitas, se depois não querem casar com elas...?!
- Mas olha lá, já viste que os cães também correm atrás dos carros, às vezes durante muito tempo e por distâncias longas, ficando cansados, mas na verdade... não os querem conduzir!!! - respondeu ele prontamente

sexta-feira, 3 de dezembro de 2004

Kho Sante



Posted by Hello

O que é um Amigo

Em África há uma enormíssima contradição, a maior de todas, para os portugueses que procuram (con)viver uns com os outros - todos são "grandes amigos" mas em nenhum se pode confiar verdadeiramente. Fui jantar com uma amiga, que conheci numa das Áfricas pelas quais passei, e falámos sobre as amizades. Dizia-me ela que era estranho que no nosso grupo de amigos houvesse tanto maldizer, comentários sobre a vida alheia, mas sem que os próprios tivessem conhecimento directo, não se podendo portanto defender. Eu já sabia, até porque fui, entre outras pessoas, um dos alvos dessas conversas. E, a dada altura, tudo passou a ser demasiado óbvio.
Amigos por lá fiz poucos, tal como toda a gente. Mas no que toca a conhecidos... fiz muitos, conhecia toda a gente e toda a gente me conhecia. Ela estava desagradada porque não compreendia como, pessoas que estavam permanentemente juntas, que não faziam nada umas sem as outras, que partilhavam momentos - bons e maus - vivências e tudo o que fosse, podiam criticar-se tanto, sem frontalidade, sem abertura, sem sinceridade. Parecia-lhe uma atitude desonesta, por parte desses "amigos".
Vim para casa a pensar que a vida é muitas vezes injusta e severa, que as provas pelas quais temos de passar não nos facilitam os maus momentos, agravando-os e que as pessoas em quem procuramos confiar, em certos contextos, não merecem um minuto do nosso pensamento, quanto mais dias, semanas e meses de convívio. Pensei no que ela teve necessidade de me contar ao fim de tanto tempo, e falei pouco, como seria de esperar dado o tema da conversa ser sensível. E lá fui reler um dos livrinhos de bolso, temáticos.
"Um amigo é alguém que pensa em ti e te ouve e te ajuda a saber o que tu és. Alguém que te ajuda a descobrir as coisas, alguém que está contigo e não tem pressas. Alguém em quem tu podes acreditar".
in Um Amigo, Editorial Presença

quinta-feira, 2 de dezembro de 2004

Silêncios, palavras e gestos

E no silêncio olhaste-me, procurando transmitir-me a ternura que me roubaste há uns tempos, como se o olhar fosse suficiente para apagar actos antigos, inqualificáveis e injustificáveis. Mas olhando-me, e revendo os minutos de infelicidade, não conseguiste proferir uma única palavra. Os encontros eram marcados pela cobrança retardada, pelos gestos desencontrados, pelas vontades incompletas e fugidias, pelas palavras desejadas mas não ditas, pelos gestos de afeição que nunca chegaram a ser expressados. Na impossibilidade de nos fazermos entender e aceitar, ficámos a ouvir os Toranja que cantavam na rádio:
"Não falei contigo com medo que os montes e vales
que me achas caíssem a teus pés...
Acredito e entendo que a estabilidade lógica
de quem não quer explodir faça bem ao escudo que és...
Saudade é o ar que vou sugando
e aceitando como fruto de Verão nos jardins do teu beijo...
Mas sinto que sabes que sentes também
que num dia maior serás trapézio sem rede a pairar
sobre o mundo e tudo o que vejo...
É que hoje acordei e lembrei-me que sou mago feiticeiro
Que a minha bola de cristal é feita de papel
Nela te pinto nua numa chama minha e tua.
Desconfio que ainda não reparaste
que o teu destino foi inventado por gira-discos estragados
aos quais te vais moldando...
E todo o teu planeamento estratégico de sincronização do coração
são leis como paredes e tetos cujos vidros vais pisando...
Anseio o dia em que acordares
por cima de todos os teus números raízes quadradas
de somas subtraídas sempre com a mesma solução...
Podias deixar de fazer da vida um ciclo vicioso
harmonioso do teu gesto mimado e à palma da tua mão..."
E tentaste tocar-me, uma vez mais, e beijar-me, apesar da minha resistência, quando as palavras relatavam o que sentias e que não conseguias expressar:
"Desculpa se te fiz fogo e noite sem pedir autorização
por escrito ao sindicato dos Deuses...
mas não fui eu que te escolhi.
Desculpa se te usei como refúgio dos meus sentidos
pedaço de silêncios perdidos que voltei a encontrar em ti..."
E olhando-te, agora eu, percebi que fui apenas o refúgio dos teus sentidos, um pedaço de silêncios perdidos que tentastes voltar a encontrar em mim... apenas...

Projectos, novos projectos

De repente, os projectos apareceram e, como de costume nestas coisas, todos ao mesmo tempo. Ao princípio temos a sensação que não conseguiremos dar conta de tudo, mas com o tempo, com uns bons exercícios de sistematização e de relaxamento mental, percebemos que somos muito polivalentes e que as nossas capacidades são infinitas. E sentimo-nos vivos de novo, revitalizados, felizes.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2004

Aprendi

Em África aprendi a ouvir mais do que falar. Saber ouvir o que os outros arranjam para nos dizer, apesar de não haver nada de novo, só porque não sabem lidar com o silêncio, é uma grande virtude. E, além do mais, protegemo-nos muitíssimo, o que é magnífico. Basta sorrir para darmos a entender que, sem o sentirmos, partilhamos da mesma preocupação - falar, comentar, criticar e destruir a vida alheia. É o savoir vivre africano...

Paz

Na verdade, uma das coisas que mais procuro é viver em paz, comigo e com os outros, não causar estragos e não me intrometer na vida e nos relacionamentos de quem quer que seja. Quero viver tranquilamente, depois de me ter reconciliado com a minha consciência. Estou em paz e é assim que quero estar.

terça-feira, 30 de novembro de 2004

Janus, Anuário de Relações Exteriores

Recomendável ver o JANUS, Anuário de Relações Exteriores on line

Explicações sobre os objectivos da conquista - recurso a analogias

Conversava com um amigo de sempre, num dos dias de angústia emocional e cepticismo afectivo-relacional, um dos poucos homens sobre os quais posso dizer que na sua presença me sinto assexuada, já que não nos despertamos o mínimo interesse sexual, nem sequer emotivo. Confiamos totalmente um no outro, falamos acerca de tudo sem problemas de nos sentirmos avaliados ou de sermos criticados. Somos confidentes e conselheiros.
- Afinal diz-me, o que quer um homem que se esforça, de forma quase sobrehumana, para conquistar uma mulher, largando-a de seguida? Não a quer verdadeiramente ou desinteressou-se simplesmente? Ou...? - perguntei-lhe
- Há de tudo, minha linda. Um homem é um caçador nato. Pensa que desde sempre, e nos mais diversos contextos, o homem sente necessidade de capturar presas e, quanto mais dificeis mais apetecíveis...
- Uma presa? Dizes que um homem olha para mim como se fosse uma peça de caça? Só isso??? - indaguei incrédula, desiludida e profundamente desagradada com a analogia
-
Não te choques nem fiques triste. Se perceberes como os homens sentem, talvez seja tudo menos difícil. Tenta ouvir-me com calma. O objectivo de um homem quando vai à caça não é normalmente encher o frigorífico para se alimentar durante o ano. O gozo está na dificuldade em identificar a presa, no esforço e na luta, na estratégia e na perspicácia. Uma vez conseguida e capturada, o interesse esmorece e a preocupação é encontrar outra, definir nova estratégia, conseguir nova captura. O animal caçado serve-lhe sobretudo como troféu, para mostrar aos outros a beleza do exemplar, comprovando as suas capacidades de caçador e essas percebem-se pelo número de animais caçados. Já pensaste o trabalho que dá, depois da caçada, arranjar os animais e cozinhá-los?
- Mas isso é tão básico, primário, primitivo. E os sentimentos verdadeiros onde ficam?
- Olha, és tu que gostas de ir à pesca com amigos, não és? Pois bem, qual é o prazer da pesca? Não o teu, que nem cana tens, mas dos teus amigos que pescam?
- A possibilidade de estarem ao ar livre, junto ao mar, a contemplar, a conversar...
- Contemplar o mar, colocar a minhoca, lançar a cana e aguardar. O prazer está na expectativa que se cria durante a espera, até se saber se o peixe morde. Quando morde, queres saber se vem peixe ou algas, se for peixe, se é grande ou pequeno, bom para comer ou para devolver ao mar... Mas quando morde e o retiras, o interesse passou porque a tarefa foi concluída. Voltas a colocar nova minhoca, a lançar a cana e a aguardar. Para quê? Para pescares mais um, e outro e ainda outro.
-
Mas essa é uma imagem terrível. Sinto-me comparada a uma galinhola ou a um sargo. Na melhor das hipóteses a uma perdiz ou a um linguado, mas na maioria das vezes a uma tainha, pequena e sem graça, que foi atrás do isco e ficou presa no anzol...
- É isso mesmo, vês como percebeste? É preciso aprenderes que podes ser tu a ludibriar o pescador ou o caçador. Passas à frente deles sem seres apanhada ou ficares presa no anzol porque sabes distinguir.
- Mas isso não é amor, não há sentimento nem afecto, nem paixão...
- Pois não. Na conquista não há sentimento, só emoção. Os afectos podem surgir depois, desde que haja vontade, dedicação e esforço mútuo com entrega. Mas não te confundas, quando um homem sentir amor por ti, tu vais perceber que, com ele, não é mais uma conquista e que tu não és, para ele, mais um troféu de caça ou de pesca porque representas mais do que um simples exemplar.

Incompreensão

Desde que me lembro de existir como mulher que a psicologia masculina me confunde. Até hoje ainda não consegui entender alguns comportamentos no que respeita ao interesse que eles nutrem pelas mulheres. Fixam-se, interessam-se, embasbacam, derretem-se e, se se sentirem certos do sucesso da conquista, declaram-se com palavras únicas e promessas correspondentes. Podem ser deliciosamente encantadores, e no geral são-no sempre que querem e a isso se predispõem. Mas, logo em seguida, esmorecem, esfriam, enregelam, desinteressam-se e desaparecem como se nada fosse. E se aquelas que foram alvo de intensa dedicação reclamam a atenção a que foram habituadas, eles sacodem e fogem, demonstrando sentir-se fartos de tamanha e excessiva envolvência.
Serão eles inconstantes, inconsistentes, fúteis pela superficialidade relacional e afectiva, egoístas? E o que procuram afinal?

domingo, 28 de novembro de 2004

Palavras simples ao Homem que...

quiser conquistar o coração de uma mulher...
Considerações a propósito das imparáveis tentativas de um amigo em encontrar relação afectiva estável, sincera e satisfatória.

1. Não confundas as mulheres e as relações. Uma coisa é a sedução para uma noite ardente e inesquecível, vulgo "engate"; outra coisa é a conquista para algum tempo sem comprometimentos, vulgo "relação a prazo e com fim anunciado" ou "caso"; outra ainda é o enamoramento. Tens de saber distinguir as protagonistas das três situações sob pena de, confundindo-as, as ofenderes e azedares os humores, perdendo oportunidades.
2. O enamoramento requer tempo, preserverança e dedicação, pelo que, quando acontece, raramente resulta em equívoco ou relação-engano, ao contrário do que sucede com as outras situações.
3. Não corras atrás de 30 mulheres, nem tentes seduzir várias como garantia de maior sucesso, pensando que umas não saberão das outras. Não menosprezes os canais de informação femininos e muito menos a intuição. Se aquela em quem despertas interesse, e em relação à qual sentes desejo, souber ou desconfiar, perderá a confiança que depositou ou quis depositar em ti.
4. A perda de confiança de uma mulher num homem requer por parte deste o dobro do esforço na reconquista, o que não é compensatório. O tempo dispendido com desculpas e justificações pode ser utilizado afectivamente de forma mais produtiva e rentável.
5. Evita magoar os sentimentos da mulher por quem sentes afeição. Se isso acontecer e ela também tiver sentimentos em relação a ti, sentir-se-á confusa, terá dúvidas infinitas e o medo de se envolver contigo será maior do que o desejo que lhe despertas. Poder-te-á perdoar um dia mas terás de lhe provar que ela é a verdadeira, o que requer, no geral, grande complexidade. Não deixes dúvidas dos sentimentos que tens à mulher que amas.
6. Tenta ter um comportamento recto, transparente, sê verdadeiro e honesto.
7. Não forces, logo de início, o envolvimento sexual se tiveres interesse sincero numa mulher porque para ela é fundamental outros sentimentos tais como a amizade, a confiança, a cumplicidade, a intimidade. Só na sequência surge o desejo e o sexo.
8. Faz rir a mulher que desejas, cria empatia e fomenta um ambiente ligeiro, faz com que ela deseje a tua companhia e sinta a tua falta nas mais diversas situações.
9. Nunca dês a entender a uma mulher que na tua vida existem outras mulheres e que divides os sentimentos que tens por ela com outras. A mulher que quiseres e desejares deve sentir que para ti é a única.
10. Uma mulher não é um recurso na ausência de outras possibilidades melhores. Ela é a tua escolha e deve sentir-se como tal.

Homens e mulheres...

Gosto de discutir sentimentos com os homens porque normalmente aprendo sempre qualquer coisa. Não me considero sexista nem feminista. Longe disso! Mas é verdade que os homens têm com alguma frequência concepções particulares acerca do mundo dos afectos.
No outro dia, conversava com um ex-amigo/re-amigo/só amigo (?!) - passo a explicar: foi meu amigo em tempos, mais do que amigo, pretenso companheiro, mas deixou de o ser por ironia do destino e das suas próprias acções, pouco razoáveis e de grande complexidade. Mas desde há um tempo que andamos a ver se ficamos amigos de novo, não pretensos companheiros, só amigos. Mas nem sempre a amizade entre homens e mulheres é fácil e o entendimento dos afectos e das relações é bem diferente entre nós.
Bem, falávamos de afectos e de relações - para ele, um homem e uma mulher que são amigos representam uma realidade complexa que ultrapassa com facilidade essa fronteira, transformando-os em amantes. Para mim, a amizade entre homens e mulheres é não só possível como normal e muitíssimo vantajosa para ambos, desde que não haja outras implicações. Para ele, quase tudo se resume a sensualidade, sexualidade e proximidade táctil. Para mim, estas relações resultam da possibilidade de partilhar confidências.

E até pode ser bom

E até pode ser bom não estarmos apaixonados, não sentirmos a ansiedade que antecipa um encontro a dois, não nos angustiarmos com os atrasos que têm quase sempre justificações difíceis.
Pode ser bom não nos colocarmos sempre em segundo lugar com valorizações insensatas do objecto dos nossos mais profundos sentimentos que, quase sempre, são descabidas porque não correspondidas.
É seguramente bom termos tempo para gostar de nós, para nos olharmos ao espelho e sentirmos que o reflexo da nossa imagem é muito mais bonito do que algum dia imaginámos, que a nossa própria companhia é agradável e que não se está nada mal sózinho. Não para sempre, mas de vez em quando. É bom saborearmo-nos, ouvirmos a nossa consciência, deliciarmo-nos com uma receita que fizemos só para nós, gozarmos o silêncio, o espaço e o tempo. Porque acima de tudo, nós valemos a pena!

Para alegrar um dia chuvoso e triste



Posted by Hello

Chuva

Hoje chove e faz frio. Os Deuses estão tristes e choram muito, sem parar. As lágrimas são frias, geladas, indiciadoras de um desconforto sem fim. Apetece-me acender a lareira e ficar enroscada num sofá a ouvir a lenha a crepitar. Mas não me precavi e não comprei lenha... Resta-me ver a chuva cair e imaginar as razões de tamanha tristeza celestial. Valerá a pena tanta lágrima?

sábado, 27 de novembro de 2004

A Lua

Ainda me espanto comigo mesma. Eu, uma fiel admiradora do céu, de dia e de noite, do feitio das nuvens e das tonalidades do nascer e do pôr do sol, das estrelas e constelações, mas sobretudo da lua, nas diferentes fases, tomei consciência que não o observo como ele merece há muito muito tempo. E percebi isso ontem, na aula de hidroginástica, quando no final da aula a professora recomendou que não fossemos dormir sem contemplar a lua porque estava no seu auge, redonda, cheia, gorda e linda de morrer. À noite, quando levei o cão para o último passeio do dia, olhei para o céu e vi apenas a sua luminosidade porque a humidade era tão intensa que não permitia distinguir as suas formas. Em vez da lua como companheira para uma conversa introspectiva tive apenas um céu cheio de um iluminado nevoeiro.

sexta-feira, 26 de novembro de 2004

Definição

Estavam a conversar, à medida que ela bebericava chá verde e ele bebia um whisky bem servido, num ambiente cordial e tranquilo. Tentavam falar seriamente acerca de afectos, apesar de ser um tema de abordagem difícil para os dois, pelo que a brincadeira acabava por surgir de forma espontânea para amenizar os desencontros verbais.
Há uns anos o destino fez com que se cruzassem algures nesse mundo, acabando os afectos por se revelar, através de aproximações sucessivas chegando ao envolvimento que ambos desejaram. Amaram-se de forma desigual e entregaram-se rápida e fugidiamente. As diferenças, os desencontros e o desentendimento surgiram, perpetuando-se por uma eternidade marcada pela mágoa e pela incompreensão.
Um dia cruzaram-se de novo e reaproximaram-se. Falavam horas, sempre que se encontravam, sobre tudo e sobre nada. Parecia haver intimidade entre os dois mas na verdade não se conheciam, nos desejos e aspirações, nos receios, nos estilos de vida, nos projectos...
E apesar dos momentos passados a dois, hoje eram simplesmente dois desconhecidos. Procuravam definir, um ao outro, as pessoas que mais os marcaram e com quem tinham partilhado a vida, pensando assim ficar-se a conhecer um pouco melhor. Ela falou pouco porque os homens da sua vida eram poucos e ele, com curiosidade de ouvir o que ela pensava a seu respeito, perguntou-lhe:
- E a mim, numa expressão, como me defines?
- Tu... tu és um sonhador...

Dias de sol

Os dias de sol são magníficos bálsamos para a alma e o coração, sobretudo depois de se ter feito exercício físico durante toda a manhã. O privilégio foi para a hidroginástica em detrimento dos alongamentos, afinal as duas aulas de ontem deixaram-me o corpo partido, e a ginástica dentro de água aquecida é absolutamente relaxante.
Estes dias criam em mim uma certa nostalgia africana, desta vez por razões absolutamente "inócuas" - as caminhadas pela floresta, as idas à praia para descansar e observar peixes e as "minhas" preferidas tartarugas... Bem, o site das Caminhadas e Descoberta em STP está a ser reactivado e em breve serão ali publicados artigos sobre ambiente, espécies e outras curiosidades...

quarta-feira, 24 de novembro de 2004

Pintura de Eduardo Malé



Posted by Hello

O melhor

O que será melhor:
1. contar o que fizemos, o que sentimos, como somos, o que queremos?
ou
2. ocultarmo-nos por detrás de uma auréola opaca mas luminosa que evidencia apenas o que de melhor temos?
Seguramente a primeira opção é a mais honesta mas a que mais problemas nos cria. A segunda a mais inócua mas a menos verdadeira. A dificuldade implícita à escolha estratégica persiste...

Afirmação

Porque serão as crises familiares momentos privilegiados de afirmação pessoal?

segunda-feira, 22 de novembro de 2004

"Cores de um Sentimento"

Pintura de Eduardo Malé (pintor santomense), STP



Posted by Hello

Supra Desilusão

É quando sinto que já não me podes fazer mal porque já o fizeste todo,
nada mais espero de ti porque a ansiedade diária passou.
É quando o cansaço é tão intenso que quem corta a conversa,
se despede e se ausenta, sou eu.
É quando olho para ti com a distância
que permite valorizar os teus defeitos e minimizar as tuas qualidades
e, olhando para mim mesma,
questiono-me o que terei eu andado a tomar para um dia te ter achado graça,
ficando de ti tão dependente.
É a consciência do não retorno, pela impossibilidade e pela falta de vontade,
apesar do sentimento que se guarda nos cantinhos de nós mesmos.
E é isso que sinto, a incapacidade de voltar atrás.
Porque não acredito mais no que dizes, no que fazes,
não sei se algum dia quiseste e nem sei porque é que eu própria quis.
E contudo, amo-te...

Desilusão

Uma, apenas mais uma. Que importância tem uma no meio de outras tantas? De todas as outras anteriores, maiores, mais profundas, mais importantes? Desta sairei bem, certamente, porque não me vou sequer deixar abater pela mágoa.

SE...

Durante o dia, a mesma ideia passava-lhe pela cabeça várias vezes:
"E se tivesse aceite os convites promissores que ele me fizera tantas e tantas vezes? Como seria? Onde estaria eu agora? E a fazer o quê? Seria eu mais feliz do que estou hoje? Teria ele tido coragem e vontade de mudar algumas coisas por mim? Poderia ele ter transformado a vida conturbada e cheia de mistérios que tem? Por mim? Só por mim?"
E as respostas vinham natural e sucessivamente, seguidas umas às outras:
"Não, não mudaria nada por ti. Não, não abdicaria dos esquemas e das redes relacionais que gosta de manter, porque fazem parte dele. Não, não te faria feliz, porque não pode e não quer. Não, não tem coragem nem vontade. Não, não és importante para ele, não o suficiente, e apesar de ele dizer que sim. Sempre o vai fazer e dizer para te tentar convencer, mesmo sem querer. Ele é assim e quem assim é, não muda. Onde estarias, como e a fazer o quê? Não questiones, se já sabes as respostas. Conclusão, fizeste o melhor por ti quando escolheste, quando optaste, quando decidiste que a única resposta possível era: NÃO!"

domingo, 21 de novembro de 2004

O Diário de Bridget Jones voltou

Não é por ser minha homónima, por representar a minha geração com uma correspondência e precisão indescritíveis ou por traduzir com humor e criatividade as maleitas sociais e relacionais da transição do século: a solidão relacional; os afectos não correspondidos; os sonhos desfeitos; as desilusões femininas provocadas pelos "bons malandros" deste mundo e vividas (sentidas) de forma hiperbolizada pelas moças solteiras e boas raparigas.
Mas o filme, apesar de não ser fiel ao livro na totalidade dos acontecimentos, é delirante e bem disposto. Faz do Mark Dirce um "príncipe" só possível em sonhos e da Bridget a típica trintona solteira em busca do afecto verdadeiro. Por estarmos nas proximidades do Natal, essa época mais do que magnífica para os sonhos e as ilusões, vale a pena ir ver porque o sorriso no final é garantido...

sexta-feira, 19 de novembro de 2004

A hora da refeição em STP

Uma das excelentes recordações que tenho de São Tomé são as refeições, aquelas em que usufrui da companhia de pessoas especiais e que propiciaram conversas longuíssimas, com temas aprazíveis, num tom misturado de ternura, confidência e conselho. Foram horas deliciosas que não se repetirão jamais, por mais que se tente e que se queira. O contexto definia o tema e as conversas tidas, e retidas na minha memória para que não fujam, foi aquele e não outro, naquele espaço, naquelas casas e naquela época. Foi uma das fases mais magníficas, deliciosas e envolventes que já vivi. Os qualificativos nunca serão suficientes para definir e caracterizar aqueles dias e aquelas noites, onde não houve tabus nem constrangimentos para se falar de tudo e de mais alguma coisa.
Inconscientemente aguardava pela hora das refeições e hoje sei que eram as minhas preferidas, porque eram os momentos exploratórios de cada um de nós, em que nos íamos dando a conhecer, em que trocávamos confidências e elogios, em que nos irritávamos e chamávamos a atenção um ao outro, procurando-nos melhorar mutuamente.
Depois havia as comidinhas que preparávamos ou que nos deixavam preparadas, estas mais ao almoço e as outras ao jantar. Mas essas merecem destaque num post único. Falarei dos pratos que experimentei mais tarde, e só de pensar neles fico com água na boca...

terça-feira, 16 de novembro de 2004

Os Afectos e Eu

"Afinal havia Outra, e Eu sem nada saber sorria". As histórias repetem-se, umas atrás das outras, com uma cadência ritmíca e um sentido kármico. Por mais que tente alterar o rumo dos acontecimentos, o ritmo e a ideologia reinante reforçam o mau karma da minha existência. O destino marca a hora e não há como evitar.
Acredito sempre, quase sempre, nos afectos, nas palavras e nos gestos que me parecem sinceros e genuínos. Mas quase nunca o são. E a tristeza decorrente da incerteza, da incompreensão, da frustração, do desencontro, da desilusão e da mágoa, regressa até mim para me fazer companhia por mais uma temporada. Também longa, longuíssima, como quase sempre. E eu estou sempre pronta a recebâ-la e a aceitá-la, porque já faz parte de mim.
Normalmente, aquilo que mais desejamos é o que mais dificuldade temos em conseguir. E a minha vida tem sido sempre marcada pela fatalidade da ausência, da frustração do desencontro, da paixão criada e alimentada sem continuidade, pela busca permanente e incessante de um afecto correspondido, que não seja a curto prazo, não tenha prazo de validade nem fim anunciado.
Tenho de admitir que, nesse ponto, serei feliz. Afinal, a filosofia da felicidade, segundo dizem, reside na busca, naquele "não sei quê" que nos faz continuar a tentar, a procurar, a desejar e por fim a sonhar. E o que mais tenho feito, desde que me lembro de existir, é procurar, sonhar, idealizar, desejar. Nem por isso tenho sido feliz nas escolhas que tenho feito. Talvez "mea culpa", ou talvez quem me tem escolhido me tenha interpretado mal. Talvez as duas coisas.
Se desejamos ardentemente ser felizes nos afectos e nos amores, com satisfação plena e contínua, num dar e receber, que gostaríamos de acreditar que fosse eterno, de forma a ser possível construir um projecto comum com "esse alguém" especial, que para nós seria único no mundo, porque o sentimento também era recíproco.
Mas temos de lutar muito, muito mesmo, de forma permanente para que o afecto não se vá, o fogo do sentir não se esmoreça e a compreensão, em relação ao inexplicável e incompreensível, possa vencer.
Porquê? Porque há sempre "Outra(s)" no caminho. Ou sou eu que apareço no caminho delas, sem saber ou sem acreditar, porque também me fazem crer que os caminhos e as vidas não se cruzam porque já nem existem mais. E afinal, existem... No caso, se tenho tentado ser resistente e vencer obstáculos intransponíveis, hoje sinto-me cansada... Tão cansada que nada mais faz sentido. Pelo menos, para já.
Um dia voltarei a sonhar, a idealizar, a desejar e a lutar. Não por um alguém mas por um afecto, por um sentimento, uma ligação, um projecto de vida.
Em S. Tomé, Janeiro 2004

domingo, 14 de novembro de 2004

Liberalização dos afectos

Há uns dias fui ao Nicola do Rossio petiscar um croissant com queijo e um sumo de laranja natural, enquanto aguardava a minha vez para ser atendida na Loja do Cidadão, e dediquei-me a uma das tarefas preferidas, ouvir a conversa da mesa ao lado. Já sei que não é bonito mas é deliciosamente sedutor partilharmos a vida dos outros e compreendermos as diferentes formas de vida, de ser e de pensar. Além do mais, as três protagonistas não demonstraram qualquer preocupação pelo facto de poderem ser escutadas e eu procurei ser discreta.
Qualquer uma não tinha mais de 25 anos, vestiam-se informalmente, misturando cores e padrões, de calças justas, que lhes marcavam as formas, nem por isso ficando bem, e "suficientemente" pintadas de cara e de cabelo para chamarem a atenção dos mais distraídos.
- O teu namorado é urbano-paranóico. Ontem ligou-me a perguntar por ti - afirmou a mais comunicativa para a mais bonita.
- Namorado? Não, já não é - respondeu a segunda.
- Acabaste? Quando? - perguntou a primeira a arder de uma curiosidade sorridente não disfarçada.
- Logo a seguir a ter-te ligado. Apanhei-o e ouvi tudo. Não podia continuar assim, expliquei-lhe como as coisas são comigo. Até vou viajar contigo, disse-lhe, e jantar, e sair, e de vez em quando até pode rolar mais alguma coisa. Mas sem compromissos e obrigações. Este controle todo não dá. Estou com quem quero e saio com quem quero. E até lhe disse, és queridinho mas contigo nada de compromissos. Era um esquema muito paranóico, quase obsessivo. Queria estar sempre comigo e a toda a hora. Não dava. Ele não é o único na terra, tás a ver?
- Fizeste bem, isso já nem se usa - respondeu a primeira deliciada com a decisão da amiga.
A terceira continuou a sorrir, sem abrir a boca para opiniar o que quer que fosse durante toda a conversa. Dito isto, levantaram-se, pagaram ao balcão e sairam, continuando a falar alto, gesticulando e rindo.

E eu fiquei a pensar cá para comigo - a juventude feminina virou liberal, estou a ficar velha. Onde paira o mito do "foram felizes para sempre" e o sonho de estar com alguém de quem se gosta e que só gosta de nós, terá sido trocado pela liberalização dos afectos? E os afectos existirão verdadeiramente ou as pessoas querem estar juntas só para não estarem sózinhas? É um bom tema a explorar com os meus alunos numa próxima aula de Sociologia quando lhes falar nas infinitas questões da vida quotidiana.

sexta-feira, 12 de novembro de 2004

Confissões de um Pescador...

- "Bem... Nem imaginas o resto da pescaria. Pesquei mais um peixe aranha. Depois mais um Sargo enorme, para aí umas 3 vezes maior do que o 1º que tu viste. Um espectáculo de peixe... E depois... Bem nem imaginas o que me aconteceu... Pesquei um corvo marinho... Daqueles pretos sabes...? Trazia no anzol um peixe pequeno. O corvo comeu-o e ficou preso no anzol... Era ver eu a puxar o carreto da cana a apontar para o ar e o corvo a voar na minha direcção. Nunca me tinha acontecido pescar um pássaro..."
- "Como assim??? Pescaste um corvo marinho??? Safa... isso é que é diversidade... mas espero que não o tenhas levado e depenado... porque isso não se come..."
- "Eheheheh... Bom... Espero que tenhas percebido que esta do corvo era mentira... afinal todo o pescador é um pouquinho mentiroso..."
Moral da história: Mas serei eu completamente loura???? Ou só burra mesmo? Crédula? Ou tansa? Bem... a ti até perdoo...

Lazer e espectáculos em Londres

E nem só de chás, scones, almoços e jantares vive Londres, cidade multicultural por excelência onde a diversidade de origens é uma realidade. Não se anda uma rua que não se vejam africanos, chineses e outros asiáticos, árabes, ocidentais de todo o lado do mundo. Ouve-se falar línguas estranhas, sendo de destacar o inglês (claro), o francês e o espanhol.
Mas por falar em cultura, o verdadeiro espectáculo é a diversidade de oferta de serviços culturais - teatros, concertos, óperas, musicais, estreia de filmes com actores como Pierce Brosnan, a fazer as delícias de todos.
A não perder, os ballets da Royal Opera House (eu assisti a Sylvia, lindo lindo de fazer sonhar sem parar) e os musicais em cartaz - são tantos que a dificuldade é escolher (eu assisti a Les Misérables). E ficamos com pena de não podermos assistir a todos porque os olhos ficam regalados, os ouvidos consolados e é uma benção para a alma e para o coração.

Restaurantes em Londres

Em Londres come-se caro porque também tudo é caro. Mas vale a pena jantar num bom restaurante, de preferência com uma boa companhia.
Numa noite especial em Londres não deixem de visitar alguns restaurantes:
- Criterion (ver), Piccadilly Circus, fantástica decoração, serviço irrepreensível, pratos deliciosamente apresentados, doces fantásticos
- Al Duca (ver), 4-5 Duke Of York St., Tf: 0207839 3090 - um restaurante italiano magnífico, recomendadíssimo
- Fung Shing, 15 Lisle St., Tf: 020 7437 1539 - o melhor chinês a que já fui, imperdível


Do café "Laville" em Little Venice (Egware St), a vista é magnificamente tranquila. Vale a pena beber um café a 3 libras...

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quarta-feira, 10 de novembro de 2004

Casas de Chá

Em Londres fui a várias casas de chá. De todas recomendo duas, absolutamente fantásticas, com um serviço irrepreensível, qualidade dos chás, dos scones e da pastelaria.
1. The Wolseley - 160 Piccadilly, London W1J 9EB, Tf: 02074996996 (vejam o menu)
2. Richoux - 86 Brompton Road, London, SW3 1EA, Tf: 02075848300

De volta

Estou de volta, depois de uns dias passados em Londres. Uma breve troca do sul pelo norte, do calor pelo frio, do sol pelo nevoeiro.
O nível de vida subiu muito desde a minha última incursão a solo britânico - por um café paga-se, nos locais mais apetecíveis, 3 libras. Foi uma noa altura para reduzir o meu vício de café porque, além de caro, era queimado e aguado.
Os parques continuam magníficos, as tonalidades contrastavam, apelando aos sentidos para a imagem de um Outono tão diferente do que se vive em Lisboa. Os esquilos multiplicaram-se e perderam a pouca vergonha que, há uns anos atrás, tinham dos humanos. Agora os parques são marcados por uma saudável convivência entre pássaros tipo pardal, corvo e uns azuis e brancos, grandes, que não sei o nome, patos, gansos e cisnes, esquilos e seres humanos. Como seres aparentemente tão diferentes se podem dar tão bem num convivência pacífica!

segunda-feira, 1 de novembro de 2004

Pausa

Por uns dias... Descanso, Reflexão, Mudança de Ares...

Fase "Moçambique"

A fase "Moçambique" que marcou a minha vida fica em stand by, para já com algumas fotos publicadas. Sobre a experiência de vida que resultou de breves estadias, muito emocionais, escreverei mais tarde. Ainda é cedo. Talvez não seja ainda cedo porque já passou muito tempo. Mas tudo tem um começo e, desta vez, comecei por partilhar imagens legendadas. O mais ficará para depois. Talvez um dia...

Moçambique do céu

Sobrevoando Moçambique na chegada a Maputo. Um mundo novo se avizinha, marcado pelo desconhecido, pela surpresa e pela esperança seguida de frustração. Tudo é possível no sul do Mundo, ali até o Equador está distante...



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O rio Limpopo

Num "cruzeiro" de fim de dia os cheiros são intensos, a luz cria contrastes evidenciando a cor do rio e as formas emergentes transformando-se.
Tudo parece calmo apesar de esconder uma ebulição de emoções em efercescência, que aproximam a atracção e a paixão, confundindo-as e confundindo-nos...



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A margem de "cá"

A margem de "cá" do Limpopo permite-nos contactar com a densidade de um rio que atravessa diferentes paragens, sendo navegado por tantos botes e canoas.
Tudo é igualmente denso por ali, dando-nos a ideia de uma falsa sintonia, transitória e momentânea, pelas emoções fortemente sentidas e exteriorizadas, que de tão fortes e intensas se transformam rapidamente, tornando-se efémeras...
O final de dia tem uma tonalidade mágica, ou somos nós que o queremos entender assim, permitindo-nos recriar sensações e acreditar em ternas emoções que nunca o hão-de ser...


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Criança, Maputo

Criança de colo (de costas???) nas costas da mãe.
A magnífica arte de transportar os filhos com conforto.
Maputo 1998



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Rio Limpopo em Zongoene

A magnífica margem de "lá" do rio Limpopo, quase no local onde desagua no mar.
O rio que anima Zongoene e lhe dá vida.
A passagem para a praia, essa de mar, com águas turbulentas mas fantásticas.
A revitalização e a esperança na diferença como uma possibilidade.



Posted by Hello

domingo, 31 de outubro de 2004

Pôr do Sol

Pôr do Sol sobre a Baía de Maputo.
Vista do Hotel Cardoso.
Palavras para quê...



Maputo, 1998

Posted by Hello

Manual de sobrevivência em meios socialmente hostis

Presenciando cenas pela manhã bem cedo recordo uma pessoa que conheci em São Tomé e Príncipe há uma eternidade e de quem perdi o rasto há ...