Há uns dias fui ao Nicola do Rossio petiscar um croissant com queijo e um sumo de laranja natural, enquanto aguardava a minha vez para ser atendida na Loja do Cidadão, e dediquei-me a uma das tarefas preferidas, ouvir a conversa da mesa ao lado. Já sei que não é bonito mas é deliciosamente sedutor partilharmos a vida dos outros e compreendermos as diferentes formas de vida, de ser e de pensar. Além do mais, as três protagonistas não demonstraram qualquer preocupação pelo facto de poderem ser escutadas e eu procurei ser discreta.
Qualquer uma não tinha mais de 25 anos, vestiam-se informalmente, misturando cores e padrões, de calças justas, que lhes marcavam as formas, nem por isso ficando bem, e "suficientemente" pintadas de cara e de cabelo para chamarem a atenção dos mais distraídos.
- O teu namorado é urbano-paranóico. Ontem ligou-me a perguntar por ti - afirmou a mais comunicativa para a mais bonita.
- Namorado? Não, já não é - respondeu a segunda.
- Acabaste? Quando? - perguntou a primeira a arder de uma curiosidade sorridente não disfarçada.
- Logo a seguir a ter-te ligado. Apanhei-o e ouvi tudo. Não podia continuar assim, expliquei-lhe como as coisas são comigo. Até vou viajar contigo, disse-lhe, e jantar, e sair, e de vez em quando até pode rolar mais alguma coisa. Mas sem compromissos e obrigações. Este controle todo não dá. Estou com quem quero e saio com quem quero. E até lhe disse, és queridinho mas contigo nada de compromissos. Era um esquema muito paranóico, quase obsessivo. Queria estar sempre comigo e a toda a hora. Não dava. Ele não é o único na terra, tás a ver?
- Fizeste bem, isso já nem se usa - respondeu a primeira deliciada com a decisão da amiga.
A terceira continuou a sorrir, sem abrir a boca para opiniar o que quer que fosse durante toda a conversa. Dito isto, levantaram-se, pagaram ao balcão e sairam, continuando a falar alto, gesticulando e rindo.
Qualquer uma não tinha mais de 25 anos, vestiam-se informalmente, misturando cores e padrões, de calças justas, que lhes marcavam as formas, nem por isso ficando bem, e "suficientemente" pintadas de cara e de cabelo para chamarem a atenção dos mais distraídos.
- O teu namorado é urbano-paranóico. Ontem ligou-me a perguntar por ti - afirmou a mais comunicativa para a mais bonita.
- Namorado? Não, já não é - respondeu a segunda.
- Acabaste? Quando? - perguntou a primeira a arder de uma curiosidade sorridente não disfarçada.
- Logo a seguir a ter-te ligado. Apanhei-o e ouvi tudo. Não podia continuar assim, expliquei-lhe como as coisas são comigo. Até vou viajar contigo, disse-lhe, e jantar, e sair, e de vez em quando até pode rolar mais alguma coisa. Mas sem compromissos e obrigações. Este controle todo não dá. Estou com quem quero e saio com quem quero. E até lhe disse, és queridinho mas contigo nada de compromissos. Era um esquema muito paranóico, quase obsessivo. Queria estar sempre comigo e a toda a hora. Não dava. Ele não é o único na terra, tás a ver?
- Fizeste bem, isso já nem se usa - respondeu a primeira deliciada com a decisão da amiga.
A terceira continuou a sorrir, sem abrir a boca para opiniar o que quer que fosse durante toda a conversa. Dito isto, levantaram-se, pagaram ao balcão e sairam, continuando a falar alto, gesticulando e rindo.
E eu fiquei a pensar cá para comigo - a juventude feminina virou liberal, estou a ficar velha. Onde paira o mito do "foram felizes para sempre" e o sonho de estar com alguém de quem se gosta e que só gosta de nós, terá sido trocado pela liberalização dos afectos? E os afectos existirão verdadeiramente ou as pessoas querem estar juntas só para não estarem sózinhas? É um bom tema a explorar com os meus alunos numa próxima aula de Sociologia quando lhes falar nas infinitas questões da vida quotidiana.