sábado, 11 de abril de 2015

Reflexões sobre a organização

- O que quer dizer 'organizar' quando falamos sobre pessoas? - esta era uma pergunta que, de dia para dia, vinha ter comigo com maior rapidez, frequência e intensidade.
- Podemos organizar ideias, papéis, roupas, salas, secretárias, armários e gavetas, agendas e tarefas. Mas pessoas...?! - pensava...

Há alguns - muitos - anos atrás era habitual utilizar a expressão 'organiza-te', tanto para algumas pessoas, e fazia-o com um sorriso nos lábios, como para mim mesma, e neste caso a voz rouca da minha consciência crítica sussurava ao ouvido para ter a certeza que a escutava e entendia: "tens de te organizar...!". Hoje sei que essa voz aparecia sempre que o meu coração balançava para esferas pouco seguras mas prazerosas. Em boa verdade, a expressão era escutada por mim sempre que alguém me tentava desorganizar... ou seria mesmo eu que me deixava desorganizar... e, no meu subconsciente, representava a necessidade de sentir a brisa fresca do Outono em paragens onde o Verão não tinha início nem fim. Sabia que tinha de ganhar consciência de que a vida requer sempre um pouco de ordem, alguma organização quase sistemática e metódica, rigor qb no comportamento e critério na atitude. Não, não é fácil sobretudo quando o momento resulta de vivências intensas e sentidas. Houve alturas em que sabia que era fundamental pôr os pontos nos is e viver mais pela razão do que pela emoção porque a razão é organização e a emoção o seu contrário. Criar o equilíbrio parecia periclitante e pouco lógico...

Hoje a organização faz parte da minha vida, aliás passou a ocupar um espaço cada vez maior à medida que me fui afastando dos núcleos da desorganização.
Mas o que pensar de pessoas profundamente desorganizadas, impreparadas e descentradas do essencial mas que se julgam o supra-sumo da organização? Pessoas que circulam cirandando, que andam como se dançassem num baile de máscaras. Pessoas que se comportam como se a vida fosse um 'show off' permanente e estivessem em cima de um palco em representações imparáveis. Pessoas que criam uma imagem, tão suspensa quanto superficial, apenas assente na capacidade de organização alheia. Pessoas que vivem de forma aligeirada e esvoaçante, sem base e fundamento mas que se auto-intitulam descobridores do crepúsculo. É cansativo, desgastante e exasperante porque chega a ser lunático. Tenho a sensação de que por momentos, horas ou dias, os meus pés se descolam do chão e o meu corpo levita sobrevoando o mundo real. Só que nem sempre estou no meio de um sonho...


em São Tomé, 10 de Setembro de 2014


quinta-feira, 9 de abril de 2015

No back up da memória...



Tudo o que foi vivido ficou memorizado, momento após momento, como se de fotografias virtuais se tratasse. Sempre que necessário basta recuperar o ficheiro no back up da memória, seleccioná-lo, visualizar a imagem e... o sorriso regressa com o efeito de um clique.

Após o regresso, Outubro 2014

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Diálogo com a Terra em hora de despedida

Ao partir bate uma saudade impossível de descrever. Os minutos passaram com a rapidez de um relógio de tempo apesar de ficar com a ideia de que os ponteiros não andavam. Agora, ao avaliar o que vivi, percebo que os segundos esticaram em minutos e as horas em dias. Um dia ganhou a dimensão de uma semana e um mês de um ano. Ao partir, sei que o regresso urgirá. Mais tempo menos tempo voltarei porque a saudade surge de repente e de forma apertada. É difícil explicar a quem quer que seja que não tenha vivido a mesma experiência e arrisco até passar por louca desvairada e incontida... 
Ao espreitar pela janela inicio um diálogo tão silencioso quanto emotivo. A Terra diz-me com a tristeza no olhar:
- Não partas, não vás, não me deixes para trás, aqui no meio do mar sem poder acompanhar-te.
- Não me partas o coração... tenho de seguir viagem porque a vida aguarda-me do outro lado... - respondo num tom sumido.
- Se tens de partir... promete-me que regressas uma e outra vez... não ficarei igual sem ti...
Com um aperto no coração, os sentidos inebriados e os olhos alagados de lágrimas contidas que antecipam a despedida acabo por lhe dizer:
- Não te abandono jamais. Fazes parte de mim e eu de ti. És a minha Terra e eu serei sempre tua. Onde quer que eu esteja, por onde quer que eu ande, estarás no meu pensamento e preenches o meu coração. Da distância faz-se perto. Quando a solidão se fizer sentir e a vontade de regressar apertar, mesmo que não possa vir a correr ou a voar, fecharei os olhos e rapidamente nos reencontramos... Tu reinventaste em mim a capacidade de sonhar e de acreditar que entre o sonho e o feito há apenas um pulinho...
E subindo com o céu no horizonte olho uma vez mais para a Terra, fixo-a e sorrio. Ali está e fica uma parte de mim e comigo trago, para sempre, uma parte dela.

São Tomé, Abril de 2014


terça-feira, 7 de abril de 2015

Coisas da terra...


O desassossego é grande pela sensação de que uma parte do que poderia vir a ser ficou na incerteza da incompletude, nas reticências de um texto não escrito, numa pintura idealizada mas não pincelada na tela... O coração contém-se e depois esvazia-se. Anseia, angustia, quase desespera e desvanece ao pressentir que o que poderia ter sido jamais será... E esse é o maior dos desassossegos...


Algures em 2014. Em nenhures de parte nenhuma...

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Sobre a arte de viajar... ou com a viagem no pensamento


Preparar uma viagem que se idealizou requer uma preparação cuidada e sistemática. Sempre e inevitavelmente. A viagem é um momento assumido com seriedade e gerido com rigor; é uma empreitada importante que liga expectativas e realizações através de uma linha à qual damos o nome de vivências. E, em tempo de viagem, o desejo é que as experiências vividas sejam únicas e inesquecíveis porque sabemos que serão certamente irrepetíveis. A água não passa duas vezes debaixo da mesma ponte e a viagem que se empreende é vivida apenas uma vez, jamais se repete da mesma forma. Olhar para o interior de nós mesmo é o primeiro passo para que a viagem corra de acordo com o desejado. Fazer a revisão do que vivemos antes e das experiências anteriores é um exercício prévio que ajuda a reduzir as possibilidades de insucesso ou de frustração, sobretudo se o destino for visitado por repetição. Preparar a viagem não é apenas uma questão de agendamento, implica pesquisa, consulta, leitura, recolha de elementos facilitadores como mapas, endereços e telefones. A viagem começa muito antes de fazer a mala e partir, é uma vivência sentida, interiorizada e esperada que também tem continuidade para além do regresso ao se tornar presente através das histórias eternizadas, das fotografias revisitadas e partilhadas e das emoções relembradas.

em 18 de Agosto de 2014, a preparar nova incursão a São Tomé, sem o Príncipe

Manual de sobrevivência em meios socialmente hostis

Presenciando cenas pela manhã bem cedo recordo uma pessoa que conheci em São Tomé e Príncipe há uma eternidade e de quem perdi o rasto há ...