Ao partir bate
uma saudade impossível de descrever. Os minutos passaram com a rapidez de um
relógio de tempo apesar de ficar com a ideia de que os ponteiros não andavam.
Agora, ao avaliar o que vivi, percebo que os segundos esticaram em minutos e as horas
em dias. Um dia ganhou a dimensão de uma semana e um mês de um ano. Ao partir, sei que o regresso urgirá. Mais tempo menos tempo voltarei porque a saudade
surge de repente e de forma apertada. É difícil explicar a quem quer que seja
que não tenha vivido a mesma experiência e arrisco até passar por louca
desvairada e incontida...
Ao espreitar pela
janela inicio um diálogo tão silencioso quanto emotivo. A Terra diz-me com a
tristeza no olhar:
- Não partas, não vás, não me deixes
para trás, aqui no meio do mar sem poder acompanhar-te.
- Não me partas o coração... tenho de
seguir viagem porque a vida aguarda-me do outro lado... - respondo num tom sumido.
- Se tens de partir... promete-me que
regressas uma e outra vez... não ficarei igual sem ti...
Com um aperto no
coração, os sentidos inebriados e os olhos alagados de lágrimas contidas que
antecipam a despedida acabo por lhe dizer:
- Não te abandono jamais. Fazes parte
de mim e eu de ti. És a minha Terra e eu serei sempre tua. Onde quer que eu
esteja, por onde quer que eu ande, estarás no meu pensamento e preenches o meu
coração. Da distância faz-se perto. Quando a solidão se fizer sentir e a
vontade de regressar apertar, mesmo que não possa vir a correr ou a voar,
fecharei os olhos e rapidamente nos reencontramos... Tu reinventaste em mim a
capacidade de sonhar e de acreditar que entre o sonho e o feito há apenas um
pulinho...
E subindo
com o céu no horizonte olho uma vez mais para a Terra, fixo-a e sorrio. Ali
está e fica uma parte de mim e comigo trago, para sempre, uma parte dela.