quarta-feira, 29 de março de 2006

Vida na TABANCA (TABANKA), Calequisse, Março 2006

Onde a água escasseia, a vida faz-se à volta do poço

Tabanca com telhado de palha

Tabança com telhado de zinco

Guiné Bissau: quinta parte

O trabalho começou de imediato, o que foi bom. Afinal era mesmo para isso que eu ali estava. O ritmo foi intenso, não dando grande margem para parar e pensar, a não ser à noite após o jantar quando ficava na conversa com a Didi. Todos os que estavam envolvidos nesta fase do estudo, o trabalho de campo, corresponderam ao máximo das minhas expectativas, o que me deixou surpreendida, no bom sentido do termo entenda-se. Posso até dizer que por ter percebido que o envolvimento de todos era grande, bem como a vontade de atingir os objectivos que eu lhes propusera, aproveitei todas as potencialidades do “meu grupo”.

Encontrei pessoas interessadas e interessantes, disponíveis, sempre prontas a cumprir com as metas e a ultrapassar as dificuldades que iam surgindo. A frase que mais se ouvia e que passou a lema foi “não tem problema”, e na verdade era mesmo assim que eles pensavam, tudo tem uma solução. Trabalhei com o Leandro e o Armando, o Adelino e o Simôncio, o Flaviano e o Neto. A todos fica o meu agradecimento, pelo esforço e competência, pela dedicação e cuidado, pelo companheirismo e bom ambiente que permitiram em qualquer situação, particularmente nos momentos mais stressantes em que o medo me fez companhia. Nestas alturas, olhava-os e eles sorriam dizendo “Brígida, não tem problema, é normal”. Eu retribuía o sorriso mas não pensava como eles. Para o trabalho faltou-me um sector, o Cacheu, e foi pena porque gostaria de os ter conhecido também pessoalmente. Enfim, aguardei por eles dois dias mas, face à ausência de comunicação e de justificação, decidi alterar alguns dos pressupostos que definira e partir para o terreno com os presentes, avançando com o trabalho que era possível realizar.

O que este trabalho me permitiu de melhor foi a aquisição de experiência e de conhecimentos sobre a vida real das famílias nas tabancas. Aqueles são locais únicos, riquíssimos do ponto de vista humano, social e relacional, onde as pessoas mais do que viver, muitas vezes sobrevivem, sabe-se lá de que forma porque o que têm é tão pouco que nos custa a acreditar como ainda é possível sorrirem. A verdade é que o sorriso também não é uma expressão fácil para aquelas gentes, sejam crianças, jovens adultos, adultos ou velhos, homens ou mulheres. Os olhos são tristes e curiosos mas tímidos e a aproximação nem sempre é rápida como noutras regiões africanas que tão bem conheço.

terça-feira, 28 de março de 2006

Guiné Bissau: Quarta Parte

A chegada ao Canchungo fez-se no final da tarde de domingo. A primeira impressão foi de estranheza: afinal aquilo que mais me parecia um povoado alargado era mesmo uma cidade. Só podia ser pelo número de habitantes porque no que toca às infraestruturas, tanto de acolhimento como de apoio, ou de ligação, aquele espaço estava a anos luz de ser urbano. Já vi muitas cidades em África, com características muito diferentes mas aquela era de facto diferentes. A estrada de acesso era “picada”, com tantos acidentes de relevo quanto a que ligava a cidade a Bula, talvez até tivesse mais altos e baixos, devido ao trânsito excessivo associado aos efeitos das chuvas.

Uma das primeiras imagens que retive, e que ainda guardo por ser impossível de esquecer, foi a dos abutres, claro. Ali estavam eles em quantidade, para não fugir à regra, só que em vez de sobrevoarem as ruas, estavam tranquilamente pousados em cima dos telhados, mirando o que se passava apenas uns metros abaixo dos seus bicos. Espertos, pensei eu cá para comigo, assim não se cansam e sempre que percebem que há desperdício, qualquer que ele seja, lá se dignam a uma incursão até ao solo. Estes são de facto animais que não gostam de estragação...

O fim da estrada desembocava num largo, que eu vim a perceber depois que era a principal praça da cidade. Ali era o centro onde tudo se passava e dali era possível partir para todo o lugar, a qualquer hora do dia ou da noite. Bastava acertar com o condutor. Na praça tanto se vendia pão, tipo baguete mas mais larga, menos estaladiça e com a massa mole, como cartões de telemóvel. Era possível apanhar transporte para a capital, para o Cacheu, Caió, Calequisse ou qualquer outra localidade, e chegava-se da região ainda mais ao norte, São Domingos, em particular depois do conflito ter começado. Ali jogava-se “oril” e cartas, bebia-se o que houvesse e conversava-se, vendiam-se animais e até bananas. Aquela praça foi para mim o principal ponto de referência nos primeiros dias por ser ali que eu ia jantar, invariavelmente pelas 20 horas, no único local que me disseram ser possível: as traseiras da Casa Monteiro, que era uma “loja vende tudo o que há”. Era um pequeno restaurante chamado “Vulcão”, onde tanto se assistia ao telejornal ou a um jogo de futebol, como se bebia cerveja ou comia qualquer coisa. Eu jantava e escrevia as palavras que me vinham à mente, pela associação de ideias que o local e as experiências do dia possibilitavam. Mas ao “Vulcão” voltarei com mais pormenor porque este foi um local importante durante a estadia.

No Canchungo fui directa à Associação que me acolheria e cujos representantes iriam trabalhar comigo nos dias que se avizinhavam. O local pareceu-me apaziguador, tranquilo e absolutamente pacífico. O terreno era vedado mas aberto, o que pode parecer um contra-senso: vedado apenas para demarcação de espaço; aberto a qualquer visitante que chegasse em paz, conforme se veio a confirmar uns dias mais tarde. A casa era simples, tal como os seus habitantes: acolhedores, afáveis, amistosos e simpáticos, trabalhadores e muito organizados, com um grande espírito solidário. Eram pessoas simples e despretenciosas que me puseram à vontade como se me conhecessem há um bom par de anos. Ele era o Leandro e ela a Didi, um casal engraçado e que fez tudo para que me sentisse em casa. Em breve virá um Moisés, ou quem sabe uma menina.

 

 

Canchungo, Guiné Bissau

A entrada da "Cooperativa Agro-Pecuária dos Jovens Quadros do Canchungo", que me acolheu, Guiné Bissau, Março 2006
A estrada que me ligava ao Canchungo, Guiné Bissau, Março 2006

A Casa da Didi e do Leandro, Canchungo, Guiné Bissau, Março 2006

segunda-feira, 27 de março de 2006

Guiné Bissau: Terceira Parte

E o Norte esperava-me pelo que me pus a caminho. A estrada é maioritariamente de terra batida, "picada", estreita e acidentada, dando uma ideia muito próxima de se estar numa montanha russa.
A paisagem é bonita mas revela dureza, evidenciada pelo solo ressequido e pela vegetação intercalada, nem sempre densa. Diria mesmo muito pouco densa. As árvores com que me fui cruzando eram imensas, de tronco larguíssimo e comprido mas com pouca folhagem, encontrando-se muitos embondeiros, ali chamados de "cabaceiras", e muitos "poilão" (a ocá santomeense).
O que vi, e que mais me deslumbrou durante a viagem até ao Canchungo, foram os pássaros, que sobrevoavam o ar, mesmo à frente do carro. Nós quase chocávamos com eles que de forma espedita provocavam o condutor, pondo à prova a sua falta de paciência para com algumas coisas simples, respondendo ao esvoaçar com aceleradelas repentinas e sem razão de ser que, se não estivesse atenta, quase me projectavam para o vidro. Os pássaros eram de todas as cores e feitios. Simplesmente magníficos, deslumbrantes, elegantes, encantadores.
Gostei também de me cruzar com um grupo de macacos que atravessava de forma trapalhona a estrada precisamente no local e no momento em que eu passava. Um, o último do grupo, parou especado a olhar para o carro e eu tentei segui-lo até onde o meu campo de visão permitia. Foi uma coincidência engraçada e que interpretei como um bom sinal. Mas afinal não seria completamente...
As aldeias à beira da estrada iam-me parecendo pequenas, degradadas e muito espaçadas. A minha impressão inicial foi a de uma região particularmente desertificada, muito mais do que a imagem que eu retivera há dez anos atrás. Talvez por ter visitado outras regiões, não sei bem.
A viagem continuou, passando por Bula e Có, até chegarmos à entrada do Canchungo, cidade que eu esperava que fosse bonita, tanto pelas fotografias que já tinha visto, como pelas poucas palavras que o condutor pronunciara a respeito: "Canchungo é muito bonita. Cidade bonita do tempo dos portugueses". Mas para mim, o Canchungo revelou-se uma cidade castanha, cor de terra, árida e de cheiros intensos mas não perfumados, onde as pessoas me fixavam. Afinal eu era mesmo a única branca por ali e se a curiosidade fazia com que olhassem com atenção, registando a minha fisionomia, o meu aspecto por certo não terá sido do agrado da maioria já que os olhares eram sérios e as minhas tentativas de sorrir estiveram longe de ser correspondidas.
(continua)

I Simpósio Lusófono de Educação Ambiental

Por favor divulgue e participe:
I Simpósio Lusófono de Educação Ambiental

Tardes dos dias 06 e 07 de Abril de 2006 Inicia, o que se pretende que seja uma série de encontros, onde representantes de países de língua portuguesa (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, Portugal, S. Tomé e Príncipe e Timor Leste) e Galiza têm a oportunidade de discutir estratégias comuns e aproximações para implantação de políticas nacionais de educação ambiental e de programas de cooperação.
Programa:
06.abril
14:30H – 18:30H
Facilitação: Joaquim Ramos Pinto (Portugal), Pablo Meira (Galiza) & Michèle Sato (Brasil)Abertura com entidades oficiais da CPLP
Luis Chainho – Ministério do Ambiente de Portugal
“A Educação Ambiental como Factor de Aproximação na CPLP”
Marcos Sorrentino – Órgão Gestor de Educação Ambiental do MMA Brasil
“A Comunidade de Países de Língua Portuguesa enfrentando as questões ambientais planetárias”
Mesa 1
Antônio Fernando Guerra
“Pesquisas em Educação Ambiental nas identidades lusas”
Rosemeri Melo e Souza
“Vivências em redes de Educação Ambiental nos enraizamentos lusos”
Marília Andrade Torales e Joaquim Ramos Pinto
“Identidades da Rede Lusófona de Educação Ambiental”
Debate
Mesa 2
Alberto Vieira da Silva
“Sentimentos e pertencimentos”
Brígida Brito - Centro Estudos Africanos/ISCTE (Portugal)
“Experiência dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa”
Aidil Borges
“Experiências em Cabo Verde”Debate
Pablo Meira
“O itinerário de um sonho”
Debate
07.abril 14:30H – 17:00H
Constituição de três grupos temáticos sob o fio condutor: “sentimentos e pertencimentos dos itinerários de um sonho”
- Colóquio de pesquisa
Facilitação: Antônio Fernando Guerra
- Vivências em redes
Facilitação: Rosemeri Melo e Souza
- PALOP
Facilitação: Brígida Brito (Portugal) & Aidil Borges (Cabo Verde)
17:00H -18:30H
Plenária final para apresentação das conclusões dos 3 grupos temáticos, sistematização e Carta Luso-galega de Educação Ambiental
Facilitação: Joaquim Ramos Pinto, Pablo Meira & Michèle Sato

sábado, 25 de março de 2006

Guiné Bissau: Segunda Parte

A chegada a Bissau, após o segundo voo, fez-se de forma tranquila, se é que isso é possível depois do muito stress vivido no dia anterior. O ar estava mais limpo o que representava uma maior visibilidade, se bem que a poeira ainda permanecesse. O calor começou de imediato a fazer-se sentir e o meu dia estava longe de acabar. À chegada encontro um novo aeroporto, Osvaldo Vieira. Há que não esquecer que não ia à Guiné Bissau desde Abril de 1996, ou seja há 10 anos e a minha vontade de ver coisas novas ou melhoradas era muito grande. Costuma dizer-se que a esperança é a última a morrer e é bem verdade!

Depois de uma passagem na fronteira para carimbar o passaporte, com o inacreditável pedido de “uma ajuda” acompanhado de um sorriso, e da demora na recolha das bagagens, saímos e combinámos os procedimentos seguintes: trocar dinheiro; comprar um cartão de telemóvel de uma das redes locais, no caso Areeba por ser a que me disseram ter maior cobertura no norte; munir-me de águas suficientes para os dias que se aproximavam. A proposta foi partir naquele dia para o norte para que o trabalho não atrasasse e a mim a ideia não me pareceu nada descabida. Assim foi, mas antes quis fazer uma incursão pela cidade que há alguns anos atrás me acolheu.

A cidade estava suja, muito mesmo, e notei-a mais degradada, o que era naturalmente de esperar, tendo em conta que a reconstrução e a reabilitação patrimonial em África não são normalmente entendidas como prioridades. Notei que algumas estradas estão alcatroadas, fazendo um estranho contraste com outras, pela proximidade, muitas vezes ligando-se umas às outras. A explicação que me deram para esta situação, que me pareceu estranha, teve uma conotação política. Ora bolas, pensei cá para comigo, terá sempre de ser assim? Pois parece mesmo que sim. Infelizmente! Também o que foi em tempos o Palácio Presidencial, aquela área onde não se podia sequer passar, está hoje em ruínas, bem como o Mercado Central, onde se vendia artesanato, frutas e legumes, depois de ter ardido por completo, está encerrado evidenciando os sinais do incêndio. Hoje, na rua do Mercado, as mulheres vendem os seus produtos em bancas de madeira, fazendo pensar nas dificuldades com que irão certamente confrontar-se quando as chuvas começarem. E já não falta muito...

Depois, fui dar uma volta com um amigo que actualmente reside em Bissau, passeámos de carro pelas ruas da cidade para “matar saudades” e rever os “djugudi”, os abutres que por motivo nenhum abandonam este pequeno país, fazendo a sua ronda para conseguir alimento. E não são esquisitos nem sequer selectivos. Continuam a ser incómodos para quem os vê e não nutre particular simpatia, e além do mais representam uma população em crescimento. Vá-se lá saber porquê... Não, de facto esta não é uma imagem muito inspiradora mas, penso eu, terei de me habituar.

Depois de tomarmos o pequeno almoço num café para mim novo, porque antes não existia, fizemos uma incursão a pé por Bandim, aquele fantástico mercado onde se vende de tudo um pouco e que é um mundo dentro da capital. Percorremos as ruas mais estreitas e escuras, repletas de gente, e ele comprou música local, não em CDs, mas sim em cassetes, bem à maneira tradicional.

Em Bandim os cheiros estão mais intensos do que nunca, a sujidade acumula-se nas ruas e nos cantos porque além de tudo o que se vende, também se cozinha, lava e seca loiça. Ali há espaço para tudo. Há quem venda e quem compre, quem cozinha e quem come, quem dorme, quem brinca, quem namore e seduza, quem penteie e costure. Ali não há problema, a não ser que quem visita deve ter algum cuidado, talvez muito, com o que leva nos bolsos para que não saia de lá sem nada. Eu não me posso queixar porque, apesar dos infinitos avisos, a minha entrada, permanência e saída foram completamente pacíficas.

O almoço fez-se na Pensão Central, o espaço da D. Berta, também conhecida por “Avó Berta”, com a simpatia que lhe conheci há 10 anos atrás, acolheu-nos tão bem como sempre na companhia do seu fiel cão que por sinal está muito mais calmo e menos refilão do que já foi em mais novo. O restaurante continua igual ao que sempre foi e ali senti-me tranquila, talvez pelo sorriso e as palavras doces dela, ou pela comida, ou ainda por ser domingo e a cidade estar quase deserta.

Com o fim do almoço a partida para o norte tornava-se necessária: a estrada é degradada, maioritariamente numa picada marcada pelos acidentes do relevo, pelo movimento de outros veículos e pelos factores naturais. Não me podia atrasar porque ainda tínhamos pela frente cerca de duas horas e meia de caminho. Mais para mais do que para menos. E lá fomos, eu e o motorista que me acompanharia no trabalho de campo, homem pouco conversador e muito menos sorridente, que não gostava de perguntas e evitava as respostas.

(continua)

sexta-feira, 24 de março de 2006

Guiné Bissau: Primeira Parte

A verdade é que esta viagem não tinha de correr bem. Talvez tivesse mesmo de correr mal sem que eu tenha a capacidade de perceber porquê. Mas hoje, depois de tudo o que vivi no tão curto espaço de tempo de uma semana e três dias, que me pareceram uma eternidade, compreendo que todos os acontecimentos indiciavam uma viagem que viria a ser uma complicação num dia só.

A partida era no dia 10 bem cedo, chegando eu com três horas de antecedência porque o trânsito esteve a meu favor e, naquele dia, não houve filas. À chegada percebo que não me antecipei tanto quanto pensava porque à minha frente para efectuar o check in estava já uma multidão que se disser que ultrapassavam os 50 não estou a exagerar. Lá fui para o fim da fila, aguardando calmamente mas com algum espanto dada a quantidade de pessoas que se aglomerava à minha frente: só podiam ter dormido no aeroporto...!!! Eu estou habituada a viajar para África mas uma coisa como aquelas ultrapassou tudo o que já vira antes.

Mais stressante do que a espera foi realizar que me esquecera de levantar dinheiro para todo o tempo da estadia, tarefa que foi de imediato transferida para a minha mãe. Após o check in, já com o dinheiro e depois das despedidas que deixam o coração apertado, dirigi-me para as partidas. Tomei o pequeno almoço, que também me esquecera, e acabámos por embarcar.

O voo foi atribulado com muita turbulência e infinitas recomendações do pessoal de bordo, por vezes e sempre que havia incumprimento de forma ríspida, para que apertássemos os cintos e nos mantivéssemos sentados. Havia um problema que foi mencionado pelo comandante de imediato e após a descolagem: uma tempestade de areia do Sahara que descia, e que no momento deixava a cidade de Bissau envolta numa nuvem impenetrável. Assim, foi-nos indicado que tentaríamos a aterragem duas vezes, mas se não fosse possível partiríamos para Dakar, e aí logo se veria. Assim foi: a primeira tentativa foi frustrada por nos termos aproximado da pista sem descermos o suficiente; a segunda resultou numa alucinação que me permitiu ter uma visão de grande proximidade das árvores. Estávamos quase a aterrar quando sentimos o avião baloiçar para a esquerda, depois direita e por fim levantar de novo. Pensei que morríamos ali pela proximidade das árvores mas afinal vim a saber que a fatalidade podia mesmo ter acontecido, só que com o que estivemos prestes a chocar foi com a torre de controle. Milimétrico segundo me disseram mais tarde. Ao fim da terceira tentativa, em que já não descemos o suficiente para arriscar uma aterragem, voltámos para Dakar!

Em Dakar o rumo dos acontecimentos não melhorou: todas as vozes eram de descontentamento e pouca resignação e as ordens foram no sentido de embarcarmos para o regresso a Lisboa, já que a TAP garantiria novo voo para Bissau na madrugada do dia seguinte mas não garantia nem alojamento nem transporte para quem ficasse em Dakar. Como sempre nestas coisas, e para que ninguém diga que não teve oportunidade de escolha, 56 passageiros não só se recusaram a regressar a Lisboa como formaram um bloco de oposição aos que queriam embarcar. Eu queria!!! E como entendo que não posso obrigar ninguém a fazer o que não quer, assim como também não me parece muito democrático obrigarem-me a fazer o que não me convém, fiquei fula, manifestei o meu desagrado face a tamanha irracionalidade e regressei mesmo a Lisboa depois de um novo embarque que se revelou simplesmente caricato e surrealista: aos bocadinhos, em grupos de 4 pessoas, para que não houvesse mais problemas!!!

Chegada a Lisboa depois de nova fase de turbulência e muito cansada desta confusão, vim para casa com a intuição que alguma coisa não estava a correr bem desde o início, o que não era muito auspicioso. Não falei nisso de forma aberta mas quem me conhece bem sabe, e sentiu, que eu estava tensa. Muito. Demasiado!

(continua)

 

Guiné Bissau

Para um seguimento atento da situação na Guiné Bissau nada melhor do que passar pelo AFRICANIDADES, onde o Jorge Neto vai deixando notícias e fotografias, relatos e todo o tipo de informações de forma muito actualizada.

3ª Festa Africana no B.leza


O ISU, em colaboração com o B.leza, irá realizar pela terceira vez a festa Nô Djunta Nô Dança no dia 29 de Março pelas 22h30. Esta iniciativa conta com a participação de alguns artistas convidados que irão actuar com a banda do b.leza e tem como objectivo a angariação de fundos para projectos de solidariedade em Cabo Verde, Guiné-Bissau e Angola. O dinheiro angariado pela equipa de voluntários responsável por esta actividade reverterá na totalidade para estes projectos.

terça-feira, 21 de março de 2006

Regresso Antecipado

Regressei a Portugal. Estou aquilo a que se pode chamar de “abananada”, confusa, intranquila, resultado da ansiedade vivida nos últimos dias. Tenho muito para contar até porque escrevi bastante nestes dias. Dia a dia, quase na lógica de um diário. Foi uma experiência muitíssimo forte. Intensa em todos os sentidos possíveis de imaginar. Conheci pessoas de grande riqueza interior, que convivem calmamente com situações de intranquilidade por as considerarem normais. E vivi momentos de apreensão (para não dizer medo). Vim cansada, não fisicamente mas sim psicologicamente, e muito sensível no que toca às emoções, reconheço. Voltarei para falar de vivências num local onde qualquer coisa pode acontecer, principalmente quando não estamos preparados e não contamos com ela.

quarta-feira, 8 de março de 2006

De partida!



E lá me vou ausentar deste espaço por uns tempos. Para onde desta vez? Para esta paisagem e outras próximas. A ansiedade pré-viagem aumenta, pela responsabilidade acrescida que esta missão implica e pela consciência do retorno à minha primeiríssima África.

Guiné Bissau: aí vou eu!!! A Todos os ficantes: até ao meu regresso, daqui a algumas semanas...

A foto foi retirada daqui MAS FICA UMA ADENDA EM MAIÚSCULAS E COM UM PEDIDO DE DESCULPAS AO JORGE NETO DO AFRICANIDADES POR ESTAR MAL REFERENCIADA. A FOTO É DELE E É UMA EXCELENTE ANTEVISÃO PARA MIM...

Obrigada a todos pelos comentários. Vou dormir porque amanhã a alvorada é bem cedo... :-)

terça-feira, 7 de março de 2006

Estudos da História de Cabo Verde

Cooperação sem Desenvolvimento



O meu colega e amigo João Milando, angolano de gema, lança na próxima 6ª feira, dia 10 de Março, pelas 18h30, o livro "Cooperação sem Desenvolvimento" na Livraria Buckholz, Rua Duque de Palmela, nº 4, em Lisboa.
Esta é certamente uma obra de referência no que ao desenvolvimento em geral diz respeito, e a África em particular.
A notícia foi também largamente divulgada pelo Fernando Gil no MACUA (de onde a foto foi retirada).

domingo, 5 de março de 2006

Medicina & Saúde

A ler a entrevista da Mana João sobre Vacinas e Meningite Pneumocócica (“Defender as crianças do Pneumococo”), na secção Saúde Infantil da revista “Medicina & Saúde”, número 101, Março de 2006, páginas 16-18.

sábado, 4 de março de 2006

Nos anos de uma Mana

Hoje é um dia especial porque uma das manas é pequenina e, para mim, os dias de anos são sagrados e devem ser comemorados de forma única. Ela é também uma pessoa particular pela sua forma de ser e de estar, com um entendimento único da vida e um espírito positivo e optimista que faz dela uma pessoa simplesmente inimitável! Pois se a mana hoje fez anos, foi dia de reencontro familiar e, claro está, as conversas ao almoço foram tão animadas que prometi aos presentes fazer aqui uma referência. Não, não sejam completamente curiosos porque não posso aqui relatar o teor dos ditos e contos. Mas foi muito divertido, apesar do meu ar, por vezes, mais sério e a pedir contenção... Mas foi divertido, animado e um almoço muito alegre. Parabéns à Mana João!

O stress da antecipação

É sempre assim. Os dias que antecedem as viagens são muito vividos de forma muito stressada: há uma infinidade de coisas para fazer e ultimar; há a sensação de se deixarem assuntos pendentes e por resolver; há a noção que, se a experiência que se irá ter é grandiosa, uma parte da vida fica aqui à espera do regresso. É estranho mas absolutamente fascinante. E em todas as viagens que faço retomo esta confusão emocional e de sentires. O stress da antecipação é fantástico!

Educação Ambiental e Áreas Protegidas em contexto insular africano

Já estão disponíveis os textos das comunicações apresentadas nas XIII Jornadas da Associação Portuguesa de Educação Ambiental (ASPEA), sob o tema “Educação Ambiental e Comunidades Educativas", que teve lugar em Lisboa em Janeiro de 2006.
No site da ASPEA pode-se aceder aos textos clicando no link “Boletim” e aqui seleccionar as comunicações que se pretende ler ou gravar. Os ficheiros são disponibilizados em formato pdf (e fazendo um pouco de publicidade... a minha intitulou-se “Educação Ambiental e Áreas Protegidas em contexto insular africano”, onde STP é referido, bem como de forma mais superficial Cabo Verde e Bijagós).

sexta-feira, 3 de março de 2006

Momentos de sonho

Há momentos em que nos apetece agarrar o Mundo, o Sol, as Nuvens, o Mar e as Montanhas. Tudo nos parece possível de conseguir e alcançar porque a nossa vontade é tão grande que nos sentimos com a força necessária para ultrapassar todos os obstáculos e atingir qualquer meta. A vida é feita de esperança, os limites e as impossibilidades não existem e, sempre que alguém nos procura trazer de novo à terra, reagimos qual Calimero humano, com a consciência de que a incompreensão se generalizou. E assim vivemos, como se flutuássemos, num estado de levitação permanente semi-consciente, semi-sonhador, que é muito agradável enquanto dura. Depois, começamos a descer à terra e a realizar que afinal nem tudo é possível e que é mesmo fundamental aprendermos a viver felizes com o que temos e que vamos realizando, porque agarrar o Mundo é mesmo um sonho que só se vai conseguindo passo a passo... “leve leve” :-)

 

Explicações

Há uns dias escreveram-me dizendo: “Andas excessivamente africanista e pouco intimista. Sinto falta de ler as tuas histórias, as aventuras das viagens, os sonhos, os encontros (e os desencontros). E ainda não nos falaste sobre as tartarugas (...)”. Não liguei muito a estas palavras porque de imediato pensei que a pessoa que escreveu estava a brincar comigo como faz tantas vezes. Mas de facto é verdade! Ando a escrever sobre temas “sérios”, pouco pessoais e principalmente de divulgação, e quem se habituou a ler 85% do que habitualmente escrevo, naturalmente nota diferença. E hoje tomei consciência disto, no meio do almoço com um amigo, que por sinal inspirou alguns dos meus textos :-) Há fases assim em que falamos pouco de nós porque, sei lá eu, há talvez pouco a dizer, ou quem sabe temas muito mais interessantes para explorar...

Fiquei de falar sobre as tartarugas e o regresso a São Tomé, após um longo mas importante afastamento. Há quem diga que não devemos voltar aos locais onde formos felizes. Eu não sou assim tão radical, aliás sou-o em relação a poucas coisas e cada vez menos. Eu fui muito feliz em São Tomé. Esta frase até me faz lembrar alguém :-) E mais do que feliz, ali vivi e dei azo às emoções, libertei-me e senti-me viva, no bom e no mau sentido. Tudo foi vivido intensamente, de tal forma que o afastamento foi necessário em altura própria e o regresso, mais do que desejado, resultou na perfeição. São Tomé é um encanto, um local onde me sinto bem e me reencontro comigo mesma. E a vontade de regressar permanece, o que é muito bom!

 

Reencontros

Esta é uma fase de reencontros. Na verdade, gosto muito de rever as pessoas de quem gosto e que, pelos motivos mais diversos, não via há algum tempo. Não via, não falava ou conversava. É bom “pôr a escrita em dia”, saber o que se tem feito e como se está, discutir ideias e fazer projectos, rir em conjunto das situações caricatas que cada um viveu, compreender através do olhar o que não se diz porque não se pode ou não se consegue expressar por palavras. E esta é uma altura em que tenho reencontrado pessoas que fazem parte da minha vida mas de quem não estou tão próxima fisicamente quanto gostaria. Reencontros de amigos e companheiros de aventuras, de colegas que o tempo ajudou a transformar em amigos, aproximações de cumplicidades. É uma fase boa, saborosa, de reconhecimento e de apreciação.

Manual de sobrevivência em meios socialmente hostis

Presenciando cenas pela manhã bem cedo recordo uma pessoa que conheci em São Tomé e Príncipe há uma eternidade e de quem perdi o rasto há ...