terça-feira, 31 de maio de 2005

Como começar bem o dia de anos

Uma excelente forma de começar um dia de anos é com um passeio à beira mar, de preferência com os pés descalços e “de molho”. Revigorante, reconfortante e revitalizante. O passeio dos 3 “re”, seguido do "dolce farniente". Pena que a temperatura da água do mar seja muito mais fria do que em África. Mas, mesmo assim, será melhor do que nada. E assim vai ser!

Signos

De signo... sou GÉMEOS!!! Aqui ficam alguns dos meus traços, segundo http://astrologia.sapo.pt/, no link características dos signos.

Deve ser o meu “outro eu” a falar neste momento mas... não me reconheço nestas características... sobretudo nas que dizem respeito ao Amor... Vá-se lá saber porquê...

Adaptáveis * Curiosos * Aventureiros
22 de Maio a 21 de Junho
O 3º signo do Zodíaco
Elemento: Ar, Mutável
Planeta Regente: Mercúrio
Princípio: Activo
Parte do corpo: Mãos, Braços e Pulmões
Estação do ano: Fim da Primavera no hemisfério norte
Incensos: Alecrim e Jasmim
Pedras: Ágata
Dia: Quarta
Metal: Platina
Cor: Amarela
Personalidade dos Gémeos: "Fala comigo"
A maneira mais fácil para conhecer um Gémeo é numa festa. Vemo-los entrar em todas as conversas. Querem-se sentar com a banda, meterem-se com as empregadas, e discutirem misturas com o empregado do bar. Eles rodopiam mais rápido do que conseguimos seguir. Se tentar pedir a um Gémeo para se concentrar numa só coisa, eles simplesmente não conseguem. Têm de mostrar o pouco conhecimento que têm sobre todos os assuntos, e procurar saber o que nós sabemos e porquê e onde e como conseguimos essa informação. São faladores, e espalham o seu talento pelo mundo. Adoram receber nova e interessante informação, para de seguida a espalharem. Não esquecer que existem duas pessoas dentro de um Gémeo, e ambas querem mudança, variedade e estimulação mental constante. É quase como se os dois estivessem a lutar dentro do Gémeo, deitam fumo e rasgam papéis aos bocadinhos. Um Gémeo desaparecerá num ápice e alguém aparecerá no seu lugar, que poderá ter algo interessante a dizer.
AMIZADE
Os Gémeos estão sempre rodeados por pessoas, eles fascinam e seduzem. São difíceis de aproximação, temos de passar pela multidão. Têm poucos verdadeiros amigos. Precisam de estímulo e alguém que partilhe dos mesmos estranhos interesses. São difíceis de acompanhar. Mantêm-se à volta de pessoas que compreendam porque estão sempre atrasados, estão simplesmente muito ocupados.
AMOR
Porquê amar? E o que é o amor afinal? Um Gémeo questionará isto, não conseguem fechar as suas mentes o tempo suficiente para o coração tomar o controlo. Assuntos do coração não são importantes para os Gémeos. Confundem a monogamia com aborrecimento, precisam da sua liberdade. É preciso entretê-los constantemente, seduzi-los e dar-lhes estímulo mental. O aborrecimento é o seu maior receio. Deixem-nos ser o que eles realmente são: "Confusos".

Mas afinal... quem será o astrólogo que me chamou confusa? Logo eu...?! Que sei tão bem o que/quem quero e o que/quem não quero!!!

O dia de anos

O dia de anos sempre foi um dos meus preferidos. Em pequena achava que era mesmo um dia diferente e que não era preciso ir à escola. Afinal era o dia em que eu nascera e por isso se tornava tão especial. Sim, no dia em que nascemos só devíamos mesmo fazer as coisas que gostássemos, sem obrigações. Lazer, lazer, lazer! E prendas, claro, muitas prendas. Este era um ponto de discórdia em minha casa, já que eu gostava que os presentes fossem surpresa, mas, nos dias que antecediam a data, não resistia a percorrer os cantos todos da casa até descobrir os embrulhos.

Era uma trabalheira que dava um gozo indescritível. Ainda hoje me lembro do meu coração a bater mais depressa quando me decidia a empreender esta tarefa arriscada. Os níveis de adrenalina subiam só de pensar que podia ser descoberta numa situação constrangedora, envolta por papel de embrulho e laçarotes. Eram minutos fantásticos e o encontro, dos meus olhos com as caixas ou sacos, memorável. Uma vez descoberto o local secreto, dedicava-me a abrir os presentes, um por um, com todo o cuidado, esperando que ninguém percebesse onde a minha curiosidade me levara. Este meu desejo era em vão porque, não só percebiam o que eu fizera como, ficavam zangados, o que era terrível porque eu não os queria desiludir, só que não resistia.

No dia de anos, recebia as prendas na mesma e fazia uma enorme festa como se os estivesse a ver pela primeira vez, mas os outros ficavam tristes porque entendiam que aquele momento era um ritual que eu estragara.

Fui crescendo e fui percebendo que a vida não era, na totalidade, como eu desejava e que o Mundo nem sempre entendia bem estes meus devaneios infantis. Apesar de tudo, fui bafejada pela sorte e, por imperativos da profissão, tive sempre a possibilidade de, com alguma flexibilidade, escolher os meus horários laborais. Claro que quando, com muito tempo de antecedência, escolhia os dias de trabalho e propunha os horários, tinha sempre em atenção a “minha data”. E fui-me habituando a ter aquele dia livre para fazer o que muito bem me apetecesse.

Com o tempo a magia do dia de anos foi-se perdendo, tal como outros encantos, e hoje penso mesmo que já não se devia fazer anos a partir dos... trinta e... Claro que o ritual das prendas continua a ser magnífico, para quem dá e para mim que recebo, apesar de ter perdido a prática no que respeita à quebra do ritual da oferta com a antecedente busca. Mas a ideia de fazer mais um ano é terrível. Só de pensar que passaram 12 meses por mim sem que eu tivesse realizado grandes feitos, mas com o aparecimento de novas rídulas (espero que ainda não sejam rugas) no contorno dos olhos, da proximidade dos cabelos brancos (que ainda não chegaram), de mais umas gramas (para não dizer quilos) entre outras coisas assusta-me.

Eu que era a “menina dos anos” aqui em casa e que estou ad eternum condenada a ser uma criança, mas agora mais velha (madura...???), penso que, se há greves a tanta coisa, também devia haver a greve ao dia de anos.

África na Expo 2005 do Japão

África está representada na Expo2005 no Japão http://www-1.expo2005.or.jp/en/venue/globalcommon05.html e, pelo que sei, alguns dos pavilhões têm despertado interesse nos visitantes. Este é o caso de São Tomé e Príncipe. Na maioria dos casos, os visitantes não tiveram ainda o privilégio de conhecer o arquipélago, mas têm demonstrado, aos técnicos que por lá se encontram deslocados, interesse numa próxima visita. Há que reconhecer que é um bom trabalho a favor da divulgação das potencialidades e recursos nacionais, principalmente com o objectivo da dinamização do turismo.

Mais uma receita de Calulú de Pato, Galinha ou Carne de Porco

Esta receita foi retirada da Revista Piá, ano 0, nº 2, Janeiro 2003, pg. 28 (com fotografia):
Ingredientes: maquequê, jimboa, mússua, couve, olho de libo, otâje, cominhos, mesquito, ponto, damina, tartaruga; ossame, tomate, cebola, malagueta grande, óleo de palma, pau pimenta, 1 fruta pão, beringela, quiabo, carne escolhida
Modo de preparação:
Corte em pedaços a carne escolhida, tempere com pimenta, cominhos, sal, casca de pau pimenta seca e flores de mesquito. Deixe marinar. Lave muito bem os ingredientes, pique as folhas, descasque a fruta pão e corte em quatro partes. Refogue as folhas, quiabo, maquequê, beringela, tomate sem pele, pisado ou esmagado com as mãos, cebola picada, malagueta cortada em duas lascas, a carne escolhida, óssame batido, pau pimenta e coloque numa panela com um pouco de água, leve ao lume e deixe cozer. Acrescente água quente ao refogado. Retire a fruta pão e pise, ou melhor triture-a. Enquanto o calulú estiver ao lume, pise um pouco de cominhos, sal, casca de pau pimenta seca, flores de mesquito e acrescente ao calulú, não esquecendo de pôr um ramo de mesquito. Prove e rectifique os temperos. Acompanha-se com angu (feito com banana pão ou prata, pontada entre “madura e crua”, pisada no almofariz ou triturada com varinha. Pode-se acompanhar também com arroz branco ou farinha de mandioca.


Posted by Hello

segunda-feira, 30 de maio de 2005

Há dias assim

Há dias assim em que inexplicavelmente somos invadidos por uma energia imensa, que nos parece infinita. Andamos quilómetros, corremos, fazemos mil e uma coisas, sentimo-nos incansáveis e imparáveis, desdobramo-nos em pequenos e grandes gestos, multiplicamos acções e o Mundo parece-nos pequeno. Mas, também de repente, a quebra apodera-se do nosso corpo e do nosso espírito e damos connosco sem nos conseguirmos mexer mais. Até que um novo dia chegue.

Menu da Semana Gastronómica de STP

SEMANA DE SÃO TOMÉ – RESTAURANTE Terreiro do Paço (Lisboa)

Cozinha equatorial, feita de ingredientes e temperos exóticos (preços entre 12.10€ e 13.90€ o prato)

Segunda-feira, dia 30 de Maio

Azagoa de carne (carne de porco, folha de Mandioca e feijão vermelho com farinha de mandioca)

Calulu de peixe (garoupa, tomate, malagueta e quiabos com arroz e farinha de mandioca)

Terça-feira, dia 31 de Maio

Molho de fogo (peixe fumado, peixe salgado, tomate, coentros e limão com banana cozida)

Jogo (cação e garoupa, fruta pão com arroz e farinha de mandioca)

Quarta-feira, dia 01 deJunho

Feijão à moda da terra (feijão vermelho, peixe fumado, tomate, ossame e pau de pimenta com arroz)

Arroz de Peixe da Terra

Quinta-feira, dia 02 de Junho

Muqueca de Peixe (pargo, tomate, beringela, óleo de palma com arroz)

Peixe Limão (garoupa, matabala, piri-piri, farinha de mandioca, sementes de óssamo e mocócó)

Sexta-feira, dia 03 de Junho

Azagoa de Peixe (corvina e pargo fumados, folha de mandioca e feijão vermelho com farinha de mandioca)

Calulu de Carne (galinha, tomate, cebola, malagueta e quiabos com arroz e farinha de mandioca)

Sábado, dia 04 de Junho

Calulu de peixe (garoupa, tomate, malagueta e quiabos com arroz e farinha de mandioca)

Domingo, dia 05 de Junho

Azagoa de carne (carne de porco, folha de Mandioca e feijão vermelho com farinha de mandioca)

OS DOCES DE SÃO TOMÉ (entre 3.20€ e 3.50€)

Aranha

Arroz de milho

Cocada

domingo, 29 de maio de 2005

As Relações Europa-África II

Já que estou numa de divulgação, algumas das comunicações apresentadas no Seminário "As Relações Europa-África" também já se encontram disponíveis on line para consulta. O meu contributo foi também sobre o turismo ecológico em STP, claro. Desta vez o título foi: "O Desenvolvimento para além do petróleo: o exemplo do turismo em São Tomé e Príncipe"

STP e VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais

Já se encontram disponíveis alguns textos de comunicações apresentadas no VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais que teve lugar em Coimbra em Setembro de 2004.

O meu contributo foi sobre o tema: Turismo Ecológico em São Tomé e Príncipe: da Ecopedagogia à preservação Ambiental


SAHARA

Não sendo um “grande filme”, o Sahara é divertido e dispõe bem, permite ver paisagens e locais em África, relembrar paragens conhecidas e sonhar com novos destinos. As situações criadas aproximam-se de um misto de aventuras ao jeito dos “Salteadores da Arca Perdida” e do 007. E como o cinema é um espaço lúdico onde vamos para descontrair, este é um filme adequado.

sábado, 28 de maio de 2005

I Mostra Gastronómica dos Países de Língua Portuguesa

A STUDIUM e a Associação Amigos do Príncipe, numa organização conjunta com o Restaurante Terreiro do Paço, vão realizar a I Mostra Gastronómica dos Países de Língua Portuguesa, sob a orientação do Chefe Vitor Sobral.
O evento decorrerá entre 25 de Maio e 5 de Junho naquele restaurante. Com este evento pretende-se, promover a gastronomia tradicional dos PALOP e apoiar projectos de Saúde e Educação das Crianças de Rua que vivem nestes países.

Contactos : RESTAURANTE TERREIRO DO PAÇO
TEL: 210312850; FAX 210 312 859
Email: terreirodopaco@quintadaslagrimas.pt

A gastronomia é uma vertente forte da Cultura de qualquer Povo. A mesa é um espaço privilegiado de encontro e de encontros, ou não estivesse a mesa simbolicamente associada à ideia de reunião, de comunhão, de refeição. Em África este conceito de partilha é mesa é elevado à forma de arte.
A primeira semana gastronómica traz à mesa do restaurante TERREIRO DO PAÇO a cozinha de São Tomé e Príncipe. É uma ocasião para saborear o CALULU de São Tomé e o MOLHO DE FOGO do Príncipe entre outros manjares exóticos e que raramente chegam às nossas mesas.
A gastronomia de São Tomé e Príncipe caracteriza-se pela sua excelência, pelo apelo de todos aromas, de todos os paladares, e de todas as cores numa simbiose entre a prodigalidade da natureza da terra e a sabença culinária das suas gentes.
É uma cozinha de tacho, feita de tradições passadas de geração em geração. É uma cozinha tão fascinante como o é este pequeno país ao qual Portugal está tão ligado.
O restaurante Terreiro do Paço situa-se na praça do mesmo nome, junto aocais onde durante séculos partiram as naus, caravelas, paquetes rumo às Terras de África e do Oriente donde voltavam carregadas do cheiro de especiarias, esperanças, recordações, fortunas, de cacau e café.
O Terreiro do Paço enquanto cais de ver partir assumiu um papel importante como entreposto comercial e cultural. E, como entreposto cultural, o Terreiro do Paço quer este ano, no qual se comemoram 250 anos do grande terramoto de Lisboa, ser o epicentro da vida gastronómica do Mundo
Português na capital.
Parte da receita desta mostra gastronómica será doada à Associação para a Reinserção das Crianças Abandonadas e em Risco de São Tomé, que desenvolve um meritório trabalho em prol da melhoria das condições de vida das crianças mais carenciadas deste país.

quinta-feira, 26 de maio de 2005

Mais um mail anónimo

E hoje recebi mais um daqueles mails que nunca virei a saber quem teve a ideia do envio.

Mas o conteúdo é bonito e tenho de reconhecer que me sabe sempre bem ler uma mensagem assim. Aqui fica o registo do texto recebido:

“Antes de magoar um coração,

Veja se não está dentro dele.

Pois se um dia chorei

Não foi porque perdi

E sim porque amei”.

Bem... apesar de não saber quem magoei, torno públicas as desculpa e agradeço o afecto.

quarta-feira, 25 de maio de 2005

Há coisas engraçadas, apesar de tudo...

Podia ter-me dado para melhor. Imaginem que, num serão de véspera de feriado, fui reler o historial de mensagens que troquei com alguém que, um dia, fez parte da minha vida, aqui há muito tempo e de forma fugaz, numa África distante, bem a sul do Equador, e à qual não regressei desde essa altura. Como é meu hábito nestas coisas dos afectos mal geridos, guardei as palavras trocadas nos diferentes momentos, com o único objectivo de um dia mais tarde as reler. Foi o que hoje fiz, e a culpa é da televisão que não se decide a cativar os caseiros como eu. E pronto, vim para o meu posto para me entreter e distrair um bocadinho do cansaço que me vai na alma e fui reler palavras trocadas e religiosamente guardadas entre papel e uma caixa de correio perdida nos cantinhos da net.

Quem ele foi não interessa, e quem ele é hoje muito menos. O que é importante é que o resultado não foi brilhante, o que se passou naquele curto espaço de tempo teve um final muito pouco feliz e as vivências possíveis não ultrapassaram as expectativas. As minhas, como é óbvio. Não chegou sequer a ser uma história de amor porque não passou de um entusiasmo criado em clima tropical e alimentado à distância via e-mail e, de quando em vez, por correio, através dos postais que ele me enviava dos locais por onde passava. Uma história moderna mas pouco proveitosa, portanto.

O engraçado de tudo isto é que, ao ler os e-mails trocados nas diversas fases pelas quais passámos desde que nos conhecemos, a sensação que fica é a de ter existido uma grande cumplicidade afectivo-emocional, marcada por intimidades, e do nosso efémero e condenado relacionamento ter sido muitíssimo profundo. Apesar do contexto, ainda há coisas engraçadas...

Estranha relação

Para ser franco, e o mais sincero possível com a vida, Joaquim já não sabia o que fazer para chegar ao fim do dia com um sorriso aberto estampado no rosto, uma palavra amável ou um espírito positivo e optimista. Já tentara de tudo um pouco: andar a pé à beira do rio; encontrar um amigo que já não via há algum tempo; jantar com o grupo de sempre; ler umas páginas do último livro que adquirira; ouvir música relaxante; fazer desporto; frequentar aulas de Yoga e de relaxamento; comer um gelado ou sentar-se num jardim a contemplar as flores e a escutar os pássaros.

Nos dias em que alterava a rotina, introduzindo um não sei quê de diferente, parecia que tudo corria melhor. Com ele, com a mulher e com todos os outros que, por um qualquer motivo incluído o acaso, se cruzavam com ele. Mas nos outros dias, em que repetia gestos, contactos ou percursos, sentia-se a viver uma eternidade difícil de suportar. E o mundo desabava sobre a sua cabeça e nas suas mãos de forma pesada e dura. Que o dissesse a mulher, Maria, que invariavelmente o recebia, abrindo a porta, com um silêncio sofrido e adivinhatório dos passos que se sucediam após o toque de campainha.

Joaquim era um homem amargo com a vida, com os outros e sobretudo consigo próprio, sem o reconhecer, procurando demonstrar uma auto-estima acima do comum dos mortais. Falava do que gostaria de ser como se fosse, evidenciando as suas melhores características, até aquelas com que sonhava. Por não gostar de nada em si, idealizava-se o melhor dos homens e procurava convencer-se a si próprio que não havia igual, apesar de não passar de um ser medíocre em qualquer esfera da sua vida – afectiva, profissional, relacional.

Maria era uma mulher às direitas, íntegra, respeitadora e cordata, boa profissional e meritória no seu desempenho, mas ao lado de Joaquim anulava-se por medo da mão pesada no silêncio, do olhar rude na intimidade, dos gestos bruscos, desprovidos de emoção, de sentimento e de afecto. Nos dias bons, tolerava-o e nos maus, perante o descontrole sem motivo aparente, odiava-o calada, sem proferir palavra ou emitir qualquer som. Procurava simplesmente passar despercebida naquela imensa casa que ambos construíram e partilhavam.

Aquele era um casal que tinha tudo para deixar de o ser mas, apesar de ninguém entender como ou porquê, ambos insistiam em se manterem juntos. Havia muito a preservar e que não queriam perder e contudo deixavam escapar o que de melhor podiam viver, a tranquilidade, a paz, o afecto, o amor.

Sono

Hoje é um daqueles dias em que o cansaço decidiu visitar-me e, acredito, alojar-se por uns dias. Há muito que não tinha esta sensação estranha de querer dormir, dormir, dormir sem parar. Em STP havia dias assim, em que, por mais e melhor que se tivesse dormido, não apetecia fazer nada e o sono ficava, de forma contagiante, por uma temporada. Normalmente antecedia tempestades e temporais de chuva batida pelo vento, acompanhadas de calor forte, intenso, imparável, provocando os sentidos. Mas aqui, só pode estar relacionado com o calor repentino e a única coisa que provoca é mesmo o sono.

segunda-feira, 23 de maio de 2005

Lua

Depois de um dia cansativo e desgastante não há nada como contemplar o céu iluminado pela lua. Hoje cheia, redonda, imensa e particularmente bonita, de uma cor quente: amarelo torrado. Dou comigo a sorrir sozinha pelas lembranças do luar africano, lá para os lados da Boca do Inferno, que me assolam a alma. Absolutamente inspirador e muito saboroso...

domingo, 22 de maio de 2005

STP na revista VOLTA AO MUNDO

STP é tema de capa da Revista Volta ao Mundo de Junho de2005. A reportagem “São Tomé e Príncipe, um segredo no Equador” (pg. 52-78) é marcada por fotografias variadas de São Tomé, do Ilhéu das Rolas e do Príncipe, com Bom Bom incluído. Fotos espectaculares que merecem ser guardadas.

O texto contém algumas imprecisões, mas vale a pena ler. O jornalista Paulo Rolão, autor do texto, e o fotojornalista Luís Filipe Catarino, responsável pelos registos fotográficos, revelam-se encantados e seduzidos (o que é absolutamente normal!!!) numa curta estadia, passando por alguns (mas não muitos) locais. Os alojamentos privilegiados foram Clube Santana, Ilhéu das Rolas e Bombom, havendo referências ao Miramar. Turismo Rural visitado: S. João e Bombaim. Roças visitadas: Agostinho Neto, Monte Café, Sundy e S. Joaquim.

As praias referidas como as melhores: em São Tomé, Tamarindos, Conchas (extenso areal a perder de vista...?!), Lagoa Azul (com areia...?!); no Príncipe, Banana e Macaco. Fiquei desiludida porque não referem, por exemplo, as praias de Micondó e Piscina, nem roças emblemáticas para visita e passagem como Água Izé, que me parece obrigatória, Vista Alegre, Ponta Figo, Java, Colónia Açoreana, entre tantas outras...

Ainda como restaurantes aconselhados: apenas o Pirata, o Bigodes, o Filomar e o Café e Companhia (aconselhamento muito limitado...); como pratos típicos: calulu e djogó; fruta: apenas a banana (...?!xê...). Não falam na jaca, na cajamanga, no safu, no mamão... nem no búzio, no peixe andala, no polvo grelhado, no magnífico e saboroso concon... e tantos outros pratos típicos!

Em termos de aconselhamento, o artigo parece ficar muito aquém das expectativas, não disponibilizando informação importante e útil, mas a imagem é sedutora e aliciante. Um aspecto a referir – apoiaram-se na Navetur (Bibi e Luís Beirão) e no Luís Mário, que me parece ter sido uma boa opção.

Mas devem portanto ter perdido a melhor parte de STP...

Nada do que foi volta - VI

- “Responde-me uma pergunta Abel. Já sentiste alguma vez que, quando se quer muito uma coisa, por se querer tanto e durante demasiado tempo, de repente chegamos à conclusão que a deixámos de querer?”

Abel ficou calado com a perplexidade de quem não entendeu a questão que Vera lhe colocara. Por vezes, ela parecia ter uma complexidade interior tão grande que se tornava incompreensível. Mas afinal, o que queria ela? Vera era mesmo uma complicadinha, nunca percebia o que era mais do que óbvio. E sem dizer nada pensava:

- “Durante uma infinidade de tempo gostou de mim e sofreu porque eu não lhe dava toda a atenção que ela achava que merecia. Conhecemo-nos numa altura em que eu queria aproveitar o tempo de liberdade, sem prisões e sem obrigações. Ninguém me pode condenar por isso. Eu estava ali, naquela África onde tudo é permitido a um estrangeiro, para viver e me divertir. Mulheres não me faltaram e ela não podia ser a única. Eu não lhe podia dar isso e ela sabia-o desde o início. Eu gostava dela e de estar com ela mas não de forma permanente. Não podia ser e eu não estava disponível para isso. Mas agora que a minha vida mudou, o que se passa com ela para não querer? Há realmente mulheres estranhas, enquanto estão em África desfazem-se em paixões e afectos, só querem amor e carinho, mas quando de lá saem passam-se, mudam, ficam frias e distanciadas, parece até que enregelam...”

Vera apaixonara-se por Abel, depois de muitas insistências, dele se fazer presente e de a apoiar em tudo o que ela precisava. Tornou-se o braço direito daquela mulher que não passava despercebida no raio dos poucos quilómetros quadrados onde, por motivos diferentes, tinham escolhido viver. Apoiava-a discretamente, era o seu escudeiro, o seu polícia e o seu bombeiro. Estava ali para o que desse e viesse. Não havia dúvidas que, durante os meses em que a conquista decorreu, aquela Vera era uma terra desconhecida, falada como sendo inóspita, pelo feitio reactivo em relação a brincadeiras que algumas pessoas tinham e que não lhe agradavam, mas para ele tornara-se uma delícia muito apetitosa, uma descoberta diária que se ia revelando cada vez mais interessante, uma companheira. Além do mais, para Abel este era um trunfo que não queria perder. Dos amigos, nenhum acreditava que ele a conquistasse, mas ele confiava nas suas capacidades porque conseguia tudo o que queria.

Abel só não contou que, durante o tempo em que estiveram juntos, mas também quando a vida os afastou, e ele aproveitou para se ir orientando, Vera foi sabendo de tudo o que se passava à volta dele e sofria à distância. Aquela África era sua, era assim que a via, e as mentiras de Abel, as suas intrusões, os devaneios e desassossegos em que passou a viver, desiludiram-na. Em momento algum, ela quis acreditar que Abel era tão linear no que aos afectos respeitava porque queria sentir-se diferente aos olhos dele. Se o desamor de Abel a desgostou, o tempo ajudou-a a conhecê-lo e a perceber que a frase, que alguém lhe repetia sucessivamente “Tu mereces melhor!”, era a única verdade que existia naquela relação.

sábado, 21 de maio de 2005

Nada do que foi volta - V

- “Vamos ficar juntos, juntinhos, vem para aqui, ao pé de mim. Vá lá, não te faças esquisita e diz que sim. Diz, diz, diz... vá lá. Não te lembras de tudo o que já vivemos juntos? Não te apetece de novo?” – e Abel estendeu a mão em direcção a Vera, fechando os olhos como se quisesse transformar um sonho em realidade.

Vera não se mexeu um milímetro e olhava-o incrédula. Fora Abel que errara há uns tempos atrás, que faltara à honestidade prometida, que a enganara naquela terra de ninguém, umas portas à frente daquela em que coabitavam. E agora quase se fazia de vítima por estarem separados. Não, ela não queria voltar para ele desta forma. Era uma incongruência porque, além de tudo o mais, arriscava-se a que, após um fugaz envolvimento, ele a deixasse de novo. E Vera aprendera qualquer coisa com ele: apenas pisar o solo que se conhece bem. O risco era, para ela, demasiado grande e o custo a pagar por um entusiasmo incomportavelmente alto.

Nostalgia

A nostalgia acompanha os que viveram sentimentos fortes, lutaram e ultrapassaram, amaram e sofreram, tiveram dias felizes em locais inesquecíveis, perpetuando lembranças simplesmente por se quererem recordar; os que marcaram os locais por onde passaram pela realização, e as pessoas com quem contactaram pela diferença de atitude.

A nostalgia não abandona os que se deram, se apaixonaram e entregaram a causas e a ideais; os que souberam dizer “Eu quero” com determinação, contra tudo e todos, numa altura em que ninguém acreditava ser possível e que, no momento certo, escolheram dizer “Não!” com a certeza de ser a melhor escolha, sem haver lugar para o lamento, o queixume ou o arrependimento.

E eu sinto-me nostálgica muitas e muitas vezes porque faço presentes os bons momentos que um dia vivi, afastando da memória os que assim não foram.

sexta-feira, 20 de maio de 2005

Deixa-me...

Deixa-me chorar e gritar, pensar e concluir, sorrir, rir e gargalhar.

Deixa-me aconchegar no teu abraço e sentir o calor que me transmites, confortando-me.

Deixa-me olhar os teus olhos e entender tudo o que me dizes por palavras e o que omites não falando.

Deixa-me falar sem dizer nada.

Deixa-me conversar sobre qualquer coisa ou sobre tudo.

Deixa-me ouvir os sons, sentir os sabores e ver os tons.

Deixa-me ficar e fica tu também...

quinta-feira, 19 de maio de 2005

Reflexão

Com regularidade, mas não tão frequentemente quanto gostaria, viajo pelos blogs que me introduziram neste mundo da escrita partilhada. E já são muitos. Tenho constatado que, de tempos a tempos, o tom dos posts vira pessimista, derrotista, triste, pesaroso, algo depressivo. A maioria fala-nos de amores desencontrados, perdidos, de pessoas abandonadas, solitárias e “ensolidadas”. Como se o mundo acabasse com as rupturas, com a perda de um afecto, com a falta de companhia e de companheiro. Como se cada um ficasse a ser apenas metade do que já foi, incompleto e marcado pela incapacidade de ultrapassar o dia-a-dia. Como se a vida pesasse e tivesse deixado de fazer qualquer sentido, ficando cada um sem rumo. Cada um não, porque quem partiu continua o seu percurso com espírito aliviado e alma renovada. Dá vontade de postar um comentário (Chuinga como te entendo finalmente...) ou de escrever ao autor apelando ao bom senso, dizendo:

“Atenção Amiga(o), o Mundo não acabou porque aquele em quem depositaste afeição, carinho e dedicação te abandonou. Esse foi um engano com o qual te cruzaste. Não mais do que um equívoco que foi de tal forma falacioso que nunca te mereceu. Tu não viste em tempo útil mas nunca é tarde para acordar. Pensa bem que, se alguém te deixou indevidamente e sem que o tivesses motivado a tal, então é porque também não te mereceu. Olha em todas as direcções porque, mais cedo ou mais tarde, talvez só daqui a uns tempos, vais reconhecê-lo(a) sem que tenhas de fazer qualquer esforço para isso. E pára de te lamentar da vida que, na verdade, foi tua amiga fazendo-te sofrer um pouco, mas antes agora do que depois. Levanta a cabeça, endireita as costas e pensa em tudo o que podes fazer para te sentires feliz, sem dependeres de alguém que não retribuiu a tua afeição.”

E, Brígida, após teres visitado as “casas netianas” dos teus amigos deste estranho mundo e de teres constatado que na maioria o tom da escrita de hoje era derrotista, não te esqueças que a mensagem que acabaste de escrever em momento de inspiração é também um “post-it” para ti mesma. Retira uma lição da tua própria reflexão.

Nada do que foi volta - IV

Abel não sentia saudades de Vera, mas sim da vida que tinha tido quando se cruzaram, partilhando espaços e tempos, momentos únicos que jamais se repetirão e que ele nem sequer desejou que se repetissem. Sentia a nostalgia do passado pela liberdade que tinha usufruído naquele local, pela possibilidade de se relacionar com quem entendesse e de se sentir dono da sua própria vida, sem ter de dar explicações do que fazia, a quem quer que fosse. Foi aí que conheceu Vera, uma mulher independente, interessante, não particularmente bonita mas o suficiente para se destacar das outras que ali viviam, que cativava os homens e causava inveja às mulheres. Tinha os requisitos para lhe chamar a atenção.

Vera era uma mulher estranha porque demasiado directa e sincera, de uma frontalidade que Abel desconhecia porque nunca encontrara estes predicatos em ninguém. Se essa forma de ser e de estar o seduzia também o afastava e a relação deles foi, desde o início, marcada por desencontros e contradições. Havia uma atracção irresistível entre os dois que era difícil de contrariar, principalmente quando se encontravam sozinhos. Passaram a fazer parte da vida um do outro porque o contexto assim o permitiu e o destino o ditou.

Vera era, para Abel, uma conquista necessária, não só por estranhamente ser uma das mulheres mais cobiçadas do sítio, consequentemente muito conhecida e um ponto de referência num mundo que ele começava a descobrir, mas também por ter um halo de mistério à sua volta que ele queria perceber e desmistificar. Ninguém sabia ao certo o que motivava aquela mulher a viagens sucessivas e estadias solitárias, andando por onde queria e relacionando-se com quem entendia, sempre com ar de ser senhora do seu nariz. Falava a todos e, na verdade, não se dava a ninguém. Tinha consciência que era comentada pela maioria, nem sempre bem, e apesar disso continuava o seu rumo com a sábia certeza de que os ditos e contos só afectam quem neles acredita.

E, enquanto se iam conhecendo, Vera olhava Abel com a tranquilidade de estar segura porque aquele homem, apesar de simpático, não fazia o seu género e não havia a menor hipótese de se envolverem. Ela nem sequer ali estava para se envolver com ninguém. Queria apenas aprender num sítio distante, longe da protecção dos seus, conhecer novas caras e espíritos abertos, e melhorar-se como pessoa, encontrando um rumo para a vida. Abel olhava Vera como se de uma peça de caça se tratasse, tinha de a capturar, e falando com um amigo de sempre foi feita uma aposta. Ela seria sua.

Colecções

Há quem faça colecções de selos, de chávenas, de penicos, de canetas, de abre-livros, de relógios, de armas, de caixinhas, de dedais, de leques, de cromos, de vasos, de animais, de brincos e de anéis, de óculos, de postais ou de jornais antigos, temáticos e regionais. Há colecções originais e outras mais vulgares. Na verdade, desde pequena que nunca fui dada a colecções, porque requeriam uma atenção que nunca quis dar a objectos. O meu cuidado sempre esteve mais associado às pessoas e aos animais e, talvez por isso, nunca tenha percebido bem a dedicação de algumas pessoas em relação a um conjunto de folhas ou de peças, por mais raras que elas fossem, passando horas a observá-las com admiração, a limpá-las e a arrumá-las em local de destaque, não permitindo que outras pessoas lhes tocassem.

Mas desde que fui a África pela primeiríssima vez – aqui fica a homenagem a Guiné Bissau - rendi-me ao encanto de uma peça de artesanato e, sem dar conta, em cada incursão que fui fazendo a países africanos, ia comprando exemplares, diferentes e únicos, que hoje se transformaram numa colecção em constituição. O objecto que provocou os meus sentidos, captando a minha atenção, foram os pensadores em madeira. Hoje tenho-os de todas as coresm feitios, tamanhos e graus de perfeição. Uns são mais estilizados do que os outros, dos mais pequenos aos maiores, esculpidos em madeiras características de cada uma das regiões por onde fui passando, pelo que têm também tonalidades diferenciadas. Mas são lindos e, pela sua diversidade, resultam num conjunto muito harmonioso.

De novo Bissau

Recebi notícias de Bissau. O clima está mais calmo do que eu pensei inicialmente. E ainda bem. Aquele país e aquele povo não mereciam mais outra guerra e o sufoco que daí decorreria. Aguarda-se a evolução dos acontecimentos com tranquilidade. Parece que os meios de comunicação terão, uma vez mais, empolado o caso, porque quem por lá está continua a viver o quotidiano dentro da normalidade.

Fico Assim Sem Você (Adriana Calcanhoto)

Avião sem asa
Fogueira sem brasa
Sou eu assim sem você
Futebol sem bola
Piu-piu sem Frajola
Sou eu assim sem você
Porque que é que tem que ser assim?
Se o meu desejo não tem fim
Eu te quero todo instante
Nem mil auto-falantes
Vão poder falar por mim
Amor sem beijinho
Buchecha sem Claudinho
Sou eu assim sem você
Circo sem palhaço
Namoro sem abraço
Sou eu assim sem você
Tô louca pra te ver chegar
Tô louca pra te ter nas mãos
Deitar no teu abraço
Retomar o pedaço
Que falta no meu coração
Eu não existo longe de você
E a solidão é o meu pior castigo
Eu conto as horas pra poder te ver
Mas o relógio tá de mal comigo
Por quê? Por quê?
Neném sem chupeta
Romeu sem Julieta
Sou eu assim sem você
Carro sem estrada
Queijo sem goiabada
Sou eu assim sem você
Porque que é que tem que ser assim?
Se o meu desejo não tem fim
Eu te quero a todo instante
Nem mil auto-falantes
Vão poder falar por mim
Eu não existo longe de você
E a solidão é o meu pior castigo
Eu conto as horas pra poder te ver
Mas o relógio tá de mal comigo

Nada do que foi volta III

A vida ensinou a Vera que chorar a ausência não só não resolve como agudiza a angústia e a sensação de perda. Mas, como chorar não é uma manifestação que a maioria das pessoas tenha por querer, Vera aprendeu a controlá-la e passou a chorar para dentro. Quando está triste, sorri e, para não ser traída pelo tremor dos lábios, trinca o inferior no canto esquerdo. Mordisca-o sorrindo para fora, mas no seu interior chove de tal forma que mais parece um dilúvio em dia de tempestade. E isso passou a acontecer cada vez com mais frequência. Abel nem disso dá conta e ela também faz porque ele não se aperceba. Ele está longe dela e pouco a vê, para dizer a verdade, cada vez menos. Por isso, o risco de tomar consciência do que se passa com ela é pequeno. E, para ela, isso é bom.

Depois de Abel, Vera não se voltou a apaixonar por mais nenhum homem. Não podia porque tendia a usar uma medida de comparação que não deixava margem para dúvidas. Abel tinha sido o “seu must” e apesar de tantas qualidades, ela sofrera muito por ele e continuava a sofrer. Era um risco viver sem afecto e sem paixão e os momentos de dureza emocional tornavam-se cada vez mais longos. Mas ela não queria sofrer mais. E contudo, a cada manhã em que acordava a lembrar-se do beijo que ele lhe dava quando saia para o trabalho, enquanto ela ficava na lazeira, ou nas noites de conversa e de amor partilhado, que ela queria acreditar que fora sentido, continuava a sofrer. Era feliz com a lembrança e infeliz com a recordação porque essa reforçava a ausência e a impossibilidade.

quarta-feira, 18 de maio de 2005

A fantástica Guiné

Na Guiné encontrei algumas coisas fantásticas de tão ímpares: a altura das papaeiras; a variedade e diversidade de mangas; a quantidade de caju; o nome que dão ao amendoim – mancarra; a quantidade de abutres no céu de Bissau e o nome que lhes chamam – jagudi; a zona ribeirinha de Bafatá; a diversidade étnica; a quantidade de crianças nas ruas de Bissau; o mercado de Bandim; as crenças e as práticas culturais; e tantas outras coisas.

Guiné

E a minha querida Guiné, o meu primeiro amor africano, está prestes a entrar em conflito. Melhor dizendo, ali o conflito é latente. Infelizmente... E a preocupação com os amigos que lá vivem, os guineenses e os outros, aumenta. Dou comigo a recordar a primeira incursão a Bissau, quando a porta do avião foi aberta no aeroporto de Bissalanca, e senti o bafo quente e húmido, o ar denso e o cheiro intenso, misturando, de forma magnífica, os aromas da terra molhada com frutas, predominando uma essência adocicada que, ao primeiro cheiro, parecia algo enjoativo. Só mais tarde, vim a reconhecer o aroma, uma mescla de manga com cajú fresco. Aquele cheiro é inconfundível e aquela sensação incomparável.

terça-feira, 17 de maio de 2005

Nada do que foi volta II

Talvez algumas coisas tivessem mesmo de ficar assim, sem retorno e sem regresso. Talvez fosse mesmo a lei da vida, ou como é que se chama às partidas pregadas pelo destino e feitas em desencontros. Por fim, naquele dia percebera que quando os sentimentos são unilineares perdem qualquer sentido e resultam em doença. E as doenças, a maioria pelo menos, cura-se. Não, Vera não se queria sentir doente de amor, essa é uma maleita que já não se usa. Amou-o, ama-o ainda e sente que talvez o venha sempre a amar, porque este é um sentimento que não se procura mas que, quanto se sente, não se confunde. Abel era o homem da vida de Vera, se é que isso existe. Podia nunca mais voltar a tê-lo, a sentir-se envolvida pelo abraço forte e pelos beijos ternos, pelo olhar carinhoso e pelos ralhetes preocupados, pelo cheiro intenso e reconfortante.
Mas uma coisa é certa, esta é a lembrança mais terna e mais saborosa que Vera tem dos homens. Abel é uma recordação que sabe a fruta de verão, carnuda e colorida, doce e sumarenta, refrescante e deliciosa num dia de calor. Talvez ele nem nela pense, mas os primeiros pensamentos de Vera são para ele e, muitas vezes, antes de adormecer, é o seu terno olhar que ela vê.

Nada do que foi volta I

“Nada do que foi volta”, pensou Vera quando se despediu de Abel. “Pelo menos não da mesma forma, ou como eu gostaria. Cada reencontro com ele é um novo momento para o conhecimento de uma faceta até aqui não revelada. É estranha a sensação, mas por mais que pensemos que conhecemos uma pessoa, acabamos por perceber, mais tarde ou mais cedo, que tivemos apenas uma visão do que ela é, ou pode ser.”
Apesar de conversador, Abel estava distante e pareceu-lhe triste. Sabia-lhe sempre bem vê-lo e aos encontros marcados não gostava de faltar. Sentia-os como rituais e defendia que esses deviam ser vividos para que as tradições se mantivessem. Não olhava para ele como um ritual ou como uma tradição mas o sentimento que tinha em relação a ele era tão profundo que queria guardá-lo para sempre.
Ouvia-o e sentia-se a partilhar alguns dos problemas que ele tinha, os possíveis e que ela podia saber. Queria apenas que ele estivesse bem, já que não podia sequer pensar no quanto gostaria que ficassem bem. E, com as devidas diferenças, a “Papisa Joana” voltou-lhe à lembrança.

segunda-feira, 16 de maio de 2005

Dúvida existencial

E, naquele final de tarde, depois de terminar mais um livro, que mais parecia um tratado novelístico, sobre os afectos, as paixões desencontradas, com o final possível mas longe de ser feliz, os dramas e as esperanças desta vida, pensei cá para comigo: "Também eu tenho andado atrás de um sonho, dediquei os meus dias a uma causa, a algo em que sempre acreditei. Que balanço farei eu daqui a 30 anos? Nessa altura, acharei eu que terá valido a pena?"

sábado, 14 de maio de 2005

A agricultura dos afectos

Não é fácil fazer com que algumas pessoas interiorizem a ideia de que o pousio afectivo não tem tempos pré-definidos, pode ser breve ou muito prolongado, tal como as filas de espera para pedir esclarecimentos ou informações num serviço público. Cada caso é um caso e por isso marcado pela particularidade. As pessoas são diferentes, e ainda bem, ou seja nem todas reagem da mesma forma aos estímulos e aos problemas!!! E nem todas interiorizam o modelo relacional e afectivo dos trópicos, mesmo quando lá não estão. Estou certa que é essa complexidade que faz da vida algo tão interessante, principalmente porque temos a capacidade e a possibilidade de escolher o que mais nos convém. Esta agora lembrou-me a Sara Tavares, quando canta “sei que posso fazer tudo, mas nem tudo me convém”
“Andas muito bem disposta e risonha”, dizia-me alguém com quem já não falava há muito. Sim, risonha estava porque actualmente as nossas conversas fazem-me rir. Mas não diria que estivesse bem disposta, não particularmente. Esta pessoa entende as minhas recusas como uma forma de me “fazer difícil”, de demonstrar a inacessibilidade a que supostamente o pretendi remeter. Não é bem isso. Talvez até lhe possa dar um bocadinho de razão porque, no passado, terá havido alguns episódios inesquecíveis pela mágoa que geraram, simplesmente porque não eram aceitáveis e muito menos geríveis. Histórias... quem as não tem...?! Mas hoje, isso foi ultrapassado e o desconforto anterior deu lugar à impossibilidade actual. Não, porque não e porque, além do óbvio, os solavancos cardíacos são causadas por outro nome e por outras razões.
Não sei se em agricultura há terras que ficam impossibilitadas de serem plantadas para sempre, ou só por uma espécie, rejeitando-a a cada vez que é tentada a sua introdução, porque essa não é de facto a minha área. Mas uma coisa sei e posso garantir, a minha incapacidade para retornar ao passado é imensa, diria mesmo infinita, é total, principalmente quando o passado tem anos e, na altura própria, se revelou num mau ano agrícola. Outras terras serão, por certo, mais produtivas.

sexta-feira, 13 de maio de 2005

Matala

Bwa notxi Migu Malio.
Um amigo partiu esta semana para Matala, em mais uma missão. Matala é um nome bonito, alegre e muito sonoro e ele é uma excelente pessoa, com uma imensa capacidade de se voluntarizar, de trabalhar e de se adaptar às situações mais adversas. Vai lá ficar um ano e espero que vá dando notícias com regularidade. Boa viagem Mário e uma melhor estadia por terras angolanas. E espero que esta experiência de vida te enriqueça ainda mais. Um grande, GRAAAAANDE beijinho.

quinta-feira, 12 de maio de 2005

Gostos partilhados

O brilhantismo daquele encontro revelou-se nas afinidades. Gostavam de África e de Ilhas e acima de tudo encantaram-se por São Tomé, enamorando-se um pelo outro. Mas gostavam de mais, dos sorrisos e dos olhos dos santomenses com quem se cruzavam e com os quais trocavam uma ou outra palavra misturada com a intensidade do olhar, do ritmo leve leve e da descontracção só ali permitida, da paisagem, que alguns diziam monótona, pela densidade tão inspiradora, dos fins de semana partilhados e das actividades que realizavam em conjunto, das refeições a dois, a quatro, a oito, às vezes a mais, onde se reinventavam receitas e experimentavam paladares, do convívio que, por aquelas paragens, era obrigatoriamente intensificado.

Mudanças

Ao contrário da maioria, Z. gostava de ilhas. Transmitiam-lhe paz e tranquilidade, talvez por darem aos continentais como ele a sensação de que, sendo a vida tão contingencial e efémera, devia ser bem aproveitada. Todas as horas, os minutos, os segundos. Não valia a pena lutar contra o tempo, até porque ali era vivido de forma bem diferente. Nem brigar com as pessoas, afinal numa ilha todos eram necessários e importantes. Também nas ilhas havia um sentido de protecção mais evidente, pelo natural limite do espaço e do mar, infinito e inconstante, tudo rodear. As ilhas fascinavam-no e seduziam-no e era nelas que ele se deixava envolver, lenta e ternamente pelo mundo dos afectos. “Um dia”, pensou, “hei-de mudar-me para uma onde sinta que é a minha casa. Mas tem de ter calor, e muitas árvores e flores, e praias, e fruta abundante, e locais para passear, conhecendo pouco a pouco o desconhecido, e gente bonita, simpática e sorridente”. E foi assim que partiu para África, em busca do que não encontrara antes. E foi em São Tomé que se encontrou, que a viu e a conheceu. Foi ali que se envolveu e se perdeu de amores. E a partir daquela época nada mais ficou igual. Nem ele, nem ela.

quarta-feira, 11 de maio de 2005

Espaço Cultural - STP

Foi criado um novo blog, Espaço Cultural - STP, com o objectivo de divulgar os escritores, pintores, escultores santomenses, mas também os artesãos, os contadores de histórias e os contos tradicionais. A iniciativa partiu de alguns membros do e-Grupo Caminhadas e Descoberta em STP, entre os quais moi même, e os links aparecem referenciados ao lado.

terça-feira, 10 de maio de 2005

Continuando...

E o dia assim continuou, chatinho e cinzentão qb, a acompanhar o meu estado de alma. Há mesmo dias assim, e há muito que não passava o dia a pensar "quem me dera que chegue amanhã". Não por nada de especial e bom que me possa acontecer amanhã, mas apenas com um objectivo, que esta sensação de "tempo mental farrusco e choviscoso" passe depressa com uma boa noite de sono.
Em STP havia dias assim, tristonhos e lamurientos, com uma diferença importante: estava sempre calor, muito calor. E um mergulho no mar, seguido de uma caminhada longa pelo areal em busca de conchas, revitalizava qualquer estado anímico menos fortalecido. E quando, mesmo assim, chegava a casa acinzentada, dedicava-me a tratar das conchas com cuidado e atenção. Lavava-as, esfregava-as, secava-as e envernizava-as. Hoje olho para elas com orgulho e a minha alma ilumina-se.

Dia Não...

O dia começou "não", chato, rezingão, implicativo e pouco simpático. Pensei eu ir à aulinha de danças latinas mas não há condições. Hoje é uma manhã em que, ao fechar os olhos, revejo a tranquila Baía de Ana Chaves.


Baía Ana Chaves e o Ilhéu das Cabras ao fundo. São Tomé, Novembro 2002
Posted by Hello

Ah... Leão!

"Diz-me, se me visses como um animal, qual seria?" - perguntou-me ele esperando uma resposta do género: leão. Era assim que ele se via. Másculo, forte, possante, dominador, rei da selva, bonito e... por natureza, pouco fiel. "Sabes que um leão africano é capaz de cupular com várias leoas, umas seguidas às outras? Não se cansa, é insaciável. Está em cima de uma e salta para outra. É daí que vem a expressão: Ah... Leão...", referia ele com orgulho.
Eu olhei-o, primeiro estarrecida, porque ainda não o conhecia bem, e depois divertida, e sorri a pensar "Mas os homens por vezes fazem cada associação de ideias... já para não falar nas perguntas...".
Com o tempo vim a perceber aquela conversa assim como a pergunta. Era redundante, um pouco simplista até. Não havia nada de muito elaborado senão a tentativa de mais uma conquista. Eficaz e rápida, efémera e sem contrapartidas, hedonista e egoísta qb, como na culinária. Ele pensava e relacionava-se com as mulheres como o leão, o famoso rei da selva, perante 10 fémeas. Todas hão-de ser suas... só que... à vez. E elas que se cuidem!

segunda-feira, 9 de maio de 2005

É preciso uma paciência...

É fantástico como algumas pessoas se dão ao trabalho de escreverem para quem não conhecem com conversa da treta, personalizando o discurso e fazendo-se passar sabe-se lá por quem. Não, não me estou a referir aos meus queridos leitores que, sempre que me escrevem, animam o meu dia, a noite ou a hora em que leio os seus mails. Refiro-me mesmo a pessoas que não se identificam mas que enviam mails com corações, músicas foleiras e mensagens que... Santo Deus, não pensaria nunca enviar a alguém, quer gostasse quer não suportasse. E o trabalho que isso dá... serão que não têm mais o que fazer?
Em STP recebia de quando em vez mails com endereços que não existiam , cheguei mesmo a receber uma declaração de amor de quem nunca vim a saber quem era. Só podia mesmo ser gozo. Depois recebia de uma "Maria Tristeza", um "Pablo te ama", ou "Não desesperes". Regressei e a brincadeira abrandou mas apareceu-me uma outra que se fazia passar por quem não era. Foi desmascarada, acho, depois de me dar uma seca de quase meia hora num café mexicano ao pé da AR. Não apareceu, como seria de esperar porque não se poderia revelar. Fiquei fula da vida e barafustei com quem de direito, o célebre que encantava moças como os indianos encantam cobras. Ficavam todas enfeitiçadas e embeiçadas, e ainda não percebi como o fazia. Mas pronto, isso não interessa agora para o caso.
A verdade é que fico estarrecida a cada vez que estas brincadeiras acontecem. Dá vontade de responder torto e dizer simplesmente... "JÁ NÃO HÁ... PACIÊNCIA´"... É que não fica nada bem dizer a frase original num blog público.

Abelha, formiga ou just me?

Como se chamará à sensação de sermos abelhas ou formigas? Laboriosas, trabalhadoras, atarefadas, engenhosas, sem paramento? Pois é assim que hoje me sinto. Não fora uma hora de tapete, bicicleta e remo seguido de outra hora de Yoga pela manhã, não chegaria a esta hora a fazer tantas coisas. Aquela posição do "camelo" deixou-me louca de dores nas costas. É o que faz não cuidar de mim, como deve ser, desde Março. África, sempre África no me pensamento, nas minhas acções, no meu trabalho. E mais não digo porque não posso. Não ainda, talvez mais tarde.

domingo, 8 de maio de 2005

Contos tradicionais de Cabo Verde

Andando de um lado para o outro na net, fui dar com o Verbumimagus, blog fantástico que divulga contos tradicionais de Cabo Verde. A reter e a visitar.

Reflexão agradecida

Não posso deixar de agradecer à Helena pela associação brilhante que fez. Sinto-me honrada ao ler o poema do Francisco da Costa Alegre "Negócio Filosofado". E é sempre oportuna a divulgação da arte santomense.

"Xicuembo" em livro

O Carlos Gil (Xicuembo) publica livro com registos do blog. Moçambique, África, lusofonia, entre outros temas estão na ordem do dia. Estou muito curiosa e desejosa que 18 de Junho chegue. Será nas Galveias (Campo Pequeno) pelas 18 horas. Apareçam por lá porque, se o blog tem qualidade, o livro promete. E a capa é simplesmente fantástica. Vejam-na aqui.

sábado, 7 de maio de 2005

Bazaruto no "Fazendo Caminho"

O Fazendo Caminho tem-nos habituado a excelentes leituras associadas a imagens muito bonitas. Mas este post é simplesmente fantástico. Vale a pena passar por lá, ler o poema e... apreciar a foto!!! Bazaruto, portanto!

Revitalização semanal

Há ainda, neste mundo desenvolvido e diversificado, locais agradáveis, porque tradicionais, onde é possível “ir às compras” e escolher a fruta e os legumes, conversar com os vendedores e ouvir as histórias que têm para nos contar. A sensação que, cada vez mais, as “grandes superfícies” me transmitem é de impessoalidade, frieza, desconforto. As feiras e os mercados locais tornam-se prazeirosos porque ainda nos permitem contactar com o produtor, aquele a quem gostamos de chamar com carinho de “saloio”, e ouvir as histórias semanais da vida deles. Quando numa semana não os encontramos perguntamos por eles aos vizinhos e preocupamo-nos ao percebermos que estão doentes, foram hospitalizados ou algo de pior aconteceu com eles ou com familiares. É como se tivessem passado a fazer um pouco parte de nós e nós da vida deles. Este sentido solidário e comunitário revela-se fantástico porque, quando não aparecemos num fim de semana, somos assaltados com perguntas na próxima ida. Melhor, ali ainda nos oferecem um ramo de coentros ou de hortelã ou um ovo porque não fica no cesto a fazer nada sozinho. Ir às compras tornou-se, para mim, numa prática de lazer ao fim de semana porque quando vou ao “meu mercado”, de rua e envolto por vegetação, revitalizo-me para a semana.

Um sapato para cada pé

Certo dia, ao contemplar a tranquilidade de um pôr do sol intenso, como só em África é permitido, e conversando com alguém que se revelou sabedor da vida e dos negócios do coração, ouvi uma frase que retive: "a cada pé o seu sapato", que é como quem diz, nem todos os sapatos se adequam a todos os pés. Uns são demasiado pequenos, outros grandes; uns excessivamente apertados, outros largos; uns magoam no calcanhar, apesar de parecerem justos, outros caem. Encontrar o sapato certo para o pé não é tarefa fácil, tanto que é frequente ouvirmos dizer “este não é sapato para o pé dela”. Mas não vale a pena desesperar porque acabamos sempre por encontrá-lo. Pode demorar mais ou menos tempo, implicar maior ou menor custo, ser mais ou menos bonito ou exuberante, mas a verdade é que, um dia, surge sem nós darmos conta . Comprar o tamanho abaixo não é boa estratégia só para resolver a situação porque, mesmo que o tentemos moldar, calcar ou alargar, nunca nos fará sentir confortáveis. Se for o tamanho acima, vai alargar com o tempo e por mais soluções que procuramos encontrar para reduzir o espaço a mais, teremos sempre a sensação que não foi feito para nós.
Requisitos para uma boa relação pé-sapato:
1. dar a sensação de conforto (ausência de dor e de odor, entre outros aspectos)
2. ser adequado ao modo de vida e às necessidades (prático ou sofisticado)
3. permitir uma caminhada longa e sem esforço, sendo portanto resistente às contrariedades (chuva, frio, calor, entre outras)
4. ter um princípio implícito de “fidelização” (não fica bem andarmos a trocar de sapatos)
5. ter uma boa imagem (aspecto subjectivo, claro está)
Quando penso nesta associação, tal como me falaram inicialmente nela, vem-me à ideia a misteriosa arte de amar. Aos requisitos mencionados, juntaria mais alguns:
6. sentido de humor
7. companheirismo, capacidade de compreensão e aceitação das diferenças
8. relativização dos problemas com preocupação pelo parceiro
...
E, naquele fim de tarde, percebi que há sempre um sapato para cada pé. Pena que nem todos pensem assim...

sexta-feira, 6 de maio de 2005

Calulu de Galinha, Pato ou Porco

Este post é dedicado à Helena, uma variação do Calulu de Peixe. Proponho a versão de carne que na minha opinião é incomparavelmente melhor. Uma refeição para preparar com tempo e calma, "leve-leve só", para saborear na tranquilidade de uma boa companhia.

Recebi agora mais uma informação interessante - na língua local, não se diz Calulu mas sim Cálu ou Kalu, pelo que o termo que utilizamos (e que sempre ouvi em STP) será uma africanização/aportuguesamento absolutamente desnecessária (Obrigada, amigo Alcídio).

Receita de CALULU DE GALINHA, PATO OU PORCO, gentilmente cedida por D. Alcinda Lombá (e transmitida pelo Paco)

Ingredientes
Galinha, ou pato ou carne de porco fumada);
Folhas (ponto, maquêquê, galo, ótage, olho de folha de goiabeira, quimi, margoso, mesquito, mússua, damina, matrussu, tartaruga...);
óleo de palma;
beringela;
quiabo;
cebola;
tomate;
pau de pimenta;
óssame;
fruta pão;
farinha de mandioca;
Modo de preparação
Picar as folhas todas e em pedaços pequenos (opcional moer ou amarrar e deixar cozer para depois pisar);
Preparar a carne (galinha, pato ou porco fumado) à parte;
cozer bem as folhas com fruta pão descascada em pedaços grandes, com pau de pimenta e óssame, óleo de palma e deixar cozer bem;
Juntar a carne, tomate, cebola, beringela, maquêquê, quiabo e deixar cozer "muito bem" (cerca de 3 horas ou mais);
tirar a fruta pão e deixar a panela a cozer bem;
adicionar água a gosto;
pisar bem a fruta e meter novamente na panela e deixar cozer até dissolver completamente;
Adicionar tempero, malagueta (opcional) e caldo;
Adiocionar folha de mosquito
Não esquecer o sal;
Come-se com banana cozida e pisada (angu de banana), com arroz ou/e farinha de mandioca

Calulu e Angu

Em Confissões e Desabafos de Savarin (77), a Helena do Digitalis apresenta-nos uma proposta de Calulu de Peixe e de Angu. Eu prefiro o de pato, galinha ou porco, mas fica o registo gastronómico, numa altura em que as receitas da culinária de São Tomé e Príncipe ainda não estão divulgadas.

Os contadores de histórias em STP

Ivo Ferreira e os Contadores de Histórias em STP

"Os narradores orais, contadores de histórias como também lhes chamam, são os guardadores dos tesouros da narração oral, histórias que passam de geração em geração. O realizador Ivo M. Ferreira foi encontrá-los em São Tomé e Príncipe e na bagagem trouxe memórias para dois documentários que a Cena Lusófona lança em Setembro em DVD: “Narradores Orais da Ilha do Príncipe” e “À Procura de Sabino e de outros contadores de São Tomé”. Em 2001, a Cena Lusófona lançou o projecto de identificar e documentar a presença e as performances dos narradores orais nos países de língua oficial portuguesa. O primeiro realizador a ser desafiado, para registar a tradição oral de São Tomé e Príncipe, foi Ivo M. Ferreira: “Quando o projecto me foi proposto eu disse que precisava de material. Foi aí que percebi que há uma lacuna muito grande de dados em relação a esta realidade e, especificamente, a São Tomé e Príncipe”. Mesmo sem as informações de que necessitava para iniciar as filmagens, partiu para a ilha do Príncipe, sem ter a certeza se regressaria com registos para apresentar. Na opinião de Ivo M. Ferreira, este primeiro trabalho, a que deu o nome de “Narradores Orais da Ilha do Príncipe”, reflecte um pouco a superficialidade de quem desconhece o universo que o espera. “Eu andei à procura deles, sempre a perguntar se alguém sabia quem contava histórias por ali”. Também ignorava as circunstâncias, quando são contadas as histórias. Isso ocorre, sabe-o hoje, na maioria das vezes quando alguém morre ou em datas de evocação de um falecimento. As pessoas reúnem-se numa casa ou num quintal e, ao longo da noite, há indivíduos “contratados” ou que aparecem a contar histórias. Filmar estes momentos poderia ter sido pouco natural, devido à presença da câmara, mas, segundo o realizador, depois de algumas horas de convívio e da desmistificação dos objectos de filmagem, público e contadores acabaram por agir naturalmente. Um dos aspectos mais ingratos na realização foi não conseguir captar as histórias, a não ser após tradução resumida. No entanto, para entender o lado performativo do contador e a forma como o fazia, Ivo Ferreira nunca precisou de tradutor. E conseguiu até intuir, através de gestos e posturas, quais os genuínos narradores orais, embora, na sua opinião, os sãotomenses sejam todos naturalmente teatrais: "Utilizam gestos e expressões que tornam o universo da oralidade num ambiente místico e encantatório que deslumbra qualquer ouvinte". “À procura de Sabino e outros contadores de São Tomé” é o resultado de uma segunda viagem do realizador ao mundo abordado no seu documentário anterior. Desta vez programou centrar-se mais na vida de um contador, acompanhá-lo no seu quotidiano, tentar perceber o que o levava a contar histórias. E surgiu um nome, alguém que as pessoas diziam ser um grande contador: Sabino. “Pensei, tenho de o encontrar. Ele simbolizava, por um lado, a resistência (embora fosse muito velho continuava a contar histórias), mas, por outro lado, simbolizava a inevitabilidade do fim desta tradição". Através de Sabino, percebeu, estava a contar a própria realidade do país. "Procurei-o. Fiz milhares de quilómetros naquela ilha cheia de buracos, matos e rios, dentro de um jipe. A certa altura comecei a filmar a própria procura do Sabino”. Para Ivo M. Ferreira, este documentário não significou só o registo dos narradores orais da ilha, suas histórias, mas também a dificuldade de os encontrar. Mesmo assim lamenta que num documentário deste tipo não exista espaço para ir um pouco mais longe em relação ao contador, conhecer mais acerca dele, das suas histórias. No decorrer do trabalho de campo, encontrou Caustrino Alcântara, pessoa esclarecida e sabedora que finalmente lhe conseguiu explicar todo o conceito que envolvia este universo da tradição oral, incluindo os vários tipos de histórias em activo. Alguém que, na opinião do realizador, conserva actualmente o maior espólio de histórias sãotomenses. Apesar de sentir que estes documentários podem ser algo muito efémero, no que respeita à identificação dos contadores, Ivo M. Ferreira acredita que tanto “Narradores Orais da Ilha do Príncipe” como “À procura de Sabino e de outros contadores de São Tomé” são pelo menos uma singela homenagem a estes zeladores de histórias. E de sonhos. A Cena Lusófona vai editar em DVD, em Setembro, “Narradores Orais da Ilha do Príncipe” e “À procura de Sabino e de outros contadores de São Tomé”. Neste DVD, que engloba os dois documentários de Ivo M. Ferreira, legendados em português, francês e inglês, podem também ser visionadas entrevistas com os principais intervenientes do Projecto Narradores Orais. Outras iniciativas editoriais estão em marcha. Ainda este ano, vai ser iniciada uma pesquisa sobre os narradores orais em Cabo Verde (a cargo de Catarina Alves Costa) e na Guiné-Bissau."

Difícil escolha, ou talvez não...

“Já pensaste que essa tua mania quase obsessiva, e que tem sido intensificada à medida que vais ficando mais velha, para o contacto com a natureza, a preservação, a protecção de espécies e a vida saudável te afasta da vida social?” – perguntou-me ele com ar crítico.
“Não, nunca tinha pensado nisso, mas provavelmente tens razão” – respondi-lhe de forma natural – “E tu, já pensaste que no contacto com a natureza, o risco de magoares os teus sentimentos é bem menor do que o que está implícito às relações humanas?”
“Talvez fosse inteligente encontrares um meio termo e, em vez de te sentires tão próxima dos animais, das plantas e das paisagens, podias olhar à tua volta e veres que há pessoas interessantes com muito para dar”
“Até podes ter razão. Mas... estás a referir-te exactamente a quem?”
Ele levantou-se da mesa e, sem responder, afastou-se. Ela sorriu e pensou no quanto os homens por vezes se tornam básicos. A natureza, na sua simplicidade, é muito mais interessante porque harmoniosa.

quinta-feira, 5 de maio de 2005

cup&cino em Santos

Uma ex-aluna minha, muito querida e que trabalhou comigo após se ter tornado socióloga, abriu um Cup&Cino em Santos. Não é por ter sido minha aluna ou por ter trabalhado comigo, mas é a simpatia e a eficiência em pessoa, que sempre teve o fascínio por África e que se deliciava a ouvir-me nos relatos, nas miragens de fotografias e nos sonhos.
Fica no Largo Vitorino Damásio (em frente à Caixa Geral de Depósitos ao pé da UAL-Boavista)
E-mail:
cupcino.santos@iol.pt
Telf: 213909471
Visitem-na que serão muito bem recebidos. Afinal é mais uma socióloga que se revelou uma mulher de coragem. O mundo é das mulheres está visto e das sociólogas em particular!!!! Parabéns, Joana!

Sabores do Mundo

Uma iniciativa interessante da ACIME e da UNESCO: Sabores do Mundo disponível na net. Pena não disponibilizarem receitas da Guiné Bissau e de São Tomé. Mas há de Angola, de Cabo Verde e de Moçambique. Permite pesquisar restaurantes, desde que se saiba o nome, identifica locais para compra de produtos por região e é um interessante intrumento pedagógico, já que explica as características e as finalidades das especiarias e principais produtos gastronómicos utilizados.

quarta-feira, 4 de maio de 2005

2005-2014: uma década importante

Estamos na Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (Nações Unidas - UNESCO). A ver vamos o que conseguiremos dentro de 10 anos. Será necessário mudarmos muitos comportamentos ao nível: político e de cidadania; económico; social; cultural; ambiental. Vamos a isso!

Aprendizagem ao longo da vida

Há pessoas que têm uma infinita capacidade de nos surpreender pela negativa desiludindo-nos. Ao fim de muito tempo de as conhecermos e de nelas confiarmos revelam-se. Ainda bem que são poucas. Ou talvez sejamos nós que vamos aprendendo ao longo da vida e nos tornemos mais cautelosos. Esta é a verdadeira e dura aprendizagem ao longo da vida...

O "Nómada da Pós Modernidade"

Quando pensava nele não sabia como o definir. Ao fim de um bom par de anos, desde que se tinham cruzado pela primeira vez numa África imensa, que ela definiria mais tarde como “o Grande Espaço”, porque olhando para a paisagem a imagem que retinha era de uma área infinita, conseguiu por fim encontrar uma expressão para o definir. Aquele era o que em Sociologia se chamaria de “nómada pós moderno”. Não parava quieto mais do que dois anos no mesmo local, e dois anos representavam a eternidade. Fugia dos outros, da vida e de si próprio. Procurava dar a ideia de ter uma elevada auto-estima, e por essa razão dava-se ao luxo de tratar os outros de forma variável, mas quase sempre mal. Tornava-se arrogante com as graçolas, dizia mal da África onde estava oficialmente para reconstruir a vida que lhe pregara partidas incontáveis apanhando-o desprevenido, mas na verdade estava ali de passagem e sem grandes expectativas. Enganava-se enganando os outros. Era um daqueles que se serviam das Áfricas deste mundo em proveito próprio e não pela paixão que poderia nutrir pelas terras e pelas gentes. Este “nómada pós moderno” era o tipo de pessoa que quem ama verdadeiramente África não quer encontrar, mas que infelizmente é muito mais comum do que se pode pensar à partida.

As relações Europa-África: o caso de São Tomé e Príncipe

O Seminário sobre “As relações Europa-África: o caso de São Tomé e Príncipe”, na Universidade de Aveiro (org: IEEI, IPAD, ECDPM) correu bem. Pena que os santomenses não tenham participado em maior número e de forma mais activa, o que teria permitido um debate mais proveitoso.
O grande tema foi o petróleo, claro está, e eu lá estive a defender estratégias alternativas com o turismo, no segmento ecológico. É que, se os resultados da exploração petrolífera não forem os que alguns ainda esperam, STP fica sem rumo. E isso é uma coisa que, na minha modesta cabeça, não deve e não pode acontecer. Há que encontrar alternativas, estratégias bem estruturadas e sedimentadas que complementem a aposta eufórica.
E no meio da generalidade céptica lá estive eu com optimismo reforçado, naif para alguns, voluntarioso para outros. E falei apaixonadamente, segundo me disseram mais tarde, mostrando slides com fotos ilustrativas das potencialidades e apelando para os efeitos benéficos. Claro que fiquei satisfeita com as avaliações finais. Só podia ficar, é sinal que a mensagem, que procurei transmitir, passou e foi bem entendida.

terça-feira, 3 de maio de 2005

Links

Ahah! Hoje sinto-me um pouco mais uma mulher dos tempos modernos. Há um bom par de meses que ando a "postar" e a "blogar", ora escrevinhando pensamentos, sentimentos, algumas histórias e muitas estórias, ora navegando pelas escritas alheias, deliciando-me e sonhando. Tenho privilegiado quase sempre os blogs sobre África ou que com ela têm afinidades. Apesar das tentativas não conseguira até hoje colocar links para consulta, com excepção dos directos nos posts. Mas, graças ao "meu colega" Adelino, santomense de gema, do Tristesantos e o Parto do Cavalo, comecei a introduzir os links pelos quais vou viajando e sonhando. Obrigada Adelino porque a tua explicação foi muito proveitosa.
A selecção vai aumentar porque tornei-me numa bloguista assídua.

Manual de sobrevivência em meios socialmente hostis

Presenciando cenas pela manhã bem cedo recordo uma pessoa que conheci em São Tomé e Príncipe há uma eternidade e de quem perdi o rasto há ...