quarta-feira, 29 de março de 2006

Guiné Bissau: quinta parte

O trabalho começou de imediato, o que foi bom. Afinal era mesmo para isso que eu ali estava. O ritmo foi intenso, não dando grande margem para parar e pensar, a não ser à noite após o jantar quando ficava na conversa com a Didi. Todos os que estavam envolvidos nesta fase do estudo, o trabalho de campo, corresponderam ao máximo das minhas expectativas, o que me deixou surpreendida, no bom sentido do termo entenda-se. Posso até dizer que por ter percebido que o envolvimento de todos era grande, bem como a vontade de atingir os objectivos que eu lhes propusera, aproveitei todas as potencialidades do “meu grupo”.

Encontrei pessoas interessadas e interessantes, disponíveis, sempre prontas a cumprir com as metas e a ultrapassar as dificuldades que iam surgindo. A frase que mais se ouvia e que passou a lema foi “não tem problema”, e na verdade era mesmo assim que eles pensavam, tudo tem uma solução. Trabalhei com o Leandro e o Armando, o Adelino e o Simôncio, o Flaviano e o Neto. A todos fica o meu agradecimento, pelo esforço e competência, pela dedicação e cuidado, pelo companheirismo e bom ambiente que permitiram em qualquer situação, particularmente nos momentos mais stressantes em que o medo me fez companhia. Nestas alturas, olhava-os e eles sorriam dizendo “Brígida, não tem problema, é normal”. Eu retribuía o sorriso mas não pensava como eles. Para o trabalho faltou-me um sector, o Cacheu, e foi pena porque gostaria de os ter conhecido também pessoalmente. Enfim, aguardei por eles dois dias mas, face à ausência de comunicação e de justificação, decidi alterar alguns dos pressupostos que definira e partir para o terreno com os presentes, avançando com o trabalho que era possível realizar.

O que este trabalho me permitiu de melhor foi a aquisição de experiência e de conhecimentos sobre a vida real das famílias nas tabancas. Aqueles são locais únicos, riquíssimos do ponto de vista humano, social e relacional, onde as pessoas mais do que viver, muitas vezes sobrevivem, sabe-se lá de que forma porque o que têm é tão pouco que nos custa a acreditar como ainda é possível sorrirem. A verdade é que o sorriso também não é uma expressão fácil para aquelas gentes, sejam crianças, jovens adultos, adultos ou velhos, homens ou mulheres. Os olhos são tristes e curiosos mas tímidos e a aproximação nem sempre é rápida como noutras regiões africanas que tão bem conheço.

Manual de sobrevivência em meios socialmente hostis

Presenciando cenas pela manhã bem cedo recordo uma pessoa que conheci em São Tomé e Príncipe há uma eternidade e de quem perdi o rasto há ...