De tempos a tempos sinto saudades de África, pela ausência de um conjunto de coisas que se vivem lá e que cá não se têm, sobretudo quando o frio me enregela os movimentos e me esfria os sentidos.
Tenho saudades do calor intenso salpicado por uma densa humidade, do cheiro misturado a terra molhada com frutas frescas, da sensação que por lá o tempo pára, permitindo-nos vivências redobradas, da ilusória receptiva disponibilidade que se procura ter entre todos, sem na verdade se ter.
Tenho saudades das praias de águas tépidas e transparentes habitadas por uma infinidade de espécies, das areias finas e dos coqueiros que, de vez em quando, libertam de forma natural um fruto, emitindo um som inigualável.
Tenho saudades da vegetação e dos animais, da vida ao ar livre e em contacto com a natureza, onde se aprende por observação directa, escutando as explicações de quem nos parece ter nascido ensinado, com dons e conhecimentos próprios, só possíveis naquelas terras, que vão sendo transmitidos de pais para filhos, sem paragens.
Tenho saudades de rir sem parar, de me sentir criativa quando procuro conchas ou cocos para decorar interiores, depois de os tratar e envernizar, de ouvir músicas ternas e envolventes, de inventar receitas para partilhar com um alguém que sinto como especial.
Tenho saudades dos mercados e das palaiês, das frutas e de tudo quanto se pode fazer com elas, dos peixes com nomes estranhos e do marisco com os mesmo nomes e aparências diferentes.
Tenho saudades de sentir saudades da civilização e do desenvolvimento, do cinema e do frio, dos livros e de vinhos caros, do conforto e de um centro comercial onde se possa gastar dinheiro a comprar coisas que nunca nos farão falta.
Tenho saudades até um dia voltar.