domingo, 19 de dezembro de 2004

Triste História: Em Moçambique I

Numa das Áfricas por onde passou, e numa das viagens de curta duração, Lai conheceu um homem misterioso, para quem a vida era um fardo, as acções e os comportamentos dos outros um enfado. Era um homem estranho e que, pela diferente forma de ser e de estar, lhe foi despertando curiosidade.
Conheceram-se, sem que ela o procurasse ou desse, de imediato, com a sua presença. Na verdade, nem sequer simpatizara com ele de início, pela forma directa e incisiva com que a abordou, opinando sobre as melhores opções que ela deveria tomar para ocupar os tempos livres, sem que ela lhe tivesse pedido qualquer indicação.
Lai recorda-se com exactidão desse dia. Estava com uma colega, que, com o tempo, se tornou amiga, e trocavam impressões acerca de uns dias livres que tinham e que queriam aproveitar. Zen queria ir para Bazaruto, um arquipélago lá para o norte, que se revelou incomportável, pelo preço e pela distância, mas o desejo era praia, pelo que qualquer outro local, que fosse dotado de extensos e desertos areais e de um mar a perder de vista, era o ideal. Lai, por sua vez, tinha o fascínio dos animais e ver elefantes e outras espécies em habitat natural era o seu sonho. Conversavam animadamente com uma loura que as atendia, de quem Zen tinha conseguido o contacto através de uma das inúmeras primas que tinha. A loura estava impávida e quase serena a escutar os argumentos de Lai, que vestia uns calções tipo macaco, brancos, encarnados e azuis, justos que realçavam o corpo, então torneado.
De repente, aparece um homem, alto, forte e alourado que, com a propriedade do conhecedor, propõe uma alternativa que poderia servir às duas - uns dias num lodge junto à foz do rio Limpopo onde a praia seria a tónica dominante mas com possibilidade de observar espécies. Lai olhou-o de relance e pensou quem seria este a opinar sem que lhe fosse pedido. Desconfiou de imediato e não sentiu empatia. Zen gostou dele, como quase sempre acontecia, por ser uma mulher crédula, apesar de mais velha e supostamente mais experiente.
Aceitaram a proposta e acertaram os pormenores e no dia combinado, para espanto das duas e de Los, o único colega do sexo masculino que as acompanhava, quem apareceu para os levar foi o patrão, nada mais do que Mi. Lai procurou dormitar os cerca de 300 km que efectuaram até ao destino, porque não se sentia confortável com a presença de Mi, que se tornava permanente, e enquanto os outros conversavam alegramente acerca de tudo o que iam encontrando.
A chegada foi fantástica e a imagem que Lai teve foi de se sentir num paraíso onde reinava a tranquilidade e a beleza da paisagem. Os quartos eram cabanas com telhado de colmo, enquadradas por vegetação pouco densa e um rio, o Limpopo, grande, extenso, pouco límpido. Mi foi-se aproximando de Lai, criando oportunidades de maior contacto e procurando o conhecimento. A estadia foi passada em conjunto e as actividades realizadas a quatro - Lai, Zen, Los e Mi. Foi divertido e tiveram momentos inesquecíveis que, apesar de tudo o que veio depois, Lai não apagará da memória, pelo encantamento reencontrado.

Manual de sobrevivência em meios socialmente hostis

Presenciando cenas pela manhã bem cedo recordo uma pessoa que conheci em São Tomé e Príncipe há uma eternidade e de quem perdi o rasto há ...