Há algum tempo que não vivia a época natalícia de forma intensa. Nos últimos anos tenho estado em África, no caso em São Tomé, chegando a Lisboa nas vésperas de Natal. As compras estão sempre feitas, o que não me obriga a recorrer aos centros comerciais apinhados de gente à procura da compra ideal no dia 24. A verdade é que tenho chegado e a sensação é estranhíssima: ver as ruas iluminadas, as pessoas num movimento imparável, o cheiro a castanhas assadas por quase todos os sítios por onde se passa, o trânsito pior do que é hábito.
Tenho-me poupado a algum stress mas tenho também perdido a parte boa: programar as festas, pedir as listas de desejos, para "falar com o Pai Natal", ver os ajudantes de Pai Natal nas ruas e relembrar a infância, quando o mistério nos fazia ficar acordados só para o ouvirmos, sem termos autorização de ir até à lareira. A verdade é que nem sequer tenho tido coragem de fazer os doces, pelo que os tenho comprado feitos e nas reuniões familiares sinto-me alheada das conversas e dos risos. E a sensação que tenho tido é muito estranha, de desenquadramento e de necessidade de ter mais tempo, sem ter o direito do pedir, para me adaptar à "movida" natalícia.
Em África, o Natal é vivido de forma muito diferente: não há frio e as folhas não caem das árvores; não há homens a vender castanhas e as ruas estão pouco iluminadas; não há pinheiros para enfeitar, nem musgo para o presépio; a "loucura" das compras não se coloca porque há pouco para comprar. É, para mim, a época mais difícil de viver em África, sobretudo por não ter a minha família por perto.