Estavam a conversar, à medida que ela bebericava chá verde e ele bebia um whisky bem servido, num ambiente cordial e tranquilo. Tentavam falar seriamente acerca de afectos, apesar de ser um tema de abordagem difícil para os dois, pelo que a brincadeira acabava por surgir de forma espontânea para amenizar os desencontros verbais.
Há uns anos o destino fez com que se cruzassem algures nesse mundo, acabando os afectos por se revelar, através de aproximações sucessivas chegando ao envolvimento que ambos desejaram. Amaram-se de forma desigual e entregaram-se rápida e fugidiamente. As diferenças, os desencontros e o desentendimento surgiram, perpetuando-se por uma eternidade marcada pela mágoa e pela incompreensão.
Um dia cruzaram-se de novo e reaproximaram-se. Falavam horas, sempre que se encontravam, sobre tudo e sobre nada. Parecia haver intimidade entre os dois mas na verdade não se conheciam, nos desejos e aspirações, nos receios, nos estilos de vida, nos projectos...
E apesar dos momentos passados a dois, hoje eram simplesmente dois desconhecidos. Procuravam definir, um ao outro, as pessoas que mais os marcaram e com quem tinham partilhado a vida, pensando assim ficar-se a conhecer um pouco melhor. Ela falou pouco porque os homens da sua vida eram poucos e ele, com curiosidade de ouvir o que ela pensava a seu respeito, perguntou-lhe:
- E a mim, numa expressão, como me defines?
- Tu... tu és um sonhador...