Lai recorda-se da curta estadia em Zongoene como se tivesse acabado de viver aqueles momentos. Tudo foi novo para ela, sobretudo as atenções e os cuidados que Mi revelava com ela, por tudo e por nada. Viveram-se momentos intensos num clima tranquilo, entre colegas e um desconhecido, de quem ela desconfiara tanto, mas que se ia revelando, minuto após minuto, um homem interessante. Falava com à vontade e conhecimento de qualquer tema e demonstrava estar bem informado sobre a ciência no geral, as questões sociais em particular, a literatura e a filosofia, o ambiente, a economia e a política. Conhecia todos por lá e todos o tratavam com cordialidade, o que não era estranho dado ser este o seu trabalho, mas era absolutamente reconfortante porque fazia dele uma pessoa confiável. Numa palavra era um cavalheiro.
Durante aqueles dias, Zen e Los não largaram Lai com piadas e sorrisos que a iam deixando desconfotável e sem graça, corando e revelando, de forma inconsciente, que ele não lhe era indiferente. À conta de tanto o repetirem, Lai começou a perceber algum interesse manifesto de Mi, mais do que seria habitual, e sabia-lhe bem tanta procura e atenção, sobretudo porque acreditava que esta era uma situação passageira, sem outras consequências além do conforto para o ego. A ideia de se envolver afectivamente com Mi estava longe da cabeça de Lai para quem os afectos não surgiam de forma repentina.
A generosidade dele confundia-a e por isso procurou abordar a questão em conversa privada com a amiga, com quem partilhava o quarto, como preocupação – era bom mas estranho. Ela estava habituada a viajar pelo Mundo inteiro, desde que se conhecia como gente, e nunca tinha assistido a tamanha oferta por parte do dono de uma agência de viagens. Afinal este era o seu trabalho, como poderia oferecer sem parar? Mas para Zen tudo era demasiado simples. Mi queria envolver-se com Lai e era uma forma de se aproximar dela, insinuando-se e com demonstrações de afecto. Mas Lai não queria acreditar nesta hipótese porque tudo lhe parecia demasiado básico e linear, ela nunca tinha vivido uma história assim e não seria esta a primeira, argumentava cheia de certezas.
Quando a hora da despedida surgiu, ficaram as promessas de Mi de uma visita e de um reencontro com todos, passado pouco tempo, para um prometido bacalhau à brás, que fazia as suas delícias, segundo dizia.
A viagem Maputo-Lisboa foi feita sob o efeito anestésico de uma série de evidências que Lai se recusava a reconhecer, sobretudo para os dois colegas, mas que a deixavam nas nuvens. Mi não era bonito, era um homem com um físico banal, dotado de uma proeminência estomacal que revelava alguma tendência para a bebida, aliás confirmada com a estadia em Zongoene. Mas era muito simpático, atencioso e cativante para trocar dois dedos de conversa.
O regresso ao trabalho foi penoso depois daquela temporada passada nos trópicos e o tema de conversa rolava à volta das fotografias e de lembranças alegres, descontraídas e promissoras. A troca de mails iniciou-se de imediato, tornando-se mais do que diária, quase horária e daí às conversas em tempo real através do messenger foi um passo. A ansiedade do reencontro cresceu e Lai respondia aos mails de Mi, que não escrevia a mais nenhum dos colegas, com gosto de dedicação, esperando nova mensagem, ou melhor novo texto, extenso, longo, traduzindo vontades que ficaram por satisfazer.
E o final de Setembro daquele ano, já lá vão 6, chegou e Mi aterrou em Lisboa com vontade de ver e rever Lai. Ligou-lhe numa manhã de domingo e combinaram um almoço, em casa de uns amigos dele, de sempre. Foi estranho aquele dia e auspiciou a melhor e a pior sucessão de acontecimentos que ela viveu até hoje.
Depois de um arroz de pato na casa do casal amigo, que olhava para ela com desconfiança, onde existiam duas adolescentes e uma criança, duas iguanas enormes num aquário gigante na cozinha e um hiper cão preto no pátio exterior, Lai e Mi sairam e foram passear até Sintra. Falaram durante horas, que passaram num ápice enquanto tomavam um café prolongado no Moinho, de tudo e de nada, do passado e do presente e quando chegaram às Azenhas do Mar, como se de cena de filme se tratasse, Mi agarrou-a e beijou-a, lenta e ternamente com as ondas a rebentarem mesmo atrás deles.
E lá começou mais uma história que poderia ter tido muitos finais diferentes, mas aquele que estava destinado foi infeliz, marcado por desencontros, ausências e incompreensões.
Durante aqueles dias, Zen e Los não largaram Lai com piadas e sorrisos que a iam deixando desconfotável e sem graça, corando e revelando, de forma inconsciente, que ele não lhe era indiferente. À conta de tanto o repetirem, Lai começou a perceber algum interesse manifesto de Mi, mais do que seria habitual, e sabia-lhe bem tanta procura e atenção, sobretudo porque acreditava que esta era uma situação passageira, sem outras consequências além do conforto para o ego. A ideia de se envolver afectivamente com Mi estava longe da cabeça de Lai para quem os afectos não surgiam de forma repentina.
A generosidade dele confundia-a e por isso procurou abordar a questão em conversa privada com a amiga, com quem partilhava o quarto, como preocupação – era bom mas estranho. Ela estava habituada a viajar pelo Mundo inteiro, desde que se conhecia como gente, e nunca tinha assistido a tamanha oferta por parte do dono de uma agência de viagens. Afinal este era o seu trabalho, como poderia oferecer sem parar? Mas para Zen tudo era demasiado simples. Mi queria envolver-se com Lai e era uma forma de se aproximar dela, insinuando-se e com demonstrações de afecto. Mas Lai não queria acreditar nesta hipótese porque tudo lhe parecia demasiado básico e linear, ela nunca tinha vivido uma história assim e não seria esta a primeira, argumentava cheia de certezas.
Quando a hora da despedida surgiu, ficaram as promessas de Mi de uma visita e de um reencontro com todos, passado pouco tempo, para um prometido bacalhau à brás, que fazia as suas delícias, segundo dizia.
A viagem Maputo-Lisboa foi feita sob o efeito anestésico de uma série de evidências que Lai se recusava a reconhecer, sobretudo para os dois colegas, mas que a deixavam nas nuvens. Mi não era bonito, era um homem com um físico banal, dotado de uma proeminência estomacal que revelava alguma tendência para a bebida, aliás confirmada com a estadia em Zongoene. Mas era muito simpático, atencioso e cativante para trocar dois dedos de conversa.
O regresso ao trabalho foi penoso depois daquela temporada passada nos trópicos e o tema de conversa rolava à volta das fotografias e de lembranças alegres, descontraídas e promissoras. A troca de mails iniciou-se de imediato, tornando-se mais do que diária, quase horária e daí às conversas em tempo real através do messenger foi um passo. A ansiedade do reencontro cresceu e Lai respondia aos mails de Mi, que não escrevia a mais nenhum dos colegas, com gosto de dedicação, esperando nova mensagem, ou melhor novo texto, extenso, longo, traduzindo vontades que ficaram por satisfazer.
E o final de Setembro daquele ano, já lá vão 6, chegou e Mi aterrou em Lisboa com vontade de ver e rever Lai. Ligou-lhe numa manhã de domingo e combinaram um almoço, em casa de uns amigos dele, de sempre. Foi estranho aquele dia e auspiciou a melhor e a pior sucessão de acontecimentos que ela viveu até hoje.
Depois de um arroz de pato na casa do casal amigo, que olhava para ela com desconfiança, onde existiam duas adolescentes e uma criança, duas iguanas enormes num aquário gigante na cozinha e um hiper cão preto no pátio exterior, Lai e Mi sairam e foram passear até Sintra. Falaram durante horas, que passaram num ápice enquanto tomavam um café prolongado no Moinho, de tudo e de nada, do passado e do presente e quando chegaram às Azenhas do Mar, como se de cena de filme se tratasse, Mi agarrou-a e beijou-a, lenta e ternamente com as ondas a rebentarem mesmo atrás deles.
E lá começou mais uma história que poderia ter tido muitos finais diferentes, mas aquele que estava destinado foi infeliz, marcado por desencontros, ausências e incompreensões.