sexta-feira, 3 de dezembro de 2004

O que é um Amigo

Em África há uma enormíssima contradição, a maior de todas, para os portugueses que procuram (con)viver uns com os outros - todos são "grandes amigos" mas em nenhum se pode confiar verdadeiramente. Fui jantar com uma amiga, que conheci numa das Áfricas pelas quais passei, e falámos sobre as amizades. Dizia-me ela que era estranho que no nosso grupo de amigos houvesse tanto maldizer, comentários sobre a vida alheia, mas sem que os próprios tivessem conhecimento directo, não se podendo portanto defender. Eu já sabia, até porque fui, entre outras pessoas, um dos alvos dessas conversas. E, a dada altura, tudo passou a ser demasiado óbvio.
Amigos por lá fiz poucos, tal como toda a gente. Mas no que toca a conhecidos... fiz muitos, conhecia toda a gente e toda a gente me conhecia. Ela estava desagradada porque não compreendia como, pessoas que estavam permanentemente juntas, que não faziam nada umas sem as outras, que partilhavam momentos - bons e maus - vivências e tudo o que fosse, podiam criticar-se tanto, sem frontalidade, sem abertura, sem sinceridade. Parecia-lhe uma atitude desonesta, por parte desses "amigos".
Vim para casa a pensar que a vida é muitas vezes injusta e severa, que as provas pelas quais temos de passar não nos facilitam os maus momentos, agravando-os e que as pessoas em quem procuramos confiar, em certos contextos, não merecem um minuto do nosso pensamento, quanto mais dias, semanas e meses de convívio. Pensei no que ela teve necessidade de me contar ao fim de tanto tempo, e falei pouco, como seria de esperar dado o tema da conversa ser sensível. E lá fui reler um dos livrinhos de bolso, temáticos.
"Um amigo é alguém que pensa em ti e te ouve e te ajuda a saber o que tu és. Alguém que te ajuda a descobrir as coisas, alguém que está contigo e não tem pressas. Alguém em quem tu podes acreditar".
in Um Amigo, Editorial Presença

Manual de sobrevivência em meios socialmente hostis

Presenciando cenas pela manhã bem cedo recordo uma pessoa que conheci em São Tomé e Príncipe há uma eternidade e de quem perdi o rasto há ...