São Tomé e o Príncipe são ilhas perigosas
por terem mistério. São terras encantadas que cegam e inebriam, desenhadas pelo
contraste das cores, adocicadas pela intensidade dos cheiros e moldadas pelos
afectos, pelas emoções e sensações que as vivências nos permitem experienciar,
recriar e reinventar. Tudo se vive intensamente por aqui e, apesar do leve-leve
que paira no ar e que todos parecem respirar e transpirar, o que vai dentro de
cada um só o próprio pode dizer. Toda a situação vivida se transforma rápida e
abruptamente num turbilhão acelerado e descompassado desembocando em caminhos
tão diversos que podem traduzir estradas direitas, trilhos em espiral ou
picadas repletas de obstáculos. É a vida de quem visita as ilhas... Chegando aqui,
os mais contidos transformam-se, os introvertidos e tímidos extravasam emoções
e os mais extrovertidos ganham mais e mais vida. Todos - ou quase
todos - passam a viver com outro ritmo mais enquadrado, mais sentido, mais
simples. Mais dia menos dia, o leve-leve acaba por se instalar e invade-nos mobilizando-nos e dando
lugar à descontração e à alegria. Tudo o que não é essencial passa a ser
automaticamente relativizado e desvalorizado. O essencial ganha terreno e o
centro do nosso olhar são as pessoas, os espaços, a natureza. Invariavelmente sentimos-nos
mais introspectivos e contemplativos. Os dias assumem o ritmo dos encontros e
os horários são orientados pelo tempo de vida que ganhámos a conversar, a rir,
a conviver, a experienciar, a ser...
São Tomé, 2 de Abril de 2014