Desde a primeira viagem até hoje posso até enumerar o que
mudou nas ilhas. E não foi pouco... Lembro-me, como se fosse hoje, de estar
sentada no Passante a escrever, tal como em tantos outros momentos. Dessa vez,
e na falta de um caderno ou de um bloco - ainda não tinha assumido
conscientemente a necessidade de escrevinhar sobre quase tudo - registava num
guardanapo de papel as minhas primeiras impressões. Rapidamente adquiri o gosto
de observar e anotar como se precisasse de registar para jamais esquecer. No
rádio atrás de mim soava uma música ritmada e de batida intensa, de letra
envolvente, quente, até explícita no significado. Já não a consigo identificar
mas recordo a sensualidade dos sons e das palavras que apelavam aos sentidos. Num
primeiro final de tarde a sonoridade enquadrada pela tranquilidade do mar à
minha frente fez-me pensar que aquela ilha poderia vir a ser um local especial
para mim. Não me enganei... passou a ser o meu lugar, o meu refúgio, o meu
espaço onde me sinto verdadeiramente eu. Como sempre faço comecei a observar as
pessoas que iam aparecendo e que, em média, ficavam por períodos de meias horas. Nos
dias seguintes fui vendo as mesmas caras regressar uma e outra vez em diferentes
alturas do dia e sempre que também por lá permanecia. Coincidência - pensei eu
- de novo os mesmos. Mas na vida não há coincidências. Aquelas caras que fui reconhecendo transformaram-se em pessoas
que marcaram as minhas primeiras viagens ao arquipélago mas que, de uma forma
geral, o destino acabou por afastar. Foram pessoas importantes, que hoje
recordo com um sorriso, porque cada uma à sua maneira me ajudou a viver
momentos felizes. Cada uma contribuiu para a pessoa que hoje sou. A algumas perdi
o rasto, de outras vou sabendo de quando em vez e de outras fiquei amiga
para a vida. Hoje, ao regressar, depois de tantas voltas, e passando pelos
mesmos locais, relembro os melhores momentos que por ali vivi, faço por embaciar
os menos felizes porque entendo que na vida devemos guardar o melhor e, de novo, acomodo-me confortavelmente para escrever mais páginas sobre
experiências e vivências em São Tomé e Príncipe onde nada se repete mas tudo se
revive.
Depois de um almoço ligeiro no Passante, ao chegar ao Ilhéu. Abril 2014
Depois de um almoço ligeiro no Passante, ao chegar ao Ilhéu. Abril 2014