quinta-feira, 8 de abril de 2010

Luanda: impressões, parte I

Em Luanda oiço as notícias sobre o mais recente golpe de Estado na Guiné-Bissau, depois de ter recebido um sms de um amigo dando conta de mais uma crise. De novo a instabilidade que regressa àquele pequeno país africano, tão rico em gentes e culturas, tão pobre em recursos. Tão vulnerável a esquemas paralelos e não formais.

A vida em África é dura, penso nisso sempre que lá estou. A Guiné-Bissau parece ser um laboratório vivo de dificuldades e dureza, como se fosse necessário provar uma vez mais a capacidade de resistência. Pois se alguém tem dúvidas, pode ficar tranquilo. A população da Guiné-Bissau é resistente, aguenta fundo quase tudo e merece ter paz, nem que seja por tudo o que já passou.

Em Luanda a vida também é dura, difícil, repleta de problemas e constrangimentos, mas a aparente estabilidade político-governativa parece aliviar, superficialmente, as dificuldades do dia-a-dia. Pelo menos adormece-as. A vida também se faz de esquemas, trocas e baldrocas, mas os níveis são diferentes, superiores, inflaccionados. E quem se conseguir mover nos círculos certos e no momento oportuno consegue passar à frente e avançar na vida. Quem não consegue fica para trás... muito para trás, esquecido, como se não existisse ou fosse um ser de outro planeta bem distante. É duro viver de forma bloqueada, para alguns sem esperança, porque o futuro não chega, fica lá mais à frente num apeadeiro qualquer onde o comboio não pára. Nos bairros periféricos não há futuro, só presente e passado. O passado foi melhor do que o presente. A vida não se faz fácil e a fé esmorece abrindo caminho para novos cultos, ou quem sabe os mesmos mas com novas formas e diferentes protagonistas. Tudo vale para fazer passar uma fé em troca de um contributo sob a forma de dízimo, umas vezes mais e outras menos, mas proporcional ao rendimento anual do crente. As igrejas proliferam, são de todas as formas e feitios, sempre atentas às fragilidades de uns ou de outros. Até é pouco justo que seja nas situações de maior insegurança ou desconforto que os novos mentores de uma fé desmontável surjam como salvadores, mas aposta-se na crença de que fica garantido um lugar de paz na passagem para uma outra vida qualquer...

Manual de sobrevivência em meios socialmente hostis

Presenciando cenas pela manhã bem cedo recordo uma pessoa que conheci em São Tomé e Príncipe há uma eternidade e de quem perdi o rasto há ...