Ao longo da nossa vida e nas mais diversas circunstâncias, todos nós nos cruzamos com pessoas que, pelos mais diversos motivos, nos são desagradáveis, com as quais antipatizamos ao primeiro olhar, e pelas quais passamos a nutrir uma espécie de ódiozinho, que vai sendo alimentado com o tempo e por novas situações que vão surgindo. São os nossos ódios de estimação, sem os quais uma parte da nossa existência ficaria esvaziada de conteúdo e motivação. Tudo neles nos irrita, até só a simples constatação que existem e que um dia, pela força do destino e para nossa tremenda infelicidade, passaram a fazer parte das nossas vidas. Na verdade, nem queremos pensar neles mas há sempre um “quêzinho” que não nos larga e nos persegue, fazendo lembrar que os caminhos pelos quais eles passam se cruzam com os nossos. Na maioria das vezes nem sequer nos achamos na obrigação de lhes dar o benefício da dúvida, e com razão: ou nos prejudicaram até à exaustão num passado mais ou menos recente; ou nos tentam prejudicar nos dias de hoje; ou tentarão fazê-lo, com toda a certeza, mais dia menos dia. Não há como fugir das artimanhas destes terríveis seres que, vá-se lá saber porquê, em tudo o que fazem e com quer que contactem, interferem com o nosso bem estar, com a nossa sanidade mental e com a nossa vida em geral.
Em São Tomé havia um ódiozinho de estimação generalizado para os portugueses residentes. Ninguém gostava dele e era o tema de conversa preferido da maioria, que relatava episódios diários, denegrindo a imagem, que já era naturalmente pouco favorecida, daquele indivíduo pouco dado a simpatias. Uma coisa é certa, quando se deixava de falar dele por uns dias, sentia-se falta e a conversa retomava. Ainda hoje, quando alguns dos ex-residentes se encontram, o tema acaba por ir ter sempre ao mesmo. Faz parte, é quase um ritual e torna-se divertido porque dinamiza os encontros. Sem ele, muitos de nós, que o conhecemos, não seríamos iguais ao que somos hoje.
Mas mais estranho é vermos o problema ao contrário. Nunca, ou poucas vezes, pensamos que podemos ser o ódiozinho de estimação de alguém. Mas somos... (continua)