domingo, 5 de setembro de 2004

Diário de um "Bom Malandro"

A minha vida mais parece uma rede rodoviária com estradas paralelas, que não se cruzam por não as poder viver todas ao mesmo tempo. Uma amiga chamava-lhes vidas paralelas, mas eu prefiro pensar que são estradas, avenidas ou caminhos que me levam – ou podem levar – a algum lado. Pensando bem, eu próprio sou dividido e não gostaria de ser de outra forma.
Não minto mas, às vezes, não posso dizer toda a verdade. Não digo, não falo, calo-me ou não respondo! Mas a culpa não é minha, é delas que querem sempre saber mais do que devem, do que desejariam saber... quando sabem... ou do que posso contar. Na verdade, se lhes contasse, ficariam a saber tanto quanto eu e isso não pode ser. Nunca se contentam com o que têm e com o que eu lhes dou. E se dou... dou-lhes mais do que posso... O problema é esperarem demais e pedirem sempre mais. Querem, querem, querem... não páram de querer e de pedir - mais amor, mais afecto, mais atenção, mais tempo juntos, mais...
Um homem tem de manter a descrição e a compostura, mas não é de ferro e fica sensibilizado com a beleza feminina e isso não é fácil de esconder. Poucas são as que não me despertam atenção. Sou um homem sensível e, bem vistas as coisas, toda a mulher tem a sua beleza, apesar delas não a verem, umas nas outras. Ou vêm mas não dizem.
A sensibilidade masculina é apurada, apesar delas nos chamarem insensíveis com muita facilidade, o que revela que, na verdade, não nos compreendem. Há qualquer coisa no corpo de uma mulher que faz com que a minha atenção e energia se concentrem – o balancear das coxas acentuado pelos tecidos colantes, os olhos meigos e a voz doce e arrastada que lhes dá uma enorme sensualidade, o fogo da pele ou a delicadeza dos gestos quando nos tocam no braço chamando-nos a atenção para o óbvio como se de uma maravilha se tratasse. As mulheres são encantadoras é é muito fácil para um homem apaixonar-se - pelos olhos de uma, a boca de outra, os seios fartos e redondos de outra, o quadrante firme de outra, as pernas longas e bem desenhadas de outra, pela cintura estreita, o sorriso ou... Apaixonamo-nos, por nada em particular mas o nada pode ser tudo e somos levados à loucura e ao delírio.
E quem lhes consegue explicar que quando dançam, coladas corpo a corpo... alteram a estrutura de um homem, mesmo que antes não tenham tido nada com ele... As danças quentes e as batidas ritmadas mexem com a masculinidade de qualquer um. Elas balançam-se, colam-se, enroscam-se, envolvendo-nos numa rapidez de sentires que não se consegue explicar porque apenas se sente. Não há como aguentar, por mais que um homem tente. Mas para quê forçar a natureza e ir contra os impulsos e as vontades? Não é por mal, é assim, mas elas não percebem. Falam logo em traição e em troca, desencadeando confusões e discussões sem razão e sem motivo.
Afinal, sou um homem comprometido e responsável do meu dever, mas quando as sinto a oferecerem uma entrega passageira mas intensa, deixo de ser eu quem ali está. Mas querida... é só por um bocadinho, isso não altera a ternura que sinto por ti, o quanto te quero e te desejo. São pulsões, entendes? São momentos, minha linda, porque tu és para sempre.
Não te vás, por favor, que sem ti não sou ninguém...

Manual de sobrevivência em meios socialmente hostis

Presenciando cenas pela manhã bem cedo recordo uma pessoa que conheci em São Tomé e Príncipe há uma eternidade e de quem perdi o rasto há ...