terça-feira, 31 de agosto de 2004

Que ele esteja bem

E, de quando em vez, tinha necessidade de ter notícias dele.
Nunca mais o quis ver ou falar-lhe directamente.
Afinal ele tinha sido o causador de um longuíssimo sofrimento,
uma ferida que, ao fim de um bom par de anos, continuava por sarar.
Mas, apesar de orgulhosamente não reconhecer,
no seu intímo gostava de saber que ele estava bem ou que ia indo.
Isso era um bom sinal.
Significava que estava vivo e que a vida se encarregava de o ir transportando,
sabe-se lá por que caminhos.
Mas ele sobrevivia às intempéries e às tempestades, aos verões tórridos,
às emoções e às desilusões desta vida.
Tal como ela. Mas à distância.
Porque em proximidade, ela nem sequer pensava.
Bastava-lhe saber que a vida continuava.
E assim inconscientemente sentia-se mais confortada.
Ela não era má pessoa, muito pelo contrário.
Apesar do transtorno afectivo que ele lhe causara, desestruturando-a, não lhe desejava mal.
Ele que seguisse o seu caminho em paz e que lhe permitisse, de quando em vez, saber dele.
Que estava bem. E ela sentia-se confortada com isso.

Manual de sobrevivência em meios socialmente hostis

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