Estou profundamente triste
pela tua perda, Bond. Triste sobretudo pela forma como tudo aconteceu e com uma
infinita mágoa com quem não cuidou de ti como precisavas e merecias. A tua vida terminou no Hospital Veterinário do Restelo. E as minhas impressões são as piores. Já
eram antes porque tiveste o azar de andar por lá quando eras cachorro e tudo correu mal. Agora voltou a correr mesmo mal e só foste para lá porque o teu veterinário, que te acompanhou durante nove anos, incluindo três cirurgias, a última na véspera da tua passagem, me recomendou que era a melhor.
O que se passou no espaço de tempo que não chegou a 36
horas foi simplesmente inenarrável, pelo menos, nesta altura, não consigo
traduzir por palavras o que me passa na alma e aperta o coração. Perdi um amigo
e antes já perdi muitos outros amigos de quatro patas. Todos tiveram o seu
espaço no meu coração e todos foram muito especiais, pelo que a perda também
sempre foi difícil de gerir. Mas, nesta altura, e depois do dia de ontem, mais
do que simplesmente a perda de um cão que era muito importante para todos nós,
o que maior mágoa causou foi a forma como foste destratado. Tu e nós.
A
odiosa e excessiva vertente comercial do Clínica Veterinária do Restelo, que
parece existir apenas para cobrar sem que a assistência corresponda, em
particular numa situação de urgência, a ausência de resposta eficaz, o total
desconhecimento do veterinário que te acompanhou, que estava mais em branco
e no vazio, agindo às apalpadelas para fazer o diagnóstico, do que qualquer uma
de nós, o sentimento de engano permanente e sucessivo que durou horas
infinitas, o confronto muito consciente da pouca importância que nestas
ocasiões temos e a incapacidade de ir ao encontro da angústia que se sente
perante um vazio total. Tudo foi vivido de forma desconcertante.
Como
tive a oportunidade de dizer ao muito jovem veterinário que tiveste a
infelicidade de conhecer, não sei se o problema foi apenas incompetência ou ignorância
na forma de melhor cuidar, mas certamente que a atitude de vendedor de banha da
cobra para quem tudo vale e serve com o simples objectivo de faturar umas boas
centenas de euros perante a fragilidade alheia não foi a mais adequada para
ninguém. Antes de chegarmos ao inferno que se revelou a Clinica Veterinária do
Restelo, não sei se o enquadramento da cirurgia, supostamente bem sucedida,
influenciou de alguma maneira o seguimento do teu estado. Para nós, o final
da tua vida ficará envolto em incerteza e mistério, não sendo de todo claro o
que aconteceu. A única coisa que é para mim clara é que me fazes falta. Uma falta indescritível, profunda, infinita. Muito verdadeira. Tu eras parte de mim e isso aquela gente não entenderá jamais porque tratarem de animais ou engraxarem sapatos é quase o mesmo. Tu eras o nosso amarelinho, o fuça, o pateta querido, o beiçolas, o Bondinho. Eras tu e isso era tudo! Fiel e dedicado, protector e companheiro, Amigo apaixonado.
Ao
longo do dia, o cenário foi dantesco. Quiseram fazer-te uma transfusão quando
tinhas os níveis da hemoglobina normais e não tinhas anemia… mas a ideia que me
passaram foi que virias a precisar passadas duas horas; quiseram submeter-te a
nova cirurgia desta vez ao abdómen porque supostamente estavas com hemorragias
que podiam ser uma metástase hepática, mas não havia sangue. Quiseram saber se
a hemorragia era “por cima ou por baixo”… sem que eu percebesse ao certo o que
me perguntavam porque, na verdade, não havia nenhuma hemorragia… e o tempo foi
passando. Não fizeste nada disso. Tinhas de ficar internado pelo menos 3 dias mas tiveste uma paragem
ao fim de uma hora de eu ter saído. Precisavas de oxigénio, mas como era hora de
visitas, terão retirado e iriam colocar depois de sairmos… Terás tido
oxigénio em algum momento???
Peço desculpa, mas tenho todo o direito de
questionar… de questionar tudo porque me senti ludibriada. Todas as soluções
que me davam resultavam num simples aumento de custos. Com o coração como tinhas na altura, mais uma anestesia seria "fantástica" porque fulminante, mas
teria de ser paga. Isto é roubo! Qualquer leigo perceberia que não tinhas nenhuma hemorragia nem condições para ser aberto. Tinhas o coração
fraco mas o veterinário não questionou essa possibilidade...O coktail do dia anterior terá sido bombástico... anestesia prolongada e medicação em doses cavalares.
Não foste bem tratado porque não recebeste os cuidados que
necessitavas. Por desconhecimento e falta de experiência, por simples
incompetência ou desinteresse. Não sei!!! A ideia que me passaram ao telefone
foi que, perante a paragem cardíaca, a Clínica Veterinária do Restelo terá
feito tudo para te salvar. Pois sim, pode ser… eles podem dizer o que quiserem e
bem entenderem, mas eu vi como estavas. Ninguém me contou. Cães
monitorizados naquela sala???? É uma mentira pegada. Nenhum estava!… Eu vi…!
Uma vergonha, numa clínica veterinária onde os cuidados são pagos a peso de
ouro, onde se faz uma ecografia abdominal e um raio-x, mas não um electrocardiograma
quando o coração estava a fraquejar? Onde se fazem análises de sangue a N
coisas, mas não às funções cardíacas para despistar enfartes. Provavelmente foi
o que tiveste. Quando o veterinário foi confrontado pela minha irmã que é
médica, limitou-se a anuir, mas antes não colocou esta hipótese. Se neste
processo não houve má fé, certamente houve incompetência.
Não,
não estou satisfeita e não poderia estar quando me fazem quatro orçamentos
diferentes ao longo do tempo em que ali estive, paguei um balúrdio e partiste. Nesta altura acredito que foi o melhor para ti, paraste de sofrer e estarás certamente num lugar melhor. Mas foi tão duro sentir que te perdia e que estava impotente para o que quer que fosse. Como poderia estar satisfeita? E a comunicação por telefone foi nestes
termos: “É a dona do Bond? Ah… Olá, está boa? Pois não tenho boas notícias para
si, o nosso amigo teve uma paragem, eu fiz tudo o que era possível para o
reanimar mas ele não resistiu”. Como é????? “Ah… Olá, está boa?” para me dar a
notícia da tua morte???? Não estava boa, não, e depois da conversa com
ele menos fiquei, como deve ser óbvio para alguém que tem dois dedos de testa e
sabe pensar com sensibilidade. O “nosso amigo”???? – será que não tem noção???
Não, não tem! Amigo é o que cuida, o que conhece, o que se dedica, o que não abandona! E aquela figura de bata verde passeou-se durante todo o tempo com um frasco de sangue supostamente teu, mas não cuidou de ti. Não foi teu amigo!
Talvez fosse a hora de partires, talvez não
fosse possível estares mais tempo comigo e só posso agradecer pela oportunidade
que tive de usufruir da tua alegria e amizade, da tua nobreza porque para mim, e para quem te tratou bem, foste um Amigo.
Grande. Enorme. Com uma grandeza e nobreza tão grandes como muitos humanos não
têm. Mas os funcionários desta Clínica não sabem o que são amigos e não sabem
cuidar de animais, não são sensíveis e aproveitam a fragilidade dos donos para
extorquir dinheiro porque é o que se faz ali. Aquela clínica existe para fazer
dinheiro e é muito triste perceber que o dono é o bastonário da Ordem dos
Veterinários. Pois não lhe fica bem nada disto!
Estou
triste porque partiste fisicamente e a tua companhia faz-me falta, é
certo, mas a mágoa que sinto é inenarrável, apenas porque neste processo
ninguém te soube tratar, a minha sensação de impotência foi enorme. Infelizmente, os meus
piores receios confirmaram-se – entraste mal, não tiveste o acompanhamento
necessário e já não saíste. Este sentimento vai demorar a passar. Mas, uma
coisa é certa: se eu tiver de aconselhar uma clínica veterinária a
alguém posso não conseguir fazê-lo, mas por certo que desaconselharei vivamente
a Clínica Veterinária do Restelo, onde a transparência não existe, não há
competência, nem seriedade, nem respeito. Sobretudo, não há ética.
E tu, querido Bond, estarás agora num sítio melhor e em paz.