A vida é mesmo assim, leva-nos por caminhos impensados, puxa-nos muitas vezes para fora da nossa zona de conforto e de seguida afasta-nos do que passámos acreditar que era o nosso caminho. Depois, de tempos a tempos, o coração volta a saltar e o pensamento regressa a paragens distantes, a locais por vezes inóspitos, a contextos difíceis, mas onde a ternura se transmite num olhar curioso, num sorriso tímido ou num gesto de apoio inesperado.
A Guiné-Bissau é assim para mim. Fui até lá há muitos anos, por opção, com uma imagem criada talvez só por mim e que fui desconstruindo à medida que os dias foram passando, que o regresso se fez sentir e que a minha vida mudou sem aviso. Era o ano de 1996. Confrontei-me com muita coisa, talvez não estivesse preparada para vivenciar modos de vida tão diferentes e para aceitar, apesar de nem sempre compreender, que neste Mundo, nem todos pensamos da mesma maneira, quanto mais vivemos. Foi uma experiência dura para mim, é certo, mas foi muito enriquecedora. Depois tive um longo afastamento pessoal da Guiné-Bissau. Dei comigo a pensar em Moçambique, depois em Cabo Verde e de forma mais consistente em São Tomé e Príncipe, para onde me mudei e onde vivi por uma temporada. Até que o regresso à Guiné-Bissau se fez presente de novo, desta vez de uma forma mais madura e preparada para as muitas diferenças que encontrei. E voltei, uma e outra, e mais outra e tantas vezes. E sempre que regressei encontrei diferentes Guinés-Bissau, apesar do país ser o mesmo. Andei por todo o país, conheci paisagens tão diferentes, uma enorme diversidade de padrões culturais e de grupos étnicos. Tive contacto muito directo com régulos e conselhos de regulado, com homens grandes e grupos de mulheres empreendedoras, com diferentes credos e com crianças lindas e alegres.
Em todos os momentos em que estive na Guiné-Bissau tive a oportunidade de viver experiências fantásticas, de contactar com especificidades magníficas tanto naturais como culturais, mas havia sempre, e em todos os momentos, um factor que marcava as idas, as permanências e os regressos: a instabilidade política, a incerteza quase regular em relação à forma como os dias decorriam. E este tornou-se, para mim, um aspecto desconcertante.
Agora estou há uns anos sem ir à Guiné-Bissau, mas continuo interessada no rumo da vida e no seguimento dos acontecimentos, procurando vislumbrar sinais de uma estabilidade que gostaria que o país tivesse, mas que parece difícil de implementar. E a cada novo percalço que os guineenses vivem, de forma quase cíclica, muitas imagens regressam à minha cabeça. Mas há uma que, inevitavelmente, assalta a minha memória: o despertar dos morcegos com o anoitecer em Bissau esvoaçando em busca de mangas, salpicando o chão e deixando no ar um aroma adocicado e intenso...
Um blog sobre a vida. Ilusões e sonhos, venturas, algumas desventuras, muitas realizações com a frustração necessária para alcançar o desejo da felicidade. Uma vida que se pretende feliz e preenchida por vivências sentidas. por Brígida Rocha Brito
Manual de sobrevivência em meios socialmente hostis
Presenciando cenas pela manhã bem cedo recordo uma pessoa que conheci em São Tomé e Príncipe há uma eternidade e de quem perdi o rasto há ...
-
Depois de ter regressado a Lisboa, após a minha última incursão a São Tomé, não há dia em que não me lembre das maravilhas do arquipélago, d...
-
Desculpem-me os meus amigos que são apaixonados por tatuagens, mas será limite meu não conseguir deixar de olhar, pensar e tentar ente...