Um blog sobre a vida. Ilusões e sonhos, venturas, algumas desventuras, muitas realizações com a frustração necessária para alcançar o desejo da felicidade. Uma vida que se pretende feliz e preenchida por vivências sentidas. por Brígida Rocha Brito
domingo, 25 de fevereiro de 2018
sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018
Lembranças duras de aroma adocicado
A vida é mesmo assim, leva-nos por caminhos impensados, puxa-nos muitas vezes para fora da nossa zona de conforto e de seguida afasta-nos do que passámos acreditar que era o nosso caminho. Depois, de tempos a tempos, o coração volta a saltar e o pensamento regressa a paragens distantes, a locais por vezes inóspitos, a contextos difíceis, mas onde a ternura se transmite num olhar curioso, num sorriso tímido ou num gesto de apoio inesperado.
A Guiné-Bissau é assim para mim. Fui até lá há muitos anos, por opção, com uma imagem criada talvez só por mim e que fui desconstruindo à medida que os dias foram passando, que o regresso se fez sentir e que a minha vida mudou sem aviso. Era o ano de 1996. Confrontei-me com muita coisa, talvez não estivesse preparada para vivenciar modos de vida tão diferentes e para aceitar, apesar de nem sempre compreender, que neste Mundo, nem todos pensamos da mesma maneira, quanto mais vivemos. Foi uma experiência dura para mim, é certo, mas foi muito enriquecedora. Depois tive um longo afastamento pessoal da Guiné-Bissau. Dei comigo a pensar em Moçambique, depois em Cabo Verde e de forma mais consistente em São Tomé e Príncipe, para onde me mudei e onde vivi por uma temporada. Até que o regresso à Guiné-Bissau se fez presente de novo, desta vez de uma forma mais madura e preparada para as muitas diferenças que encontrei. E voltei, uma e outra, e mais outra e tantas vezes. E sempre que regressei encontrei diferentes Guinés-Bissau, apesar do país ser o mesmo. Andei por todo o país, conheci paisagens tão diferentes, uma enorme diversidade de padrões culturais e de grupos étnicos. Tive contacto muito directo com régulos e conselhos de regulado, com homens grandes e grupos de mulheres empreendedoras, com diferentes credos e com crianças lindas e alegres.
Em todos os momentos em que estive na Guiné-Bissau tive a oportunidade de viver experiências fantásticas, de contactar com especificidades magníficas tanto naturais como culturais, mas havia sempre, e em todos os momentos, um factor que marcava as idas, as permanências e os regressos: a instabilidade política, a incerteza quase regular em relação à forma como os dias decorriam. E este tornou-se, para mim, um aspecto desconcertante.
Agora estou há uns anos sem ir à Guiné-Bissau, mas continuo interessada no rumo da vida e no seguimento dos acontecimentos, procurando vislumbrar sinais de uma estabilidade que gostaria que o país tivesse, mas que parece difícil de implementar. E a cada novo percalço que os guineenses vivem, de forma quase cíclica, muitas imagens regressam à minha cabeça. Mas há uma que, inevitavelmente, assalta a minha memória: o despertar dos morcegos com o anoitecer em Bissau esvoaçando em busca de mangas, salpicando o chão e deixando no ar um aroma adocicado e intenso...
A Guiné-Bissau é assim para mim. Fui até lá há muitos anos, por opção, com uma imagem criada talvez só por mim e que fui desconstruindo à medida que os dias foram passando, que o regresso se fez sentir e que a minha vida mudou sem aviso. Era o ano de 1996. Confrontei-me com muita coisa, talvez não estivesse preparada para vivenciar modos de vida tão diferentes e para aceitar, apesar de nem sempre compreender, que neste Mundo, nem todos pensamos da mesma maneira, quanto mais vivemos. Foi uma experiência dura para mim, é certo, mas foi muito enriquecedora. Depois tive um longo afastamento pessoal da Guiné-Bissau. Dei comigo a pensar em Moçambique, depois em Cabo Verde e de forma mais consistente em São Tomé e Príncipe, para onde me mudei e onde vivi por uma temporada. Até que o regresso à Guiné-Bissau se fez presente de novo, desta vez de uma forma mais madura e preparada para as muitas diferenças que encontrei. E voltei, uma e outra, e mais outra e tantas vezes. E sempre que regressei encontrei diferentes Guinés-Bissau, apesar do país ser o mesmo. Andei por todo o país, conheci paisagens tão diferentes, uma enorme diversidade de padrões culturais e de grupos étnicos. Tive contacto muito directo com régulos e conselhos de regulado, com homens grandes e grupos de mulheres empreendedoras, com diferentes credos e com crianças lindas e alegres.
Em todos os momentos em que estive na Guiné-Bissau tive a oportunidade de viver experiências fantásticas, de contactar com especificidades magníficas tanto naturais como culturais, mas havia sempre, e em todos os momentos, um factor que marcava as idas, as permanências e os regressos: a instabilidade política, a incerteza quase regular em relação à forma como os dias decorriam. E este tornou-se, para mim, um aspecto desconcertante.
Agora estou há uns anos sem ir à Guiné-Bissau, mas continuo interessada no rumo da vida e no seguimento dos acontecimentos, procurando vislumbrar sinais de uma estabilidade que gostaria que o país tivesse, mas que parece difícil de implementar. E a cada novo percalço que os guineenses vivem, de forma quase cíclica, muitas imagens regressam à minha cabeça. Mas há uma que, inevitavelmente, assalta a minha memória: o despertar dos morcegos com o anoitecer em Bissau esvoaçando em busca de mangas, salpicando o chão e deixando no ar um aroma adocicado e intenso...
A intensidade do ocaso
Que sensação estranha... deixar para trás o ocaso com as suas cores tépidas e mergulhar no escuro da noite. Ainda mais com os pés frios. Sempre gostei de contemplar o ocaso, preenche-me e reconforta-me. Faço-o sempre que posso. Amiúde e indiferentemente do local onde esteja.
Esta hora é infinitamente mais bonita no campo do que na cidade. Independentemente do campo que visite ou da cidade por onde passe. As cores e os contornos das árvores e dos arbustos contrastando com a intensidade da luz que os realça. A paz que todo o ambiente inspira dando-me a sensação de que estou a viver um momento zen. Tudo me parece mais intenso e genuíno no campo. Além das cores, as sensações, os encontros, as conversas, os silêncios, a solidão, a vida...
A vida é intensa no campo e intenso é o tempo que se vive e partilha. Momentos marcados pela intensidade que facilitam a observação, a contemplação e a interpretação do que a natureza na sua máxima expressão tem a dizer e a dar. A nós, só cabe receber e acolher com a mesma intensidade...
Da Covilhã para Lisboa, 29 de Janeiro de 2018
Esta hora é infinitamente mais bonita no campo do que na cidade. Independentemente do campo que visite ou da cidade por onde passe. As cores e os contornos das árvores e dos arbustos contrastando com a intensidade da luz que os realça. A paz que todo o ambiente inspira dando-me a sensação de que estou a viver um momento zen. Tudo me parece mais intenso e genuíno no campo. Além das cores, as sensações, os encontros, as conversas, os silêncios, a solidão, a vida...
A vida é intensa no campo e intenso é o tempo que se vive e partilha. Momentos marcados pela intensidade que facilitam a observação, a contemplação e a interpretação do que a natureza na sua máxima expressão tem a dizer e a dar. A nós, só cabe receber e acolher com a mesma intensidade...
Da Covilhã para Lisboa, 29 de Janeiro de 2018
quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018
Palavras que nunca direi a um sentimento perdido
Sim, eu sei, não tenho de o fazer, mas se, por algum acaso desta vida, tivesse, poderia dizer-te com total certeza: «eu fui muito feliz contigo».
Nem sei porque é que este pensamento veio até mim agora. Logo agora, passados tantos anos. Mas veio. E, como em quase tudo nesta vida, eu acredito que temos de ser justos e honestos, connosco e com os outros. Sempre te disse isso. E tu foste tão pouco. Duplamente, porque foste pouco justo e pouco honesto. E eu duplamente burra porque muito crédula e muito honesta, comigo e contigo.
Lembras-te de ouvirmos em conjunto - às vezes muito juntos - o "Honesty" do Billy Joel? Lembras, certamente porque o som acompanhava-nos no jantar dando direito a conversas sem fim, a sorrisos, a algum riso e muitos silêncios. Esta música também estava num dos cerca de 100 CDs que, quando parti, te emprestei, a teu pedido. Ou doei... ou dei... Vá-se lá saber que acasos desta vida fizeram com que tu nunca os devolvesses. Nem os CDs nem a pasta que os protegia. Vá-se lá saber a que mãos e ouvidos foram parar. E que corações foram tocar... Talvez eu até sempre tenha suspeitado, mas talvez isso agora não interesse saber. E também talvez nunca tivesse feito sentido procurar saber...
Esmiuçar o passado é desenterrar as memórias mais profundas, até aquelas que não queremos mais lembrar, por isso o certo é deixá-las estar no sítio de onde não devem sair...
Mas vou-te dizer uma coisa que talvez devesses saber. Para mim, o pior de tudo foi perder a pasta. Era de pele, genuína e tinha um valor, mais do que material, simbólico e afectivo. Não sabias e não tinhas de saber, tinhas apenas de devolver. Nunca mais a vi e custa-me acreditar - apesar de ser mais do que claro e óbvio para mim - que a ofereceste num momento de delírio estúpido, ou de falta de lucidez causado por um qualquer entusiasmo e empolgamento a que tanto eras dado.
Pois foi, apesar de tudo fui feliz contigo e tu foste tão infinitamente estúpido. Talvez ainda sejas. Acredito que a estupidez afectiva não se corrige, ao contrário, agrava-se com a idade e a tua já deve pesar um pouco. Se continuas estúpido, sinceramente já não me interessa comprovar. Deixo a tarefa da certificação para quem tenha vontade ou paciência para passar por provações dolorosas...!
NOTA BEM: os CDs eram cópias, o único valor que tinham era mesmo o sentimental por estar associado a uma época, e esse acaba por se esbater com o tempo até desaparecer...
Lisboa, 3 de Janeiro de 2018, a propósito de um sentimento perdido algures na proximidade do Equador
Lembras-te de ouvirmos em conjunto - às vezes muito juntos - o "Honesty" do Billy Joel? Lembras, certamente porque o som acompanhava-nos no jantar dando direito a conversas sem fim, a sorrisos, a algum riso e muitos silêncios. Esta música também estava num dos cerca de 100 CDs que, quando parti, te emprestei, a teu pedido. Ou doei... ou dei... Vá-se lá saber que acasos desta vida fizeram com que tu nunca os devolvesses. Nem os CDs nem a pasta que os protegia. Vá-se lá saber a que mãos e ouvidos foram parar. E que corações foram tocar... Talvez eu até sempre tenha suspeitado, mas talvez isso agora não interesse saber. E também talvez nunca tivesse feito sentido procurar saber...
Esmiuçar o passado é desenterrar as memórias mais profundas, até aquelas que não queremos mais lembrar, por isso o certo é deixá-las estar no sítio de onde não devem sair...
Mas vou-te dizer uma coisa que talvez devesses saber. Para mim, o pior de tudo foi perder a pasta. Era de pele, genuína e tinha um valor, mais do que material, simbólico e afectivo. Não sabias e não tinhas de saber, tinhas apenas de devolver. Nunca mais a vi e custa-me acreditar - apesar de ser mais do que claro e óbvio para mim - que a ofereceste num momento de delírio estúpido, ou de falta de lucidez causado por um qualquer entusiasmo e empolgamento a que tanto eras dado.
Pois foi, apesar de tudo fui feliz contigo e tu foste tão infinitamente estúpido. Talvez ainda sejas. Acredito que a estupidez afectiva não se corrige, ao contrário, agrava-se com a idade e a tua já deve pesar um pouco. Se continuas estúpido, sinceramente já não me interessa comprovar. Deixo a tarefa da certificação para quem tenha vontade ou paciência para passar por provações dolorosas...!
NOTA BEM: os CDs eram cópias, o único valor que tinham era mesmo o sentimental por estar associado a uma época, e esse acaba por se esbater com o tempo até desaparecer...
Lisboa, 3 de Janeiro de 2018, a propósito de um sentimento perdido algures na proximidade do Equador
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