De repente
tomou consciência que se sentia triste sempre que lhe apetecia escrever. Uma tristeza
justificada, com causa e motivo concreto, bem definido e identificado. Talvez a
tristeza fosse a sua principal fonte de inspiração. Talvez por isso as suas
palavras estivessem banhadas de lágrimas, ora contidas, ora corridas, cheias e
salgadas. Quanto mais longe da infância maior o sentimento de
fragilidade que a assolava. Sentia-se sensível e tão vulnerável quanto uma canoa de único
remador em pleno mar alto num dia de tempestade agravado por ventos ciclónicos.
Perdia auto-estima com facilidade e estava cada vez mais necessitada de reforço acolhedor e reconfortante. Quando não o sentia, por via de um olhar, de uma palavra amiga
ou de um abraço forte e aconchegante, acabava por se refugiar em si mesma, no
caderno e na caneta porque as palavras eram genuínas e as linhas onde
escrevinhava não a julgavam nem atraiçoavam.
Era à noite
que mais escrevia e também era durante a noite que a tristeza a visitava
com mais regularidade e intensidade. Talvez ninguém compreendesse estes estados
de alma tão tardios que a levavam a ficar noites sem dormir escrevendo sem
parar. Talvez ela não se importasse com isso. Ou talvez se apercebesse da indiferença e calada se contivesse de outras formas de expressão...
A tristeza
é um sentimento desconcertante porque tão verdadeiro quanto intolerável mas
sabia que com ele se sentia segura porque nunca a abandonava. A noite era boa
conselheira porque longa e, por vezes, interminável. Tinha início e meio mas o
fim parecia não querer chegar. Talvez até, por vezes, lhe faltasse a paciência
e a capacidade para gerir a tristeza e talvez fosse por isso que pegava na
caneta e no caderno, que já tinha poucas linhas vazias, e dava azo à liberdade
de pensamento deixando a tinta desenhar letras conexas que relatavam um pouco
do que sentia... Talvez fosse da tristeza...
São Tomé, 10 de Setembro de 2014