É em dias de calor como o de ontem, o de
hoje e, muito provavelmente, o de amanhã que o meu pensamento é invadido por
lembranças e o meu inconsciente viaja. Momentos recordados da terra e das
gentes, dos sorrisos e das interjeições gritadas em som estridente num misto de
espanto e diversão, das praias, das paisagens, dos trilhos e das caminhadas, da
crueza de algumas coisas e da intensidade das emoções de muitas outras.
O calor abafado pela humidade não me deixa respirar, estimula os
sentidos e rouba a força às pernas dando-me a sensação que o chão desliza
para níveis inferiores e os meus pés escorregam como se
tentasse caminhar sobre as águas rápidas de um ribeiro.
É particularmente em dias como o de hoje que
a minha África regressa e me visita, envolta numa neblina difusa. A visualização
dos momentos vividos fica turva pela rapidez dos flashes que iluminam a minha memória
mas, à medida que as imagens sucedem e se conjugam, o regresso torna-se mais nítido
e aí está ela, que chega até mim num ápice como se me fizesse uma visita
apressada.
Lisboa,
27 de Maio de 2015