Uma e outra vez, a chegada às ilhas é marcada por infinitas
expectativas e descompasso no coração. Aqui há calor. Não apenas térmico,
afinal estamos na latitude zero e o Equador faz-se notar, mas sobretudo o calor
humano das pessoas simples, quentes, de sorrisos afáveis e disponíveis, de
olhares directos e francos. Pessoas que me fazem sentir bem, como se estivesse em
casa, pelo envolvimento de proximidade com o que me parece ser a essência da
vida. Foi sempre esta a sensação e hoje percebo que, apesar de a sentir no mais
íntimo de mim mesma, nem sempre a consegui traduzir por palavras de forma clara.
A viagem foi dura, difícil, com prolongadas e cansativas
esperas. Pensando bem as últimas viagens têm mesmo sido assim como se houvesse
alguma coisa que me estivesse a pôr à prova e uma voz sussurrasse baixinho ao
meu ouvido - "vamos a ver até onde resistes". Eu, que sou torcida,
vou resistindo porque sei que vale a pena. Passadas as turbulências, as filas e
os momentos em que fomos deixados em modo de pausa sem descanso, a chegada à
cidade foi semelhante a tantas outras: a tranquilidade interior regressou e
desceu sobre mim transmitindo-me paz. Nâo sei exactamente o que é que os meus
companheiros de viagem sentiram ao chegar, não aprofundámos o tema. Mas para
mim, a sensação repete-se. Uma enorme vontade de fechar os olhos e calmamente
respirar fundo para me ir apercebendo de todas as sensações: a humidade e o
calor; os cheiros; o movimento da cidade que, depois de despertar, ganha forma;
as cores; os sons... E, de repente, é como se tivesse feito um "shut
down" do modo anterior, passando a uma fase muito mais sensorial que vai
permanecer junto de mim por mais uns dias, tantos quantos os da estadia com
desconto de mais ou menos um mês após o regresso. Nas ilhas tudo parece mais fácil,
tudo, ou quase, se articula com ligeireza.
O primeiro dia vai passando e é bom rever caras conhecidas, olhares
surpresos com sorrisos abertos acompanhados de abraços sentidos. A alegria do
reencontro manifesta-se na expressão facial, no olhar e nos movimentos
corporais. Aqui as pessoas riem na totalidade. É bom perceber que se lembram de
nós e que se sentem felizes por nos rever, passe o tempo que passar...Após a chegada a São Tomé, final do 1º dia. 28 Março 2014