“O Cruzeiro do Sul” é o último livro de poesia da autoria de Olinda Beja, uma obra que tive o privilégio de ler antecipadamente por ter sido convidada a fazer a apresentação pública do livro em Lisboa, por ocasião do Encontro de Escritores Lusófonos. E depois do evento dei comigo vezes sem conta a relê-lo, deixando-me levar pelas palavras, conjugadas de forma ímpar, viajando até paragens tropicais e redescobrindo São Tomé e Príncipe, arquipélago que me é tão próximo e tão querido.
Este livro de Olinda Beja, tal como tem ocorrido com os anteriores, revela a emoção e o sentimento da autora que vive a poesia em cada verso, em cada palavra e em todas as ideias explicitamente apresentadas ou na forma subtil que apenas ela consegue.
O livro está organizado de forma muito coerente em três partes: “Travessia”; “Recados”; e “Exaltação do Amor”. Ao avançarmos na leitura, parte a parte, percebemos que existe um fio condutor que nos transporta, fazendo-nos viajar até ao Equador, orientados pelo Cruzeiro do Sul, essa mínima e magnífica constelação, tendo São Tomé e Príncipe como paisagem e enquadramento. Arquipélago marcado por uma carga simbólica, espaço de descoberta que também é de vivências e de lembranças que nos acompanham para sempre e que vamos reavivando e reconstruindo através das palavras felizes partilhadas pela autora.
“Travessias” ajudam-nos a despertar os sentidos: as referências a paisagens ambientais e práticas culturais, incluindo as mais ancestrais, rituais e danças, gastronomia e recursos naturais. O cacau e o café sempre presentes. Em “Recados” encontramos, de forma muito particular, a “sãotomensidade” referida desde o início de forma sábia e sentida. E, na “Exaltação do Amor” revemos o expoente máximo da enaltecimento dos sentidos e das emoções mais puras e completas na complementaridade entre a lua e a noite.
Este livro de poesia poderia bem ser um ícone turístico para São Tomé e Príncipe. Os elementos da Natureza destacam-se: o Ossobô; as frutas tropicais; as rosas de madeira e as de porcelana; os hibiscus e as acácias. Até a cobra preta...
O título “Cruzeiro do Sul”, escolhido sabiamente pela carga simbólica que encerra, faz-nos pensar, pelo menos, em duas ideias:
1) a profundidade, a imensidão e o mistério do céu, a beleza das constelações singularmente formadas e que tanto gostamos de contemplar e apreciar em noites límpidas;
2) o sentido da orientação que associamos a algumas estrelas e constelações que, pelo brilho e forma adquirem características próprias. Esta é a menor de todas as constelações do hemisfério sul mas, apesar disso, absolutamente notável. Historicamente, o Cruzeiro do Sul revestiu grande importância para os navegadores servindo de referência durante as viagens, sendo identificado como o ponto de orientação indicador do caminho para o sul.
Para o leitor, este livro representa uma viagem deslumbrante tanto a um destino único no Mundo onde os sentidos ficam despertos, como à interioridade de cada um, estimulando as emoções. O “Cruzeiro do Sul” acompanha-nos neste duplo sentido da viagem orientando o nosso caminho.
Pelo facto de ser um livro que desperta, deixando-nos alerta, recomendo a todos uma leitura cuidada e atenta das palavras sentidas da Olinda Beja. Boas viagens...!