Hoje passou-se o impensável num País que se diz Democrático, modelo que poderia servir de exemplo para outros e que passou por várias fases menos consensuais para chegar até aqui. Hoje eu, e tantos outros eleitores, cidadãos deste pequeno País à beira-mar plantado, quis votar mas como segui o conselho e sugestão de quem nos governa, fui bloqueada por um cartão de cidadão que supostamente deveria ser facilitador mas que se revelou inoperante. Pior, tal como eu, milhares de cidadãos aderiram ao “cartão de cidadão”, o tal que é supostamente facilitador, e não foram avisados de que o número de eleitor mudava apenas por este simples facto: a adesão ao cartão. Pior ainda, foi criado um sistema junto às mesas de voto, também supostamente facilitador, de “Apoio ao Cidadão”, que indicaria as alterações do número de eleitor e, de forma associada, as mudanças de mesas e de locais de voto. Percebi naquele momento que deixei de ser “A” para passar a ser “B”. Não mudei de morada, não alterei nada na minha vida, mas mudei de cartão! Ou seja, fui obrigada a mudar de mesa e de escola. Votava na Parede, sempre aí votei desde que me lembro de ter começado a exercer o meu direito, e dever, de voto, um princípio de cidadania participativa que teoricamente me assiste. Mas a partir de hoje, e sabe-se lá até quando porque ninguém sabe garantir, passei a votar na Escola Primária do Murtal, também supostamente mais perto da minha residência, mas na prática mais distante... Lá fui, contrariada mas fui, ainda sem saber o que me aguardava: uma espera de 1h30 para saber qual era a mesa, visto que, por ter o tal “cartão facilitador”, vi a minha vida virada do avesso. Aguardei esse tempo porque queria mesmo votar, ao contrário de centenas de outros que não suportaram a espera num dia frio como o de hoje.
A razão para tal situação...?! Só uma: o sistema informático de apoio ao cidadão bloqueou a ninguém sabia resolver. Pior, o apoio prestado pela Comissão Nacional de Eleições às mesas de voto, por telefone, estava igualmente bloqueado, a rede telefónica não dava resposta e, ao que parece, o sistema não foi testado antecipadamente... O que se passou na minha freguesia foi geral em todo o País. Não é magnífico...?! Quer dizer, a nossa participação na vida pública é quase nenhuma. Já não nos auscultam através de referendo sobre temas importantes que mudam as nossas vidas, limitamo-nos a ser participativos em momentos pontuais que têm vindo a ser desvalorizados, a favor de uma abstenção crescente a um nível galopante. E, quando queremos votar, não podemos porque a mensagem que surge é a de “eleitor não identificado”. É anedótico ou não, num país que se diz tecnologicamente desenvolvido...?! Não é fantástico que queiramos votar e não possamos pelo simples facto de que os que criaram este modelo, alterando o anterior, mais básico mas muito mais eficaz, sejam os que boicotam a tentativa de democracia participativa, por si só já tão debilitada...?! Seria hilariante se não fosse assustadoramente pouco democrático!