Não sei se faço boa ou má avaliação de mim mesma, apesar de ser uma pessoa profundamente introspectiva. Às vezes até chateia porque sou demais. Não limito a autocrítica e normalmente não me sobrevalorizo em relação aos outros. Ao contrário, a maioria das vezes, coloco-os em primeiríssimo lugar, em segundo, em terceiro, em quarto, ..., e não tenho o menor problema de me encontrar a mim mesma bem no fundo da fila.
Na verdade, a ideia que faço de mim é a de uma pessoa sonhadora. Sou assim desde que me lembro de existir. Em pequena sonhava muito, tanto acordada com sonhos bons e de final feliz, como a dormir dando azo à imaginação, para o bem e para o mal. Hoje continuo a sonhar, apesar de quando me vejo ao espelho ter a leve sensação de estar bastante mais crescida do que a imagem que retenho da infância. Contudo, não há cabelos brancos, o que me deixa sorridente porque é um dos sinais mais invejados pela maioria das mulheres acima dos 35, e mais ainda próximas dos 40, e de alguns homens que, a todo o custo, procuram manter a juventude. Não faço “nuances” nem pinto o cabelo. Ainda...! Mas as rídulas e as rugas, que gosto de pensar que são apenas de expressão, já se fazem sentir, principalmente à volta dos olhos. É um sinal da emotividade que me caracteriza, reconheço. Cada traço, cada rídula, cada ruga é o resultado de sentimentos fortes, intensos, de momentos sentidos ao pormenor. Na verdade, às vezes até demais. Mas são também o sinal de muito riso partilhado e de algumas lágrimas, ora contidas ora extravasadas, neste caso em maior quantidade do que gostaria mas qb para o que senti e pelo que já vivi.
Não, não me sinto velha, antes pelo contrário, quando me perguntam a idade penso 3 vezes antes de responder porque, em consciência, não me revejo nos quase 39 que já cá cantam. Em espírito ainda não cheguei aos 30 e a capacidade de sonhar continua hiperactiva. Hoje sonho mais a dormir do que acordada, mas ainda são muitos os dias em que o pensamento me foge e vagueia por outros locais, às vezes perto, às vezes longe, ao encontro de momentos felizes que se sucedem de tal forma que a felicidade ganha um carácter contínuo e deixa de ser efémera.
Mas apesar da capacidade de sonhar que preservo, vivo cada vez mais em função da realidade e essa nem sempre tem um final dourado como nos sonhos. Ou melhor, nem sempre tem o final desejado, construído em sonhos ou pela imaginação.