segunda-feira, 24 de abril de 2006

Instrospecção

Não sei se faço boa ou má avaliação de mim mesma, apesar de ser uma pessoa profundamente introspectiva. Às vezes até chateia porque sou demais. Não limito a autocrítica e normalmente não me sobrevalorizo em relação aos outros. Ao contrário, a maioria das vezes, coloco-os em primeiríssimo lugar, em segundo, em terceiro, em quarto, ..., e não tenho o menor problema de me encontrar a mim mesma bem no fundo da fila.

Na verdade, a ideia que faço de mim é a de uma pessoa sonhadora. Sou assim desde que me lembro de existir. Em pequena sonhava muito, tanto acordada com sonhos bons e de final feliz, como a dormir dando azo à imaginação, para o bem e para o mal. Hoje continuo a sonhar, apesar de quando me vejo ao espelho ter a leve sensação de estar bastante mais crescida do que a imagem que retenho da infância. Contudo, não há cabelos brancos, o que me deixa sorridente porque é um dos sinais mais invejados pela maioria das mulheres acima dos 35, e mais ainda próximas dos 40, e de alguns homens que, a todo o custo, procuram manter a juventude. Não faço “nuances” nem pinto o cabelo. Ainda...! Mas as rídulas e as rugas, que gosto de pensar que são apenas de expressão, já se fazem sentir, principalmente à volta dos olhos. É um sinal da emotividade que me caracteriza, reconheço. Cada traço, cada rídula, cada ruga é o resultado de sentimentos fortes, intensos, de momentos sentidos ao pormenor. Na verdade, às vezes até demais. Mas são também o sinal de muito riso partilhado e de algumas lágrimas, ora contidas ora extravasadas, neste caso em maior quantidade do que gostaria mas qb para o que senti e pelo que já vivi.

Não, não me sinto velha, antes pelo contrário, quando me perguntam a idade penso 3 vezes antes de responder porque, em consciência, não me revejo nos quase 39 que já cá cantam. Em espírito ainda não cheguei aos 30 e a capacidade de sonhar continua hiperactiva. Hoje sonho mais a dormir do que acordada, mas ainda são muitos os dias em que o pensamento me foge e vagueia por outros locais, às vezes perto, às vezes longe, ao encontro de momentos felizes que se sucedem de tal forma que a felicidade ganha um carácter contínuo e deixa de ser efémera.

Mas apesar da capacidade de sonhar que preservo, vivo cada vez mais em função da realidade e essa nem sempre tem um final dourado como nos sonhos. Ou melhor, nem sempre tem o final desejado, construído em sonhos ou pela imaginação.

Manual de sobrevivência em meios socialmente hostis

Presenciando cenas pela manhã bem cedo recordo uma pessoa que conheci em São Tomé e Príncipe há uma eternidade e de quem perdi o rasto há ...