Não percebo porque é que os homens mentem. Já sei... estou a fazer uma generalização, a tomar o todo pela parte, a fazer um juízo de valor que nada tem de científico e que decorre da experiência do dia-a-dia, ou seja uma avaliação de senso comum (os meus alunos vão fazer algum comentário na próxima 2ª feira...), cometendo certamente uma injustiça para com todos os homens que são verdadeiros. A estes, as minhas desculpas, mas é a todos os outros que este post se dirige.
Mas o que acontece é que, invariavelmente e com muito mais frequência do que eu desejaria, de vez em quando apanho um a mentir com todos os dentes que tem na boca, o que causa em mim tamanho sentimento de irritação e revolta, dando-me uma vontade inexplicável de desatar ao estalo. Mas na verdade, como por natureza não sou violenta, não o faço, controlo-me respirando 10 vezes tão fundo que todo o ar que poderia ficar retido num dos becos da minha interioridade é obrigatoriamente expelido. Acabo a sorrir e olhar tranquilamente para ele a pensar “és tolo de todo, para não dizer pior, que não percebes que, como diria a minha bisavó que era de Celorico da Beira, Bispado da Guarda, Lugar de Vale de Azares, é mais fácil apanhar um mentiroso do que um coxo”.
Não é fácil mentir e esta é uma tarefa que não é adequada a todos, requerendo muito treino, capacidade de improvisação qb associada à característica do “encaixe”. É preciso à vontade, que é como quem diz, uma grande lata para reinventar situações, alterar a realidade a seu belo prazer e ficar ofendido quando alguém duvida ou questiona. Além de uma infinita e profundíssima convicção, é necessário que quem ouve tenha receptividade para acreditar em quase tudo, que é como quem diz que o Kilimanjaro ou as ilhas Fidji estão à venda e que qualquer banco concede um empréstimo para que os possamos comprar. Tudo é possível, mas depende da apetência comercial e da capacidade de persuasão: é preciso saber negociar e vender uma ideia porque sem isso não se consegue mentir, por mais que se tente.
Ouvir um mentiroso chega a ser hilariante se estivermos na disposição de explorar a sua competência, ajudando ao treino. Mas nem sempre isso acontece, ou melhor, em mim, é cada vez mais rara esta compreensão e flexibilidade. Sou chamada de mau feitio, antipática, intolerante, rígida e outras alternativas a que o meu nome é sujeito de quando em vez. O problema, que acho que nem todos entendem, é que não nasci para marinheira e por isso tenho alguma dificuldade em embarcar em histórias da carochinha ou em fragatas de papel que, ao serem colocadas na água, se desfazem com grande facilidade. E quando embarco, normalmente acabo por me arrepender.
Já não há paciência para as mentirinhas de nada, aquelas que não aquecem nem arrefecem, que não prejudicam nem beneficiam ninguém a não ser o ego de quem as diz, convencidíssimo de estar a relatar a última descoberta ou um feito que merece grande admiração. E é fantástico quando apanhamos esse alguém a mentir na nossa cara, sem que ele se dê conta do que se está a passar. As afirmações são proferidas com aparente convicção mas por serem tão fáceis de desmontar, tornam-se óbvias para o ouvinte e se, por um lado, dá vontade de lhe dizer “APANHEI-TE... vê se te tocas, não precisas de te justificar, nem de inventar histórias ou razões... simplesmente não precisas”, por outro, dá uma vontade de rir tão grande que acabamos por explorar um pouco mais as historietas da tanga de uns e outros.
A questão é uma mentira até pode valer a pena se o que estiver subjacente for uma causa nobre, mas também se assim é não há necessidade de mentir. Mas uma mentira de treta, sem finalidade, só chateia, desgasta e gera desconforto pela falta de confiança. Meus caros, não mintam, por favor...