Ontem não pude estar em casa durante o dia porque iam dar mais “uma de mão” de verniz no chão. Uma vez em Lisboa, cidade que, de dia para dia, menos me encanta, até porque me deprime e angustia, e sem nada para fazer, decidi passear pelo Parque nas Nações. Este é um local que conheço bem e que faz parte das minhas ternas recordações no que aos afectos diz respeito. Foi um dos locais onde mais namorei com um dos homens mais doces que passou pela minha vida: também é verdade, e convém esclarecer, que foram poucos, por isso é fácil defini-los um a um.
Estávamos no início da década de 90 e o chamamento por África fazia-se ainda sentir de forma ligeira e pontual, já que a minha vida era feita em Portugal e eu não equacionava sequer a possibilidade de ter uma vida diferente da maioria das pessoas da minha família e dos meus amigos. Namorámos cinco anos, conjugando encontros, alguns desentendimentos e muitos momentos felizes, que resultaram numa aprendizagem mútua que nos conduziu ao que hoje somos: verdadeiros amigos, daqueles em quem seguramente podemos contar sempre, para sempre, venha aquilo que vier e aconteça o que acontecer.
A Exposição Mundial de 1998 veio transformar por completo aquela zona e as imagens que guardo, eternizadas pelo tempo. Em 1998 já não namorávamos e, por todos os motivos e mais alguns, resisti à Expo 98 e pouco a visitei. Aquele local guardava, para mim, um saudosismo tão terno quanto triste e tornou-se penosa uma simples visita. Custava-me muito voltar àquele sítio e como ninguém percebeu as minhas razões, porque eu também não as expliquei, fui chamada de todos os nomes possíveis e imaginários pelos mais próximos, verdadeiros adeptos e defensores da revitalização do espaço e da filosofia da Exposição.
No tempo em que todos corriam em direcção à Expo com uma estóica paciência que os fazia aguardar durante horas infinitas e ao sol só para entrarem num pavilhão estrangeiro e apreenderem imagens, sons ou sensações, recolherem folhetos promocionais ou qualquer outro brinde, eu fugia do Parque das Nações. Quanto mais longe melhor. Vá-se lá saber porquê ontem apeteceu-me visitá-lo. Sozinha, ou melhor com duas revistas da treta na mão, percorri o espaço de lado a lado. Vi casais apaixonados, cães em correria desenfreada ao sabor do vento, homens a praticar desporto, correndo ou pedalando, crianças a rir e idosos a descansar, em contemplação do rio. Até polícia montada em dois cavalos magníficos, cinzentos e musculados que queriam acelerar não lhes sendo permitido ultrapassar o ritmo lento do passo para o trote, quanto mais o galope.
Mas também vi um espaço onde fui tão feliz, parafraseando um apresentador de TV, melhorado e embonecado para a Expo mas que hoje... hoje foi abandonado, exceptuando alguns pontos que resistem persistindo. Os restaurantes fecharam, os antigos pavilhões não tiveram melhor destino, os embarcadouros não recebem barcos e o que seria suposto ser uma marina está simplesmente desactivado e fechado com um cadeado ferrugento... E foi isto a reabilitação da zona oriental de Lisboa? Talvez tenha sido mas de forma não sustentável e absolutamente desoladora...