O investigador moçambicano José Negrão faleceu há dias. Conheci-o em Maputo por ocasião do Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais que se realiza de dois em dois anos. Naquele ano foi em Moçambique e, por essa razão, lá fui até um país que era para mim desconhecido e que, por muitas razões, me haveria de marcar para sempre: os sorrisos das crianças; os efeitos da guerra; a vontade explícita de promoção do desenvolvimento em várias vertentes, tais como o turismo, o que me levou a escolher como tema de tese de doutoramento o turismo ecológico como via para o desenvolvimento sustentável; as acácias; as praias e a paisagem; os arredores de Maputo; o magnífico Hotel Polana; todas as pessoas, tão diferentes umas das outras, que tive oportunidade de conhecer. E o Prof. José Negrão estava por lá também e, coincidência feliz, assistiu ao painel onde a minha comunicação se inseria. O tema geral era as sociedades rurais e o desenvolvimento participativo e a minha comunicação focava o “empowerment”, o desenvolvimento local e a participação na Guiné Bissau através da actuação das ONGs locais, no caso o trabalho da ALTERNAG e de dois projectos: Mulheres costureiras do Bairro de Belém e Crianças trabalhadoras e de rua.
Estávamos em 1998 e eu hiper nervosa porque apresentava os resultados da minha tese de mestrado, defendida há pouco tempo, estava cheia de vontade de dar continuidade às investigações em África com o doutoramento e representava a Universidade onde trabalhava desde 1992 e onde ficaria até 2002. Pois o José Negrão assistiu com a atenção que lhe era habitual, comentou com o “savoir faire” dos especialistas e eu vim feliz com a noção de uma missão bem cumprida. Quando cheguei a Lisboa, um colega da Universidade ligou-me dizendo que, como habitual ouvira a RDP África e num programa, o José Negrão fizera alusão, de forma muito positiva, ao trabalho dos jovens investigadores, nomeando a comunicação por mim apresentada.
No ano passado o Congresso realizou-se uma vez mais, eu com o doutoramento já entregue e a aguardar defesa oral – estapa que se veio a revelar muito bem cumprida – e ele como figura de destaque. Aqui fica o texto por ele apresentado, linkado a partir do site do congresso, como a homenagem possível que lhe posso prestar. Eu, que me sinto honrada por o ter conhecido e privilegiada por um dia ter sido destacada por tão ilustre figura no meio das Ciências Sociais africanas.