Por vezes sentia-se dividido entre o que desejava muito e o que sentia ser a atitude justa e correcta, regulada pela medida certa. Isso acontecia-lhe com maior frequência desde que saíra de África que, como gostava de dizer enquanto massajava o queixo com um sorriso espalhado no rosto e o olhar vago das lembranças, era o continente dos infinitos sonhos e dos 2 Ms, majestoso e mágico. Em África tudo parecia simples demais e as respostas aos problemas não requeriam grande teorização porque eram directas e os meios para os solucionar, os mais imediatos porque os possíveis.
Mas aqui, a vida passou a complicar-se e todos os actos, por mais lineares que parecessem inicialmente, complexificavam-se com uma incontrolável rapidez, tornando-se obrigatoriamente consequentes. Também aqui, a vida ganhou o tom da intelectualidade até à última consequência e quanto mais básico for o problema, maior reflexão parece necessitar. Dá a sensação que por cá as pessoas teimam em não ser felizes porque têm de ser muito sérias e excessivamente adultas para se tornarem credíveis e confiáveis. Perderam o sentido do riso e da gargalhada, do disparate e da leveza a que o ser é dado, da ternura e da compreensão, da descontração e do “savoir faire” em função das necessidades do momento. Mas por certo ganharam a racionalidade e o falso, mas permanente, sentido crítico em relação a tudo e a todos, menos a si próprios.