Quando penso em calor húmido, invariavelmente lembro-me de África, ou pelo menos das Áfricas pelas quais passei.
A primeira, Guiné Bissau é quente e a humidade uma das principais características. A sensação que se tem é de andar permanentemente nas proximidades de uma panela de pressão, cheia de frutas aromáticas, de terra molhada e de chuva. A pele cola como se o vapor da pressão nos perseguisse. Penso mesmo que esta sensação é agravada pela ausência de praias nos quilómetros mais próximos da capital, o que aumenta a vontade de um banho relaxante nas águas mornas das praias tropicais.
A segunda, Moçambique que, por coincidência do destino, recebeu a minha visita em épocas de grande calor e, claro está, infinita humidade. Aqui os cheiros foram, para mim, menos intensos mas as cores verdadeiramente fantásticas, principalmente das acácias que davam às ruas um colorido inconfundível e de extrema beleza. A sensação pegajosa da pele foi menos permanente do que a primeiríssima experiência, em parte porque passei uma parte dos meus dias entre banhos e as tentativas de captar, por entre as nuvens, algum raio de sol que teimava em se esconder.
A terceira, e mais apaixonante de todas, São Tomé e Príncipe, terra onde invariavelmente as amplitudes térmicas persistem em não ser evidentes, mas onde os níveis de humidade chegam a atingir os 90% com uma curiosa facilidade. Ali, a roupa colava à pele mas a sensação não era desagradável, antes pelo contrário, talvez porque o espírito fosse mais receptivo às mudanças e procurasse adaptar-se às contingências e dificuldades com que me ia confrontando, mais do que nas duas primeiras Áfricas. E além disso havia sempre uma praia por perto para um mergulho, mesmo que fugidio, em águas quentes e cristalinas, com uma paisagem de enquadramento simplesmente deslumbrante.
E hoje, só podia ser, relembro a humidade quente com saudosismo. E sabem porquê? Porque aqui faz calor, tem dias em que faz mesmo muito, e há humidade, só que não é quente e não tem o mesmo sabor, os cheiros não são os mesmos e as sensações menos reconfortantes. Além do mais, quando faz calor não há humidade e esta aparece com frequência para esfriar a temperatura. E com estas alterações climatéricas, as minhas alergias explodem e eu sinto-me de rastos. Começo a tomar antihistamínicos e corticóides locais e tenho a sensação que o Mundo vai desabar em cima da minha cabeça que lateja e dói sem parar, o nariz fica entupido e a respiração muito pesada. E eu só penso que, enquanto estive em África, numa qualquer, estes achaques não me davam e, apesar do intenso calor e da dureza da humidade, eu passava muito melhor do que aqui. Não pensem que eu não gosto da minha terra, porque gosto, mas reconheço que tenho umas saudades de África... que nem consigo explicar...