Esta noite de vendaval faz-me lembrar um final de tarde vivido em São Tomé. O dia tinha estado calmo e tranquilo, apesar do céu estar carregado do cinzento que já me parecia vulgar. Eu estava em casa com a perna em gesso em cima de uma cadeira, em frente do computador a trabalhar o capítulo da metodologia da minha tese. Parti o pé esquerdo, o que me frustrou a pesquisa, atrasando-a por algum tempo mas recriando momentos únicos e permitindo vivências intensas daí para a frente. Por infinitas razões, partir um pé em África não é o mesmo que o partir em Portugal ou na Europa. O calor torna quase insuportável o peso do gesso e o pé parece-nos um trambolho, os meios são particularmente menores pelo que a disponibilidade de recorrer aos materiais recentes, leves e mais frescos em substituição do gesso, não é possível. Aceitei, com as lágrimas nos olhos, o meu karma e conformei-me à ideia de não haver sequer canadianas que me ajudassem a andar. Depois lá me arranjaram umas muletas de madeira, à moda antiga, que se colocam debaixo dos braços e que são um verdadeiro suplício, mas ao ver o meu desespero, e perante a hipótese de regressar a Lisboa, um amigo sacrificou um tapete de ginástica para acolchoar as benditas muletas, agrafando-as. Resolveu, de facto, e lá andei de muletas de madeira adornadas a verde. Fiquei, portanto, e não me arrependi. Foi um período engraçado, cheio de ternura, fazendo emergir sentimentos fortes.
Durante a fase-gesso houve uma tempestade, daquelas à maneira tropical, que já tinha vivido nas Caraíbas mas que julgava impossível em São Tomé. Afinal este é o país da não amplitude térmica, onde as temperaturas simplesmente não variam e se caracterizam pela constância e o vento é quase impensável, apesar de chover muito. Naquele final de tarde estava sozinha, aguardando a hora do jantar em casa do meu amigo, e trabalhava. De repente ouvi um estrondo, a portada de uma das janelas bateu com tanta força que ficou presa até à minha partida, e com o susto, mesmo com o pé em gesso entre os dedos e o joelho, com 300.000 recomendações para nunca o apoiar no chão, dei um pulo da cadeira e fiquei em pé. Nesse dia, os deuses estavam de tal forma zangados, vá-se lá saber com quem ou porquê, que caíram árvores na cidade, voaram galhos, telhados foram levantados e tudo voou pelos ares. Foi um problema dramático e os resultados de gravidade, já que 11 pescadores desapareceram nas suas frágeis canoas utilizadas na pesca artesanal. Tempestade do mar, disseram alguns, e eu fiquei a pensar: numa ilha tão pequena, a tempestade poderá vir de terra?
Durante a fase-gesso houve uma tempestade, daquelas à maneira tropical, que já tinha vivido nas Caraíbas mas que julgava impossível em São Tomé. Afinal este é o país da não amplitude térmica, onde as temperaturas simplesmente não variam e se caracterizam pela constância e o vento é quase impensável, apesar de chover muito. Naquele final de tarde estava sozinha, aguardando a hora do jantar em casa do meu amigo, e trabalhava. De repente ouvi um estrondo, a portada de uma das janelas bateu com tanta força que ficou presa até à minha partida, e com o susto, mesmo com o pé em gesso entre os dedos e o joelho, com 300.000 recomendações para nunca o apoiar no chão, dei um pulo da cadeira e fiquei em pé. Nesse dia, os deuses estavam de tal forma zangados, vá-se lá saber com quem ou porquê, que caíram árvores na cidade, voaram galhos, telhados foram levantados e tudo voou pelos ares. Foi um problema dramático e os resultados de gravidade, já que 11 pescadores desapareceram nas suas frágeis canoas utilizadas na pesca artesanal. Tempestade do mar, disseram alguns, e eu fiquei a pensar: numa ilha tão pequena, a tempestade poderá vir de terra?
E hoje como naquele dia, o vento bate nas janelas levando tudo pelo ar...