As conversas que passam pelos afectos em África são muito mais do que interessantes mas terminam invariavelmente em discussão. Esta constatação é tanto mais verdade quando partilho opiniões, pensamentos e recordações com quem nunca passou pela experiência, de viver a afectividade no continente onde os afectos são naturalmente sentidos. Os desencontros das palavras e os desentendimentos adquirem tamanha projecção que sinto que cometi um erro em falar. Se não tivesse exteriorizado o que sinto e a forma como penso, a conversa não iria tão longe: em mim ficava a magia, que não desaparece apenas pela forma como os outros falam e que se perpetua porque assim o desejo; nos que não entendem a beleza das emoções, ficariam as concepções fechadas e cinzentas. Não que eu seja muito colorida nos afectos e nos sentires, mas não condeno a vida alheia e muito menos as opções conscientemente tomadas por cada um.
Mas quando falo com quem já viveu os afectos intensamente, com a dureza do calor e da humidade que apelam aos sentidos e às emoções, fazendo emergir o desejo de prazer, a discussão surge também porque os meus comportamentos são vistos como excessivamente contidos e castradores das vontades alheias. Não por falta de aceitação no que respeita aos comportamentos de quem quer que seja, mas sim por não estar disponível para todos os afectos. As demonstrações de carinho, de ternura ou as mais acesas de paixão e de desejo são sentidas e naturais e por isso não podem ser tidas com qualquer pessoa. Apenas com quem desperta e mantem aceso o fogo dos sentidos.