quarta-feira, 23 de março de 2005

Burocracias

As burocracias desta vida tendem a ser hilariantes. É preciso é boa disposição...
Na sequência de um incêndio, por mais pequeno que tenha sido, é necessária alguma capacidade de organização para que o caos não se perpetue. A primeira acção é activar os seguros e solicitar com muito "savoir faire" que os peritos venham reconhecer os estragos do incidente. Ele vem, inspecciona tudo com um olhar atento e tira fotografias com uma máquina digital XPTO enorme e seguramente potente. Preenche um papel com os requisitos que temos de tratar a seguir para que ele possa dar o seu parecer - documento dos bombeiros, da polícia, caderneta predial e orçamentos pormenorizados de todas as intervenções.
E a loucura da burocracia começa. Os mais eficazes, pela rapidez, são os bombeiros que, apesar de avisarem que a demora seria de 3 dias, despacham as fotocópias na mesma tarde em que o pedido é entregue por escrito. O mais hilariante é mesmo o procedimento da polícia. Não queria ter ideias preconcebidas mas não é fácil alterar a imagem que tenho das forças policiais, no que respeita à dificuldade, inerente ao estatuto, de simplificar a vida aligeirando burocracias. No momento em que o incêndio ocorreu, e face à necessidade de eu ser assistida com oxigénio pela intoxicação, foram simpáticos, disponíveis, solicitos e muitíssimo atenciosos mas o processo sequente é irrelatável! Quem registou a ocorrência foram polícias da esquadra da Parede mas, apesar do processo estar nesta esquadra e do agente que atende nos serviços administrativos o ter à sua frente, mostrando-o ao utente, quem passa a declaração é o comando de Cascais que, também com as fotocópias na mão e mesmo à nossa frente, demoram 5 dias a entregá-las, cobrando 5,45€ pelo serviço prestado...
Mas a saga continua com orçamentos de alcativas e carpetes, pintura, restauro de madeiras e tecidos para cortinados, sofás e almofadas, estores eléctricos e torneiras. Ah, esquecia-me do ar condicionado, o culpado do sucedido. É uma alucinação porque conseguir reunir toda esta gente, mesmo que não em simultâneo, não é tarefa fácil sobretudo quando ainda não podem arranjar nada. Só nos visitam para passar um papel referente aos supostos custos que apresentaremos nas Companhias de Seguros e que está sujeito a aprovação. Até lá convivemos com: o cheiro a plástico queimado que tende a não nos abandonar; as paredes e tecto de madeira queimados; os cortinados rotos e os sofás com aspecto pouco convidativo; o pó que nasce, sabe-se lá de onde. Até quando...?! Sim, depois de vir tudo aprovado, é preciso que todos tenham disponibilidade para o trabalho...

Manual de sobrevivência em meios socialmente hostis

Presenciando cenas pela manhã bem cedo recordo uma pessoa que conheci em São Tomé e Príncipe há uma eternidade e de quem perdi o rasto há ...