E lá estava eu no Vitor em Alcabideche, restaurante que faz parte das memórias da minha infância, a conversar com um dos empregados, que conheço desde que me lembro de existir.
- Então... e já se casou? - perguntava-me ele meio receoso de me ofender, à medida que se ia informando acerca da vida de cada membro da família.
- Não, ainda não - respondi sorridente e certa que, desde que as oportunidades afectivas tinham surgido na minha vida, a opção de me manter fiel aos meus princípios tinha sido a melhor de todas.
- Mas olhe que já está na altura... uma rapariga assim, sem marido...
E eu ri com vontade, pois o que havia eu de fazer mais perante tal perspectiva.
- Há tempo, se tiver de ser - respondi-lhe para o tranquilizar.
- Mas os filhos deviam vir - continuava ele, cheio de boa vontade, numa tentativa de me convencer da importância do casamento na vida de uma jovem senhora.
- Pois deviam, mas ainda não houve oportunidade para pensar nisso...
- Mas nem tem pretendentes? - continuou ele com incredulidade.
- Sim, pretendentes há, mas não são convincentes. Sabe que os homens dão muito trabalho... e ainda não tive coragem para aceitar esse emprego. Às vezes, a melhor opção, quando não há certezas, ou quando as há sem vontade, é mesmo não criar confusões na nossa e na vida dos outros.
- Ah... mas desde que seja a pessoa certa...
- Pois é essa é a grande dificuldade, encontrar a pessoa certa. Vai na volta e tenho andado nos locais errados - respondi a rir.
E com este argumento ele ficou mais conformado, deu-me uma palmadinha no ombro, piscou-me o olho, sorriu e concluiu:
- Deixe lá, há-de aparecer...
Eu sorri e pensei - mas afinal todos pensam que por não se ser casado é-se menos pessoa. Pois é, a altura certa... e esta, será que deve acontecer quando os outros assim o consideram, ou quando a sentimos verdadeiramente?