Beber chá é uma prática magnífica que, se assim o desejarmos, podemos transformar num ritual. Aprendi isto em São Tomé. É verdade que já era uma adepta da bebida, desde que me lembro de existir e em minha casa todos sempre brincaram acerca disso - afinal era mais um aspecto que me marcava pela diferença.
Sempre gostei de chá, até do preto bebia, mas as infusões fazem as minhas preferências. Os pacotinhos só me serviam mesmo quando não havia genuínos, com folhas, daqueles que somos nós que doseamos a quantidade, em função de o querermos mais forte e aberto ou mais suave, e que depois temos de coar para que as flores ou as folhas não passem, apesar de, no fundo da chávena, ficar sempre um depósito.
É magnífica a dedicação que o chá exige para ficar no ponto - nem demasiado escuro nem demasiado águado. Primeiro aquece-se a água e deixa-se que ferva, colocam-se as folhas desejadas, eventualmente com flor, dependendo do tipo de chá que estejamos a preparar, desliga-se o lume porque a temperatura só por si é suficiente e não necessita de mais fervura. E podemos ali ficar, a olhar, a perceber a mudança de cor decorrente da troca de componentes entre a água e a planta, a sentir o aroma perfumado, absolutamente inspirador e reconfortante.
Coar o chá para uma chávena, de preferência de porcelana e pintada à mão (o que não havia em São Tomé...) e ouvir o som musical do chá a encher a chávena. Bebê-lo sem açúcar, quentinho transmite uma sensação de conforto inigualável. E estando sózinhos, podermos envolver a chávena com as mãos e sentir o calor que chega, fecharmos os olhos e recostarmo-nos num sofá confortável, perto de uma janela, e ver a chuva cair, forte e batida pelo vento, quando atrás de nós uma lareira crepita...
O chá e as suas familiares tisanas são elementos indispensáveis na minha vida, sem as quais não me imagino a terminar um dia, sobretudo se estiver frio...