terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Coração apaziguado ou... a arte de fazer as pazes com o coração

Ao fim de muitos anos o meu coração apaziguou-se, talvez tenha feito as pazes com a Terra... Em boa verdade, não foi com a Terra porque nunca esteve zangado com ela. Nem com a Terra nem com as gentes e por isso senti sempre vontade de regressar. Apaziguou-se com ele próprio, e depois comigo, tranquilizou os ímpetos, amainou as vontades mais escondidas por trás de uma aparente felicidade. Durante anos não fora um coração feliz; foi ansioso por qualquer coisa que procurou infinitamente sem encontrar e que julgava que ali poderia estar. Foram buscas sem fim, encontros de equívocos que resultaram em (des)enganos incompletos, tristes, sem sentido.
Por fim, depois de tanto tempo, olhar para o presente sem regressar inevitavelmente ao passado era uma vitória pessoal. A certeza da vontade era que nada mais do que foi deveria regressar. Cada experiência era isso mesmo: uma vivência única e irrepetível, e o que lá vai já foi. Não queria que o passado fosse apagado. Cada minuto antes vivido faz parte de mim e conduziu-me ao que hoje sou. Mas a vontade de reviver o que se esgotou há muito desvaneceu-se, desapareceu envolta em névoa. De repente tive a sensação de que todos os encontros e momentos vividos, felizes ou não, merecem apenas ser lembrados como se de um conto se tratasse. Ao revisitar alguns locais apeteceu-me apenas rever essas lembranças começando o descritivo da memória com a frase: "Há muito muito tempo passei uma longa temporada aqui...".

Agora, mais do que nunca, sinto o coração apaziguado, tranquilo, descontraído e o que me dá essa certeza é que posso vir e partir para de novo regressar sem correr o risco de viajar aos pedaços. A cada vez que retornar e voltar a sair faço-o inteira sem deixar parte do meu coração por ali perdido...

São Tomé, 10/09/2014

Manual de sobrevivência em meios socialmente hostis

Presenciando cenas pela manhã bem cedo recordo uma pessoa que conheci em São Tomé e Príncipe há uma eternidade e de quem perdi o rasto há ...