quinta-feira, 12 de outubro de 2006

Ilhas

A verdade é uma, e uma só. Naquela altura não estava preparada para apreender os sinais que perversamente lhe escondiam, e que se iam revelando pouco a pouco. Foi preciso passar muito tempo para juntar as peças e compor o puzzle de uma vida passada num local distante. E o mais irónico é que foi escolha sua.

Imediatamente ao chegar, deslumbrou-se por tudo e pelo que mais houvesse: pela paisagem bela e tranquila; pelo verde intenso e reconfortante; pelo mistério do mar; pelos sorrisos abertos e pela simpatia aparente de quase todos com quem se cruzava; pela simplicidade dos modos de vida; pela descontracção e liberdade que sentia, ou que queria sentir. E contudo, ao deslumbrar-se perdeu-se, sem querer. Sem intenção. Ali a vida pareceu-lhe fácil mas, com o tempo, tornou-se difícil. Insuportável em certos dias.

Sem se dar conta, toda a sua vida viria a ficar marcada pela ligeireza com que tinha acreditado ser possível viver. E porque não poderia? A crueldade mesquinha de certas pessoas, infelizes e endurecidas, que jamais poderiam saber o que é a felicidade, teimava continuamente em demonstrar-lhe que o Mundo não tem harmonia, que as pessoas não são doces, que os príncipes não existem e que os dragões andam por aí, que os sonhos só acontecem de noite, quando invadem o estado subconsciente, e, que mesmo assim, são pesadelos insuportáveis. Para estes, a vida é pesada, dura e, só pelo facto de terem nascido, querem vingar-se de todos com quem se cruzam. São doentes, pode pensar-se, mas o que acontece é que fazem a vida dos outros num inferno porque se sentem diabos intocáveis e com poderes infinitos, sem entenderem que são tão desprezíveis que passaram há muito para a esfera da indiferença.

Aquele lugar ganhou com a partida destes seres-zinhos e hoje sei que, se o Paraíso existe e está espalhado pelo Universo, ali certamente foi criada uma delegação. É um local maravilhoso, e não há dia em que não me recorde de momentos vividos e partilhados, porque nesta Vida o que temos de melhor é aproveitar os momentos em busca da felicidade.

Não será esse um dos encantos das ilhas? A sensação de encantamento que, se não for bem entendida a tempo e horas, degenera em ilusão. Em solidão...?!

 

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