domingo, 20 de novembro de 2005

D. Adelaide

Ontem assisti com prazer redobrado ao programa “Na Roça com os Tachos”. Ao contrário do habitual, começou com imagens da cidade e a saudade bateu-me à porta, uma vez mais. Rever a tonalidade do céu com uma continuidade contrastante em relação ao mar, as ruas molhadas depois de uma chuvada como só há nos trópicos, os santomenses a caminhar nas ruas com a descontracção natural de quem tem a sabedoria infinita da espera, porque não vale a pena atropelar nem empurrar quando o caminho é só um e o destino também, a arquitectura colonial que tão bem conheço. Depois apareceu o João Carlos com o inseparável Kalú, que nunca se vê mas que todos sabemos que está ali por ser ele o Homem da imagem e do som, aquele que canta “Cacharamba”, cuja letra tem um sentido pedagógico, e explicou o que se passava. Era o 38º programa e íamos todos visitar a D. Adelaide à Pensão Turismo, onde se iria preparar um Calulu de frango e porco que, pelo aspecto só poderia estar mais do que magnífico e digno dos Deuses. E ali estive siderada em frente da televisão, coisa raríssima em mim, a rever a D. Adelaide que está na mesma desde que a vi pela primeira vez há uns bons 5 anos e qualquer coisa. A cozinha da Pensão Turismo modernizou-se mantendo a tradição do fogo a lenha por melhorar o paladar dos alimentos. Fantástico! Que saudades... Depois ali estive a rever o pau pimenta e ossame, as folhas de mosquito, pega rato, e tantas outras, e a malagueta tuá tuá, que até explode no ar. E cresceu-me água na boca ao ver o angu tão bem moldado às bolinhas e o calulu já pronto com uma consistência deliciosa e uma cor inconfundível. E apeteceu-me estar por ali, naquela sala de jantar que me acolheu durante tantas e tantas noites para jantar, e outras vezes durante o dia para almoçar, e onde me sentia em casa porque ali iam muitas pessoas conhecidas, e encontrava toda a família da D. Adelaide, com quem aprendi a comer safu cozido, fruto de estranho paladar mas que, segundo dizia a lenda, era a garantia de voltar uma e outra vez. Porque quem come safu volta sempre a São Tomé. E eu quis voltar e continuo a querer. E por isso comi muito apesar do paladar estranho. Porquê? Como uns amigos comentavam no outro dia a propósito do choro dos bebés: por tudo e por nada.

Manual de sobrevivência em meios socialmente hostis

Presenciando cenas pela manhã bem cedo recordo uma pessoa que conheci em São Tomé e Príncipe há uma eternidade e de quem perdi o rasto há ...