sábado, 14 de maio de 2005

A agricultura dos afectos

Não é fácil fazer com que algumas pessoas interiorizem a ideia de que o pousio afectivo não tem tempos pré-definidos, pode ser breve ou muito prolongado, tal como as filas de espera para pedir esclarecimentos ou informações num serviço público. Cada caso é um caso e por isso marcado pela particularidade. As pessoas são diferentes, e ainda bem, ou seja nem todas reagem da mesma forma aos estímulos e aos problemas!!! E nem todas interiorizam o modelo relacional e afectivo dos trópicos, mesmo quando lá não estão. Estou certa que é essa complexidade que faz da vida algo tão interessante, principalmente porque temos a capacidade e a possibilidade de escolher o que mais nos convém. Esta agora lembrou-me a Sara Tavares, quando canta “sei que posso fazer tudo, mas nem tudo me convém”
“Andas muito bem disposta e risonha”, dizia-me alguém com quem já não falava há muito. Sim, risonha estava porque actualmente as nossas conversas fazem-me rir. Mas não diria que estivesse bem disposta, não particularmente. Esta pessoa entende as minhas recusas como uma forma de me “fazer difícil”, de demonstrar a inacessibilidade a que supostamente o pretendi remeter. Não é bem isso. Talvez até lhe possa dar um bocadinho de razão porque, no passado, terá havido alguns episódios inesquecíveis pela mágoa que geraram, simplesmente porque não eram aceitáveis e muito menos geríveis. Histórias... quem as não tem...?! Mas hoje, isso foi ultrapassado e o desconforto anterior deu lugar à impossibilidade actual. Não, porque não e porque, além do óbvio, os solavancos cardíacos são causadas por outro nome e por outras razões.
Não sei se em agricultura há terras que ficam impossibilitadas de serem plantadas para sempre, ou só por uma espécie, rejeitando-a a cada vez que é tentada a sua introdução, porque essa não é de facto a minha área. Mas uma coisa sei e posso garantir, a minha incapacidade para retornar ao passado é imensa, diria mesmo infinita, é total, principalmente quando o passado tem anos e, na altura própria, se revelou num mau ano agrícola. Outras terras serão, por certo, mais produtivas.

Manual de sobrevivência em meios socialmente hostis

Presenciando cenas pela manhã bem cedo recordo uma pessoa que conheci em São Tomé e Príncipe há uma eternidade e de quem perdi o rasto há ...