sexta-feira, 31 de dezembro de 2004

Kitanda

No Kitanda, a frase de entrada é enigmática mas tão bonita... e há mais do apenas esta. Vale a pena ver. "Das poucas lembranças que trago da vida, África é a saudade que mais gosto de ter"


Histórias que passam por África

O promotor do LZEC relata a história do evento por partes/capítulos. A 1ª parte, a 2ª parte e a 3ª parte já estão disponíveis. Referências a Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe claro, com fotografias. Aguarda-se o desenrolar da história com a publicação dos novos capítulos e quem sabe de mais fotografias.
Outras histórias e outros autores podem ser lidos em O Mosquitto, todas relacionadas com TT e muitas passando por África.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2004

Desejos e palavras

Palavras, leva-as o vento - pensou - deve ser por isso que guardamos os desejos no fundo de nós mesmos. Assim, como não os expressamos em palavras, o vento não os pode levar e nem sequer a tempestade mais forte. E se não os conseguirmos realizar da forma que planeámos, podemos atribuir as causas a muitas coisas, mas nunca à materialização em palavras. Desta vez vou guardar bem, muito bem mesmo, os meus desejos para que ninguém os adivinhe e para que as tempestades não se atrevam a roubá-los. Fazem-me falta...

FELIZ 2005





Mais um ano termina e mais um se avizinha: a esperança que renasce, na expectativa de alterarmos o que não gostamos nas nossas vidas e de melhorarmos o que somos. Período de reflexão positiva, por excelência...
Um FELIZ 2005 PARA TODOS!!!


Comemorações: 4/11/2004

Comemorações da abertura da fronteira entre Moçambique e a Swazilândia


Fonte: Panapress
Posted by Hello

quarta-feira, 29 de dezembro de 2004

Panapress, Agência Panafricana de Notícias

Vale a pena navegar pela PANAPRESS que, além de ter notícias actualizadas do magnífico continente, tem uma excelente base de dados temática e por país.

E ainda...

um outro blog sobre África que é imperdível, pelo conteúdo que ns faz reflectir e pelas fotografias.
O Bazonga da kilumba foi-me recomendado e com razão.

África em poemas

Se o Fazendo Caminho já nos permitia sonhar um pouco, o Fazendo Caminho II faz-nos rever paisagens através da poesia e reviver sentimentos nos versos. Simplesmente lindo!!!

terça-feira, 28 de dezembro de 2004

Confissões de curta vida africana

E no meio da conversa, ela optou pelo monólogo. Tinha de falar, de contar - não tudo, apenas uma pequena parte do que foi e viveu. Ele não ia ficar a saber nada, pelo menos dos factos mais importantes, para o bem e para o mal. Mas precisava de partilhar alguma coisa do que já vivera. E com um desconhecido, as palavras fluíam melhor. Ele escutava-a com atenção redobrada, tentando encontrar pontos de ligação, apesar de não o conseguir. Talvez um dia, quando a conhecesse melhor e partilhasse algo mais do que apenas um café e duas horas da sua companhia. Se o destino o quisesse e assim o entendesse, teriam oportunidade de falar, de partilhar o passado, o presente e de construir um futuro. Se não pudesse ser, já ficava contente, afinal ela confiara-lhe algo que tinha dificuldade em relatar aos mais próximos. Por isso, escutava-a:
"A que Áfricas vou? Para já às que falam português - não sei se é bem dizê-lo desta forma, mas é a verdade. Olhe, hoje apetece-me conversar. E já que me perguntou, vou explicar um pouco o que me fez ir até África, contra tudo e contra quase todos os que fazem parte da minha vida.
Fui à Guiné, em tempos, e a Moçambique. Ultimamente tenho ido a S. Tomé, sem Príncipe porque inacreditavelmente... em 5 anos de idas e vindas nunca fui ao Príncipe, fui sempre adiando. Passei por Annobon, Guiné Equatorial, mas foi apenas uma passagem e não uma estadia. Quem sabe se poderei passar a outras Áfricas que não falem português. Penso voltar aos 3 "eleitos" e associar mais alguns no próximo ano e por mais uma temporada.
O que fiz por lá? Coisas diferentes em todos eles e, em STP, muitas. Na Guiné colaborei com uma ONG local, financiada, claro está, por instituições internacionais, na avaliação de micro-projectos de desenvolvimento local, comunitário e participativo. Foi a minha primeira incursão por África, não conhecia ninguém e resultou, na altura, numa vivência fortíssima, marcada por um sentimento de isolamento muito grande, onde senti inúmeras dificuldades pelas características sociopolíticas e económicas. Era a época do Nino Vieira e aquilo não era fácil. Apesar de ter sido muito bem acolhida e de todos terem sido muito afáveis comigo, estive todo o tempo desejosa de regressar à base e à minha normalidade, rotineira, segura e muito programada, com horários encadeados, relações pouco fortes mas seguras, uma vidinha pouco emocionante mas confortável qb. Hoje gostava de lá regressar e espero consegui-lo nos próximos anos. Penso muito naquele país, nas tradições e nas formas de vida, nas coisas que me fizeram confusão mas que hoje entendo muito melhor.
A verdade é que, se a experiência foi dura na altura em que lá estive, o "bichinho" por África ficou e a minha vontade de conhecer mais sítios, confrontar culturas e ter novas vivências foi aumentando à medida que a rotina se instalava. A vida que tinha aqui podia ser confortável, mas no fundo... era uma chatice! Sempre igual e repleta de obrigações. Profissionalmente estava bem, com uma posição também confortável, cada vez com mais responsabilidades e mais estatuto, mas... havia qualquer coisa que me deixava insatisfeita. E assim... aparece Moçambique, onde estive de passagem, em viagens de curta duração, nada de muito importante, mas tenho de reconhecer que foi um país que me marcou, principalmente a nível pessoal e do qual gostei tanto que espero também voltar.
Como já tinha o "embate" da Guiné, não me senti tão estranhamente confrontada com a cultura africana, com os modos de vida e com as posturas dos africanos. Mas, mais uma vez, não regressei igual ao que fui. Muitas coisas mudaram em mim naquelas curtíssimas estadias e creio que cresci, talvez não da melhor forma, uma vez mais. Mas amadureci, com certeza. Tal como na Guiné, mas por motivos diferentes, senti solidão, ausência, angústia e sentimentos pouco claros com os quais não estava habituada a lidar. E de novo regressei à minha rotina, com horários, estabilidade, pouca emoção mas era o que se arranjava.
De repente, meio caído do céu, aparece-me uma hipótese de começar a colaborar, pontualmente no tempo com STP. E fui. Era um país novo, que me apetecia conhecer, pequeno, muito seguro já que é conhecido como o país com menos criminalidade do mundo, com pessoas novas, que poderia conhecer e num trabalho aliciante. Destes trabalhos surgiram outras propostas e passei assim 3 anos, a ir e a vir, o que culminou com a minha mudança para lá, onde vivi durante 1 ano. Fiz investigação, colaborei com organismos públicos, fiz conferências e comecei a colaborar com uma revista local.
A partida foi muito dura, bem como o regresso porque, misturado com o facto de me ter apaixonado pelo país e pelas pessoas logo na primeira ida, deixei-me apaixonar por lá, pela pessoa errada. O regresso foi necessário, por muitasrazões. Mas não deixei de lá ir, de tempos a tempos. E espero um dia regressar, quem sabe para ficar uma longa temporada, ou quem sabe uns dias apenas. O futuro o dirá e não faz bem tentar adivinhar o futuro.
Esta é a minha história africana, resumida ao possível. Se me perguntar se gosto de África... Do que conheço, sim! Gosto muito. Da disponibilidade, da facilidade dos contactos que se estabelecem, de forma natural, das paisagens, dos sorrisos, da comida, do clima, da forma como se sente por lá. De... de... de... são tantas as razões que é difícil explicar. E posso dizer-lhe que nunca tive estadias fáceis."

Conversa, Viagens e África

- Viagens é um tema tão interessante, independentemente do destino - disse ela com ar sonhador - Os destinos das nossas viagens dizem algo a nosso respeito, não acha? Eu, ultimamente, tenho viajado mais para África, por necessidade e por gosto, por trabalho e por paixão.
- Eu também viajei por África durante muito tempo - respondeu ele com gravidade - A minha África tem vários tempos, vários destinos e várias razões... Mas hoje os meus destinos são mais "tradicionais" - respondeu com uma expressão séria - Acabei por criar raízes e espero não voltar a África. Já não consigo viver num local onde, salvo raras excepções, amanhã será certamente pior do que hoje e melhor do que depois de amanhã.
- Os destinos tradicionais são muito agradáveis, depende do momento que se vive, não é? - respondeu ela - E sabe uma coisa? Faz bem em ter criado raízes. Algum dia isso acaba por acontecer a todos.

The Polar Express

Muito recomendável para Todos os que:
1. NÃO acreditam que o Pai Natal existe;
2. Acreditam na magia do Natal;
3. São crianças;
4. São adultos (com ou sem crianças).
Vão ver The Polar Express - de preferência na versão original. É fantástico em tudo: imaginação, interpretação, efeitos, música, imagem/fotografia e... o final é fabuloso!

segunda-feira, 27 de dezembro de 2004

domingo, 26 de dezembro de 2004

Pensamentos sobre a Vida

"Não lamentes nem sintas pesar pelo que jamais pode acontecer... Em vez disso, celebra o que virá"
" (dirigia a sua vida) Com um estilo nascido do puro instinto, transmitia claramente a sua satisfação pessoal. Era uma mulher de negócios competente, que gostava de lucros e de levar a melhor. Sempre. Porém, dentro dos seus próprios termos. O que a aborrecia, ela ignorava. O que a intrigava, porém, ela perseguia, buscando respostas."
Nora Roberts, "A Ilhas das Três Irmãs"

Viver o Natal

Ao contrário da maioria dos adultos que conheço, para quem o Natal é uma obrigação apenas minimizada pelas prendas, para mim, é uma época fantástica, em que sinto que a mistura da fase infantil com o estado adulto é possível. É delicioso sentir a magia do Natal e sonhar uma, e outra, e outra vez ainda.
Gosto das luzes e de ver as iluminações nas ruas da baixa lisboeta, do cheiro, do frio e do bolo rei, de preparar os doces, o perú e o recheio, de me certificar se a mesa ficou pronta, com a vela acesa, à espera do Pai Natal, que está muito velhinho e cansado, porque vem do Pólo Norte e faz uma viagem longa só para nos fazer felizes.
Há muito que não vivia o Natal de forma tão intensa como neste ano porque tenho chegado a casa nas vésperas, vinda do calor africano onde a imagem e a vivência natalícias são bem diferentes, com a cabeça confusa de tanta mudança e sem tempo para me preparar interiormente. Mas este ano foi diferente e soube-me como a vida. Bem, muito bem mesmo!
Tive tempo para tudo o que há tanto tempo planeava - fazer a lista de Natal e pedir as dos outros, falar com o Pai Natal e acertar os presentes, comprar o perú e todos os ingredientes necessários, a abóbora e os ovos para os doces, fazer a árvore de Natal e o presépio, com a alegria da companhia dos mais novos, ouvir músicas de Natal e cantá-las baixinho porque alto não pode ser, fazer os doces no dia 24 de manhã, amassando os ingredientes numa massa que se vai transformando ao longo da manhã, ter o privilégio de provar o primeiro exemplar de cada doce, temperar o perú na véspera como manda a tradição, preparar o recheio de castanhas e assá-lo devagar, ao longo da tarde...
E no final de tudo isto e mais algumas coisas, senti-me feliz!

terça-feira, 21 de dezembro de 2004

Triste História - Em Moçambique 2

Lai recorda-se da curta estadia em Zongoene como se tivesse acabado de viver aqueles momentos. Tudo foi novo para ela, sobretudo as atenções e os cuidados que Mi revelava com ela, por tudo e por nada. Viveram-se momentos intensos num clima tranquilo, entre colegas e um desconhecido, de quem ela desconfiara tanto, mas que se ia revelando, minuto após minuto, um homem interessante. Falava com à vontade e conhecimento de qualquer tema e demonstrava estar bem informado sobre a ciência no geral, as questões sociais em particular, a literatura e a filosofia, o ambiente, a economia e a política. Conhecia todos por lá e todos o tratavam com cordialidade, o que não era estranho dado ser este o seu trabalho, mas era absolutamente reconfortante porque fazia dele uma pessoa confiável. Numa palavra era um cavalheiro.
Durante aqueles dias, Zen e Los não largaram Lai com piadas e sorrisos que a iam deixando desconfotável e sem graça, corando e revelando, de forma inconsciente, que ele não lhe era indiferente. À conta de tanto o repetirem, Lai começou a perceber algum interesse manifesto de Mi, mais do que seria habitual, e sabia-lhe bem tanta procura e atenção, sobretudo porque acreditava que esta era uma situação passageira, sem outras consequências além do conforto para o ego. A ideia de se envolver afectivamente com Mi estava longe da cabeça de Lai para quem os afectos não surgiam de forma repentina.
A generosidade dele confundia-a e por isso procurou abordar a questão em conversa privada com a amiga, com quem partilhava o quarto, como preocupação – era bom mas estranho. Ela estava habituada a viajar pelo Mundo inteiro, desde que se conhecia como gente, e nunca tinha assistido a tamanha oferta por parte do dono de uma agência de viagens. Afinal este era o seu trabalho, como poderia oferecer sem parar? Mas para Zen tudo era demasiado simples. Mi queria envolver-se com Lai e era uma forma de se aproximar dela, insinuando-se e com demonstrações de afecto. Mas Lai não queria acreditar nesta hipótese porque tudo lhe parecia demasiado básico e linear, ela nunca tinha vivido uma história assim e não seria esta a primeira, argumentava cheia de certezas.
Quando a hora da despedida surgiu, ficaram as promessas de Mi de uma visita e de um reencontro com todos, passado pouco tempo, para um prometido bacalhau à brás, que fazia as suas delícias, segundo dizia.
A viagem Maputo-Lisboa foi feita sob o efeito anestésico de uma série de evidências que Lai se recusava a reconhecer, sobretudo para os dois colegas, mas que a deixavam nas nuvens. Mi não era bonito, era um homem com um físico banal, dotado de uma proeminência estomacal que revelava alguma tendência para a bebida, aliás confirmada com a estadia em Zongoene. Mas era muito simpático, atencioso e cativante para trocar dois dedos de conversa.
O regresso ao trabalho foi penoso depois daquela temporada passada nos trópicos e o tema de conversa rolava à volta das fotografias e de lembranças alegres, descontraídas e promissoras. A troca de mails iniciou-se de imediato, tornando-se mais do que diária, quase horária e daí às conversas em tempo real através do messenger foi um passo. A ansiedade do reencontro cresceu e Lai respondia aos mails de Mi, que não escrevia a mais nenhum dos colegas, com gosto de dedicação, esperando nova mensagem, ou melhor novo texto, extenso, longo, traduzindo vontades que ficaram por satisfazer.
E o final de Setembro daquele ano, já lá vão 6, chegou e Mi aterrou em Lisboa com vontade de ver e rever Lai. Ligou-lhe numa manhã de domingo e combinaram um almoço, em casa de uns amigos dele, de sempre. Foi estranho aquele dia e auspiciou a melhor e a pior sucessão de acontecimentos que ela viveu até hoje.
Depois de um arroz de pato na casa do casal amigo, que olhava para ela com desconfiança, onde existiam duas adolescentes e uma criança, duas iguanas enormes num aquário gigante na cozinha e um hiper cão preto no pátio exterior, Lai e Mi sairam e foram passear até Sintra. Falaram durante horas, que passaram num ápice enquanto tomavam um café prolongado no Moinho, de tudo e de nada, do passado e do presente e quando chegaram às Azenhas do Mar, como se de cena de filme se tratasse, Mi agarrou-a e beijou-a, lenta e ternamente com as ondas a rebentarem mesmo atrás deles.
E lá começou mais uma história que poderia ter tido muitos finais diferentes, mas aquele que estava destinado foi infeliz, marcado por desencontros, ausências e incompreensões.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2004

Imaturo desagrado

Há um tempo atrás ter-te-ia perguntado, com o ar ofendido que só as crianças sabem expressar quando as fazem desacreditar por fim que as estrelas não são estrelas, porque me continuas a chamar imatura. Hoje percebi que devo ter crescido de repente porque não consegui traduzir-te numa expressão o meu desencantamento e também não tive vontade de fazer a pergunta. Mas desiludiste-me... sobretudo porque não percebi a razão!

domingo, 19 de dezembro de 2004

Triste História: Em Moçambique I

Numa das Áfricas por onde passou, e numa das viagens de curta duração, Lai conheceu um homem misterioso, para quem a vida era um fardo, as acções e os comportamentos dos outros um enfado. Era um homem estranho e que, pela diferente forma de ser e de estar, lhe foi despertando curiosidade.
Conheceram-se, sem que ela o procurasse ou desse, de imediato, com a sua presença. Na verdade, nem sequer simpatizara com ele de início, pela forma directa e incisiva com que a abordou, opinando sobre as melhores opções que ela deveria tomar para ocupar os tempos livres, sem que ela lhe tivesse pedido qualquer indicação.
Lai recorda-se com exactidão desse dia. Estava com uma colega, que, com o tempo, se tornou amiga, e trocavam impressões acerca de uns dias livres que tinham e que queriam aproveitar. Zen queria ir para Bazaruto, um arquipélago lá para o norte, que se revelou incomportável, pelo preço e pela distância, mas o desejo era praia, pelo que qualquer outro local, que fosse dotado de extensos e desertos areais e de um mar a perder de vista, era o ideal. Lai, por sua vez, tinha o fascínio dos animais e ver elefantes e outras espécies em habitat natural era o seu sonho. Conversavam animadamente com uma loura que as atendia, de quem Zen tinha conseguido o contacto através de uma das inúmeras primas que tinha. A loura estava impávida e quase serena a escutar os argumentos de Lai, que vestia uns calções tipo macaco, brancos, encarnados e azuis, justos que realçavam o corpo, então torneado.
De repente, aparece um homem, alto, forte e alourado que, com a propriedade do conhecedor, propõe uma alternativa que poderia servir às duas - uns dias num lodge junto à foz do rio Limpopo onde a praia seria a tónica dominante mas com possibilidade de observar espécies. Lai olhou-o de relance e pensou quem seria este a opinar sem que lhe fosse pedido. Desconfiou de imediato e não sentiu empatia. Zen gostou dele, como quase sempre acontecia, por ser uma mulher crédula, apesar de mais velha e supostamente mais experiente.
Aceitaram a proposta e acertaram os pormenores e no dia combinado, para espanto das duas e de Los, o único colega do sexo masculino que as acompanhava, quem apareceu para os levar foi o patrão, nada mais do que Mi. Lai procurou dormitar os cerca de 300 km que efectuaram até ao destino, porque não se sentia confortável com a presença de Mi, que se tornava permanente, e enquanto os outros conversavam alegramente acerca de tudo o que iam encontrando.
A chegada foi fantástica e a imagem que Lai teve foi de se sentir num paraíso onde reinava a tranquilidade e a beleza da paisagem. Os quartos eram cabanas com telhado de colmo, enquadradas por vegetação pouco densa e um rio, o Limpopo, grande, extenso, pouco límpido. Mi foi-se aproximando de Lai, criando oportunidades de maior contacto e procurando o conhecimento. A estadia foi passada em conjunto e as actividades realizadas a quatro - Lai, Zen, Los e Mi. Foi divertido e tiveram momentos inesquecíveis que, apesar de tudo o que veio depois, Lai não apagará da memória, pelo encantamento reencontrado.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2004

Natal em África

Há algum tempo que não vivia a época natalícia de forma intensa. Nos últimos anos tenho estado em África, no caso em São Tomé, chegando a Lisboa nas vésperas de Natal. As compras estão sempre feitas, o que não me obriga a recorrer aos centros comerciais apinhados de gente à procura da compra ideal no dia 24. A verdade é que tenho chegado e a sensação é estranhíssima: ver as ruas iluminadas, as pessoas num movimento imparável, o cheiro a castanhas assadas por quase todos os sítios por onde se passa, o trânsito pior do que é hábito.
Tenho-me poupado a algum stress mas tenho também perdido a parte boa: programar as festas, pedir as listas de desejos, para "falar com o Pai Natal", ver os ajudantes de Pai Natal nas ruas e relembrar a infância, quando o mistério nos fazia ficar acordados só para o ouvirmos, sem termos autorização de ir até à lareira. A verdade é que nem sequer tenho tido coragem de fazer os doces, pelo que os tenho comprado feitos e nas reuniões familiares sinto-me alheada das conversas e dos risos. E a sensação que tenho tido é muito estranha, de desenquadramento e de necessidade de ter mais tempo, sem ter o direito do pedir, para me adaptar à "movida" natalícia.
Em África, o Natal é vivido de forma muito diferente: não há frio e as folhas não caem das árvores; não há homens a vender castanhas e as ruas estão pouco iluminadas; não há pinheiros para enfeitar, nem musgo para o presépio; a "loucura" das compras não se coloca porque há pouco para comprar. É, para mim, a época mais difícil de viver em África, sobretudo por não ter a minha família por perto.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2004

Dia de Sol

Gosto: dos dias de sol, sempre que as nuvens e a chuva vão de férias para outro qualquer local e o vento está de greve; de sentir a energia dos raios solares que progressivamente me aquecem a alma e os sentidos; de me esperguiçar em frente ao mar, azul, denso e calmo; dos pores do sol em céu límpido, quando as tonalidades fortes, rosadas, amareladas e azuladas me inundam a visão. Sinto-me feliz quando, mesmo no inverno, olho o céu e sinto que os Deuses se lembraram de me transmitir paz e tranquilidade. E, se tenho esta agradável sensação quando estou sózinha, mais feliz fico quando posso partilhar a alegria do bem estar com pessoas de quem gosto, amigos de sempre e outros mais recentes, que conheci pelas mais diferentes paragens, sobretudo por essas Áfricas, tão densas e ricas em emoções e formas de sentir, onde reaprendi a apreciar uma paisagem e um pôr do sol.

terça-feira, 14 de dezembro de 2004

Avaliações

A pior tarefa da actividade docente é, em minha opinião, a correcção de testes/trabalhos/exames, seguida da obrigatória avaliação quantitativa. É terrível atribuir uma nota, entre 0 e 20, à prestação de alguém e, além de tudo o mais, é uma tarefa muito cansativa, por vezes exasperante...

domingo, 12 de dezembro de 2004

Saudades de África

De tempos a tempos sinto saudades de África, pela ausência de um conjunto de coisas que se vivem lá e que cá não se têm, sobretudo quando o frio me enregela os movimentos e me esfria os sentidos.
Tenho saudades do calor intenso salpicado por uma densa humidade, do cheiro misturado a terra molhada com frutas frescas, da sensação que por lá o tempo pára, permitindo-nos vivências redobradas, da ilusória receptiva disponibilidade que se procura ter entre todos, sem na verdade se ter.
Tenho saudades das praias de águas tépidas e transparentes habitadas por uma infinidade de espécies, das areias finas e dos coqueiros que, de vez em quando, libertam de forma natural um fruto, emitindo um som inigualável.
Tenho saudades da vegetação e dos animais, da vida ao ar livre e em contacto com a natureza, onde se aprende por observação directa, escutando as explicações de quem nos parece ter nascido ensinado, com dons e conhecimentos próprios, só possíveis naquelas terras, que vão sendo transmitidos de pais para filhos, sem paragens.
Tenho saudades de rir sem parar, de me sentir criativa quando procuro conchas ou cocos para decorar interiores, depois de os tratar e envernizar, de ouvir músicas ternas e envolventes, de inventar receitas para partilhar com um alguém que sinto como especial.
Tenho saudades dos mercados e das palaiês, das frutas e de tudo quanto se pode fazer com elas, dos peixes com nomes estranhos e do marisco com os mesmo nomes e aparências diferentes.
Tenho saudades de sentir saudades da civilização e do desenvolvimento, do cinema e do frio, dos livros e de vinhos caros, do conforto e de um centro comercial onde se possa gastar dinheiro a comprar coisas que nunca nos farão falta.
Tenho saudades até um dia voltar.

sábado, 11 de dezembro de 2004

Guardar o Encantamento

(Para o BLU)
Há momentos na nossa vida - dias, semanas, meses e anos - que, por terem sido tão felizes, queremos guardar para sempre, com a ternura das primeiras impressões, o entusiasmo dos primeiros olhares, os sorrisos abertos permitidos pelas primeiras trocas de palavras, as primeiras gargalhadas francas, seguidas de todas as outras, e o arrepiar dos sentidos com os toques iniciais. Quando pensamos no que veio depois questionamo-nos com frequência se terá valido a pena tanta entrega e desejo alimentado. E o balanço é: SIM!!!! - pela certeza de termos vivido momentos únicos de encantamento que nunca nos poderão ser retirados, por mais ou menos que venhamos a viver com um outro alguém.
O que é verdadeiramente maravilhoso numa relação amorosa é sentirmo-nos encantados com o Mundo que o Outro nos ensina a descobrir, as coisas que sempre estiveram à nossa frente e que antes não víamos, pela simples razão que Ele não estava connosco. É fantástica a possibilidade consciente de partilharmos ideias, pensamentos, visões, situações que jamais se repetirão porque cada momento só se vive uma vez. É magnífica a perspectiva de nos entregarmos e de alguém se entregar a nós, num sentimento recíproco e vivido na mesma altura, com intensidade e dedicação, com uma vontade espontânea e natural.
E tudo isto, continuo a querer acreditar que, vivi contigo, por isso quero guardar comigo o encantamento do primeiro entusiasmo, que sei que não se poderá repetir, o desejo criado com o primeiro toque, a descoberta partilhada de um Mundo que se nos apresentava como novo, apesar de não o ser. O balanço foi positivo. A ternura com que te olhei uma, e outra e tantas vezes, a compreensão com que escutei as tuas palavras, das mais meigas e doces às mais duras, o desejo que despertaste em mim, até sentir por ti um sentimento que até hoje ninguém me despertara, tudo isto e tanto mais procuro guardar dentro de mim, para sempre. Terna e docemente, com encanto.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2004

Quadrante, CCB

Não me canso do CCB. Confesso que, no início, a aquitectura me chocou um pouco, mas com o tempo, por assistir a espectáculos e visitar exposições temáticas, de quando em vez, fui-me habituando ao espaço e hoje considero-o mesmo muito agradável. Principalmente porque o "Quadrante" permite longas conversas sem estarmos, a toda a hora, a ser confrontados com novos consumos. A filosofia é viver o espaço, tomar um café ou uma água, ler um livro, trabalhar descontraidamente ou conversar, sem a sensação dos vizinhos das mesas próximas estarem a sorver as nossas palavras. E a possibilidade de nos sentarmos na esplanada, virados para o rio, tendo como cenário o fantástico Padrão dos Descobrimentos, permite-nos viver sensações inigualáveis, porque maravilhosas. O "jardim das oliveiras", que não sei se é denominado mesmo assim ou se tem outro nome, é um espaço de referência, pela beleza e pela harmonia das formas, pela tranquilidade da fonte e pela presença dos pardais. Deslumbrante!

Pintura

Hoje o céu foi pintado por mãos sábias e inspiradas, criando um cenário digno dos eleitos. Permiti-me usufruir de um deslumbrante pôr-do-sol, de um céu pintalgado de tonalidades, intercalando o amarelado com o rosado num fundo azul claro, marcado por ligeiras nuvens brancas, colocadas em faixas paralelas e quase simétricas. Sózinha contemplei aquela imagem e senti-me invadida por uma inexplicável e irrelatável tranquilidade, um sentimento reconfortante de segurança e protecção celestial. Foi estranho mas muito agradável. E esta imagem só pode ter sido possibilitada por um pintor divino.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2004

África...

um magnífico continente de contrastes que se observam e que se vivem...



Posted by Hello

Revista "piá" (São Tomé e Príncipe) de parabéns

A revista "piá" (São Tomé e Príncipe) faz dois anos este mês. De parabéns estão os dinamizadores da iniciativa que têm trabalhado de forma incansável, com persistência e determinação (em particular a Mena e o Nilton Dória), os colaboradores fixos ou pontuais, através das investigações e conhecimentos partilhados nos textos cedidos e publicados, e todos os leitores que têm permitido que este jovem projecto de comunicação social/informação santomense siga em frente.

terça-feira, 7 de dezembro de 2004

Ylang Ylang

O Ylang Ylang é uma planta muito conhecida e apreciada pelas propriedades que lhe são atribuídas e pela diversidade de utilizações possíveis: a cosmética, a aromoterapia e a medicina alternativa. É denominada por Cananga Odorata Genuína e dita "flor das flores", "flor das pétalas douradas", "rainha das flores", "árvore do perfume". É linda e o aroma que emana é fantástico e inesquecível. As primeiras que vi foram em São Tomé e Príncipe, um pouco espalhadas por todo o arquipélago. Mas a imagem mais fenomenal é a da varanda da Casa Azul na Roça Agostinho Neto, com chuva torrencial - o som forte da chuva e o aroma intenso e envolvente do ylang ylang ficarão para sempre retidos na minha memória. É esta flor que os fabricantes de perfume tanto procuram. Fantástica porque olhando para ela não é mais do que uma florzinha igual a 100.000 florzinhas. Mas quando nos habituamos, passa a ser a nossa florzinha...



Posted by Hello

Triste Lucidez

Percebera por fim, ou talvez desde sempre, que ele não chegara a amá-la. Nem a ela nem a nenhuma das mulheres que passaram pela vida dele. Amava-se principalmente a si próprio e, por tanto se amar, necessitava de ser amado por muitas mulheres, tantas quantas conhecesse, e o que o fazia viver era a perspectiva de haver um mundo por descobrir, um universo feminino infinito e cheio de potencialidades. Todas eram tão parecidas e, na verdade, tão diferentes. Essa ideia, apenas essa, seduzia-lhe os sentidos, fazendo com que se rendesse a um encanto, a outro e outro ainda. E ela tornou-se na mulher mais consciente que algum dia conhecera, triste mas consciente.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2004

Real Café

Magnífico, brilhante, a repetir e a recomendar!
Fui convidada para jantar num restaurante chamado Real Café, por cima da Real Fábrica, na Rua da Escola Politécnica, em Lisboa (213870648). Nem queria acreditar porque eu conhecia bem aquela casa - viveu lá uma amiga minha de infância/adolescência e muitas vezes, quando ia ou vinha do Britânico, subi aquelas escadas para conversar um pouco.
Subimos as escadas e, para meu maior espanto e surpresa, se era possível..., dou de caras com um dos gerentes, o Sr. Rogério do Luar da Boavista, da Hatari e da Confeitaria do Marquês. Era verdade, muitas vezes almocei e jantei no Luar da Boavista com colegas, quando estava na UAL. A festa foi recíproca já que era cliente habitual antes de ir para S. Tomé viver, e sempre fui muito bem tratada. Desde o meu regresso e porque estou um pouco "longe" da Boavista, não os visitara, pelo que este reencontro foi marcado por grande contentamento.
A comida é excelente, bem confeccionada e com gosto, com uma boa selecção de vinhos, o atendimento magnífico e o espaço simples mas de requinte agradável.

Anomalias

Por falar e pensar tanto em África, fui ter, vá-se lá saber como, ao Anomalias. Simplesmente magnífico nas fotos que apresenta, nas informações disponibilizadas e nas pistas de reflexão. Faz pensar...

domingo, 5 de dezembro de 2004

Guiné, uma vez mais

Um amigo parte amanhã para a Guiné, um amigo que conheci em São Tomé, já nem sei há quanto tempo. Homem da agricultura, do café e das plantações, das longas caminhadas pela floresta, dos jardins e das flores, das explicações detalhadas e das conversas respeitadoras. Um homem como há poucos, sempre com uma palavra amiga e um olhar mais do que compreensivo, sem segundas intenções.
Hoje escrevi-lhe para lhe desejar boa sorte nesta nova fase africana - ele não conhece a Guiné - porque tudo vai ser novo para ele. A Guiné é uma África bem diferente de S. Tomé, é mesmo África, pela dureza das vivências, pela densidade da paisagem, pela complexidade das culturas, pela diversidade étnica. E quando lhe escrevi lembrei-me do que por lá vivi. Foi de tal forma marcante que ainda hoje, passados quase 10 anos, penso naqueles sorrisos e naqueles olhares, que se me pedissem para descrever numa palavra, diria que o sorriso é terno, o olhar intenso e as faces meigas.
Espero que ele se dê bem, que tenha cuidado com as aventuras em meio natural - as cobras, os jacarés nos rios e as formigas, são os principais riscos. Além do paludismo, mas esse ele já conhece.
E espero que coma muitas mangas, das que abrem, das fibrosas, das verdes, das vermelhas, das amarelas e das laranja, de todas porque são sumarentas e magníficas; ostras; camarão; ananás; banana; coco; mancarra (o amendoim); caju, fresco e seco; e tudo e tudo. E que não olhe muito para o céu para não se confrontar a toda a hora com os jagudis (abutres) que pairam sem parar. Que aproveite e se divirta, com cuidado e cautelas, que dance muito e passeie mais.

Olhar

"Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação"

Mário Quintana

Conversa profunda...

- Casas comigo? - perguntou a jovem rapariga apaixonada
- Agora não tenho tempo - respondeu o namorado enquanto a abraçava e beijava, procurando dar andamento aos afectos
Ela afastou-se e com tom aborrecido respondeu:
- Não percebo. Afinal, porque é que os homens se dão ao trabalho de andar a correr atrás das mulheres durante tanto tempo, com dedicação e promessas infinitas, se depois não querem casar com elas...?!
- Mas olha lá, já viste que os cães também correm atrás dos carros, às vezes durante muito tempo e por distâncias longas, ficando cansados, mas na verdade... não os querem conduzir!!! - respondeu ele prontamente

sexta-feira, 3 de dezembro de 2004

Kho Sante



Posted by Hello

O que é um Amigo

Em África há uma enormíssima contradição, a maior de todas, para os portugueses que procuram (con)viver uns com os outros - todos são "grandes amigos" mas em nenhum se pode confiar verdadeiramente. Fui jantar com uma amiga, que conheci numa das Áfricas pelas quais passei, e falámos sobre as amizades. Dizia-me ela que era estranho que no nosso grupo de amigos houvesse tanto maldizer, comentários sobre a vida alheia, mas sem que os próprios tivessem conhecimento directo, não se podendo portanto defender. Eu já sabia, até porque fui, entre outras pessoas, um dos alvos dessas conversas. E, a dada altura, tudo passou a ser demasiado óbvio.
Amigos por lá fiz poucos, tal como toda a gente. Mas no que toca a conhecidos... fiz muitos, conhecia toda a gente e toda a gente me conhecia. Ela estava desagradada porque não compreendia como, pessoas que estavam permanentemente juntas, que não faziam nada umas sem as outras, que partilhavam momentos - bons e maus - vivências e tudo o que fosse, podiam criticar-se tanto, sem frontalidade, sem abertura, sem sinceridade. Parecia-lhe uma atitude desonesta, por parte desses "amigos".
Vim para casa a pensar que a vida é muitas vezes injusta e severa, que as provas pelas quais temos de passar não nos facilitam os maus momentos, agravando-os e que as pessoas em quem procuramos confiar, em certos contextos, não merecem um minuto do nosso pensamento, quanto mais dias, semanas e meses de convívio. Pensei no que ela teve necessidade de me contar ao fim de tanto tempo, e falei pouco, como seria de esperar dado o tema da conversa ser sensível. E lá fui reler um dos livrinhos de bolso, temáticos.
"Um amigo é alguém que pensa em ti e te ouve e te ajuda a saber o que tu és. Alguém que te ajuda a descobrir as coisas, alguém que está contigo e não tem pressas. Alguém em quem tu podes acreditar".
in Um Amigo, Editorial Presença

quinta-feira, 2 de dezembro de 2004

Silêncios, palavras e gestos

E no silêncio olhaste-me, procurando transmitir-me a ternura que me roubaste há uns tempos, como se o olhar fosse suficiente para apagar actos antigos, inqualificáveis e injustificáveis. Mas olhando-me, e revendo os minutos de infelicidade, não conseguiste proferir uma única palavra. Os encontros eram marcados pela cobrança retardada, pelos gestos desencontrados, pelas vontades incompletas e fugidias, pelas palavras desejadas mas não ditas, pelos gestos de afeição que nunca chegaram a ser expressados. Na impossibilidade de nos fazermos entender e aceitar, ficámos a ouvir os Toranja que cantavam na rádio:
"Não falei contigo com medo que os montes e vales
que me achas caíssem a teus pés...
Acredito e entendo que a estabilidade lógica
de quem não quer explodir faça bem ao escudo que és...
Saudade é o ar que vou sugando
e aceitando como fruto de Verão nos jardins do teu beijo...
Mas sinto que sabes que sentes também
que num dia maior serás trapézio sem rede a pairar
sobre o mundo e tudo o que vejo...
É que hoje acordei e lembrei-me que sou mago feiticeiro
Que a minha bola de cristal é feita de papel
Nela te pinto nua numa chama minha e tua.
Desconfio que ainda não reparaste
que o teu destino foi inventado por gira-discos estragados
aos quais te vais moldando...
E todo o teu planeamento estratégico de sincronização do coração
são leis como paredes e tetos cujos vidros vais pisando...
Anseio o dia em que acordares
por cima de todos os teus números raízes quadradas
de somas subtraídas sempre com a mesma solução...
Podias deixar de fazer da vida um ciclo vicioso
harmonioso do teu gesto mimado e à palma da tua mão..."
E tentaste tocar-me, uma vez mais, e beijar-me, apesar da minha resistência, quando as palavras relatavam o que sentias e que não conseguias expressar:
"Desculpa se te fiz fogo e noite sem pedir autorização
por escrito ao sindicato dos Deuses...
mas não fui eu que te escolhi.
Desculpa se te usei como refúgio dos meus sentidos
pedaço de silêncios perdidos que voltei a encontrar em ti..."
E olhando-te, agora eu, percebi que fui apenas o refúgio dos teus sentidos, um pedaço de silêncios perdidos que tentastes voltar a encontrar em mim... apenas...

Projectos, novos projectos

De repente, os projectos apareceram e, como de costume nestas coisas, todos ao mesmo tempo. Ao princípio temos a sensação que não conseguiremos dar conta de tudo, mas com o tempo, com uns bons exercícios de sistematização e de relaxamento mental, percebemos que somos muito polivalentes e que as nossas capacidades são infinitas. E sentimo-nos vivos de novo, revitalizados, felizes.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2004

Aprendi

Em África aprendi a ouvir mais do que falar. Saber ouvir o que os outros arranjam para nos dizer, apesar de não haver nada de novo, só porque não sabem lidar com o silêncio, é uma grande virtude. E, além do mais, protegemo-nos muitíssimo, o que é magnífico. Basta sorrir para darmos a entender que, sem o sentirmos, partilhamos da mesma preocupação - falar, comentar, criticar e destruir a vida alheia. É o savoir vivre africano...

Paz

Na verdade, uma das coisas que mais procuro é viver em paz, comigo e com os outros, não causar estragos e não me intrometer na vida e nos relacionamentos de quem quer que seja. Quero viver tranquilamente, depois de me ter reconciliado com a minha consciência. Estou em paz e é assim que quero estar.

Manual de sobrevivência em meios socialmente hostis

Presenciando cenas pela manhã bem cedo recordo uma pessoa que conheci em São Tomé e Príncipe há uma eternidade e de quem perdi o rasto há ...