As razões da desilusão não são sempre óbvias, directas e lineares. Passo a explicar: não é necessariamente o facto de B não gostar de A que faz com que A se desiluda, mas sim a atitude dúbia de B em relação a A. Afinal, A sempre teve consciência que B tinha um modo de vida que não se adequava ao que ela idealizava, pelo menos depois de B a ter feito sofrer de forma gratuita há um bom par de anos.
A não acreditava que B tivesse mudado e, apesar do mal que lhe causou no passado, e que ela não conseguia nem queria esquecer, quis saber dele e proporcionou uma reaproximação. O que a magoou e que continuava a magoar não era o facto de ele ser o protótipo do "malandro", e A não queria qualificá-lo de bom, porque não o poderia fazer, mas sim a incapacidade dele em reconhecer que o era.
Se ele lhe mentia? Em alguns aspectos não, mas noutros... não se tratava de mentir mas de impossibilidade de assumir a verdade. Não, A não queria efectivamente envolver-se com B, apesar dele, com ar inocente lhe ter feito propostas e quase promessas. A não acreditava nelas porque soavam a algo estranho, envolto em pouca sinceridade, a loucura momentânea. Como era possível um tal discurso quando o passado era ainda presente?
O que a continuava a magoar e a desiludir era a facilidade do discurso, a fluência das palavras bonitas sem sinceridade, a ligeireza dos gestos, a ambiguidade das vontades e a incerteza dos actos. Mas porquê? Porque continuaria B a agir dessa forma com ela? Porque não se assumiria ele como era? A não entendia, mas isso também não interessava nada, não é? Para B, A era apenas mais uma carta que ele queria juntar ao baralho, um troféu que tinha de re-ganhar e nem percebia que isso não era importante.
A razão da desilusão de A era a atitude de B e o sentimento de falta de dignidade que ele lhe causava. Mas será que algum dia ele iria perceber isso? Talvez não, mas isso também não interessava nada...