domingo, 10 de outubro de 2004

As razões

As razões da desilusão não são sempre óbvias, directas e lineares. Passo a explicar: não é necessariamente o facto de B não gostar de A que faz com que A se desiluda, mas sim a atitude dúbia de B em relação a A. Afinal, A sempre teve consciência que B tinha um modo de vida que não se adequava ao que ela idealizava, pelo menos depois de B a ter feito sofrer de forma gratuita há um bom par de anos.
A não acreditava que B tivesse mudado e, apesar do mal que lhe causou no passado, e que ela não conseguia nem queria esquecer, quis saber dele e proporcionou uma reaproximação. O que a magoou e que continuava a magoar não era o facto de ele ser o protótipo do "malandro", e A não queria qualificá-lo de bom, porque não o poderia fazer, mas sim a incapacidade dele em reconhecer que o era.
Se ele lhe mentia? Em alguns aspectos não, mas noutros... não se tratava de mentir mas de impossibilidade de assumir a verdade. Não, A não queria efectivamente envolver-se com B, apesar dele, com ar inocente lhe ter feito propostas e quase promessas. A não acreditava nelas porque soavam a algo estranho, envolto em pouca sinceridade, a loucura momentânea. Como era possível um tal discurso quando o passado era ainda presente?
O que a continuava a magoar e a desiludir era a facilidade do discurso, a fluência das palavras bonitas sem sinceridade, a ligeireza dos gestos, a ambiguidade das vontades e a incerteza dos actos. Mas porquê? Porque continuaria B a agir dessa forma com ela? Porque não se assumiria ele como era? A não entendia, mas isso também não interessava nada, não é? Para B, A era apenas mais uma carta que ele queria juntar ao baralho, um troféu que tinha de re-ganhar e nem percebia que isso não era importante.
A razão da desilusão de A era a atitude de B e o sentimento de falta de dignidade que ele lhe causava. Mas será que algum dia ele iria perceber isso? Talvez não, mas isso também não interessava nada...

Manual de sobrevivência em meios socialmente hostis

Presenciando cenas pela manhã bem cedo recordo uma pessoa que conheci em São Tomé e Príncipe há uma eternidade e de quem perdi o rasto há ...